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Ações de estatais têm queda generalizada no 1º trimestre; vale investir? 

Vinícius Pereira

Colaboração para o UOL, em São Paulo

13/04/2021 04h00

O início do ano não foi favorável para as estatais que fazem parte do Ibovespa. Segundo levantamento da Economatica, as ações das companhias controladas pelo governo apresentaram queda generalizada de até 20%.

Falas do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), trocas de comando e possíveis interferências políticas em decisões de algumas dessas companhias geraram um alerta no mercado. Afinal, vale a pena comprar ações de companhias listadas na Bolsa de Valores de São Paulo e que pertencem majoritariamente ao Estado?

Especialistas consultados pelo UOL são céticos em relação às principais companhias estatais com capital aberto. Entenda abaixo o que eles disseram e se essas companhias devem entrar na carteira de investimentos.

Interferência política generalizada?

Para Eduardo Guimarães, especialista em ações da Levante, a intervenção de Bolsonaro na Petrobras — quando ocorreu a troca do ex-presidente da companhia Roberto Castello Branco pelo general Joaquim Silva e Luna — evidenciou que o governo pode fazer o mesmo com todas as companhias estatais e, por isso, o investimento nesse tipo de empresas não vale mais a pena.

Nós mudamos totalmente a nossa posição após o ocorrido na Petrobras. Tínhamos Petrobras e Banco do Brasil nas carteiras recomendadas, mas com esse exemplo resolvemos tirá-las. Ali houve uma guinada na promessa de campanha, de não-intervenção, que não será mais cumprida. É remotíssima a chance de qualquer privatização e teremos interferências em estatais, mudando resultados [das empresas].
Eduardo Guimarães, da Levante

Bruno Komura, estrategista de renda variável da Ouro Preto Investimentos, acredita que com a mudança na postura do governo em relação às estatais listadas na Bolsa, o desempenho dessas companhias deve ficar aquém do satisfatório para o curto e médio prazo. Já para o horizonte de mais de cinco anos, o investimento pode fazer sentido.

Provavelmente a política de intervenção continuará até o final deste mandato e, dependendo de como as eleições ocorram, provavelmente, o resultado não será muito bom para as estatais. Mas, para o longo prazo, não há como tocar uma empresa pública com tanto intervencionismo, por isso em algum momento isso deve parar.
Bruno Komura, da Ouro Preto

Segundo o analista, os preços das ações das empresas estatais atualmente condizem com os atuais riscos, mas podem oferecer uma oportunidade no longo prazo.

"Se você olhar o valuation [valor de mercado] dessas empresas hoje, em comparação com os pares, [o preço] está muito abaixo, mas para a situação atual faz sentido. Já olhando para o longo prazo, pode ser uma vantagem", afirma.

Estatais têm desempenho negativo

O desempenho das empresas estatais listadas na Bolsa durante o primeiro trimestre reflete as incertezas e mostram que o investimento nessas companhias não foi um bom negócio no curto prazo para os investidores.

De acordo com dados da consultoria Economatica, as empresas estatais que fazem parte do Ibovespa, o principal índice acionário da Bolsa, chegaram a cair quase 20% nos primeiros três meses do ano. Confira o desempenho de cada ação.

Copel e Sabesp: concorrentes são melhores oportunidades

Mesmo entre estatais menos conhecidas dos investidores em geral, como é o caso de Copel ou Sabesp, por exemplo, apesar de os especialistas ouvidos pelo UOL afirmarem que a possibilidade de intervenção de um governo estadual é menor, há outras empresas e setores mais bem posicionados e, por isso, empresas como Copel ou Sabesp não atraem a atenção neste momento.

Tem outras empresas melhores no setor elétrico, bancário, etc. Como as demais atuam muito em saneamento, por exemplo, eu acho que existem riscos grandes [para o investidor], pois essas empresas precisam se capitalizar para participar de qualquer leilão.
Eduardo Guimarães, da Levante

BB, Eletrobras e Petrobras possuem riscos maiores

Entre os papéis mais conhecidos, as ações de Banco do Brasil, Eletrobras e Petrobras são as que mais podem sofrer com novas possíveis interferências do governo Bolsonaro.

De acordo com Bruno Komura, da Ouro Preto Investimentos, o governo não deve privatizar a Eletrobras tão cedo e também impedirá que o Banco do Brasil enxugue a estrutura administrativa da companhia — o que geraria valor aos acionistas. Assim, a Petrobras aparece como a única que pode apresentar um bom desempenho, a depender, é claro, do nível de interferência.

Acho que a Petrobras pode ser um pouco melhor entre as três citadas, pois o novo presidente tem dado declarações em direção ao mercado. Eletrobras ainda terá bastante discussão sobre a privatização, que nem sempre é popular em bases eleitorais, e o BB teve mudanças de planos para ser eficiente, o que é uma tendência no mercado brasileiro.
Bruno Komura, da Ouro Preto Investimentos

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