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7 motivos para o investidor ficar atento à CPI da Covid

Raphael Coraccini

Colaboração para o UOL, em São Paulo

06/05/2021 13h16Atualizada em 07/05/2021 10h16

Nesta semana, começaram os depoimentos da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) que investiga a ação do governo federal - e de maneira lateral, dos governos estaduais - no combate à pandemia da covid-19. Já foram ouvidos os ex-ministros da Saúde Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, e o atual ministro da pasta, Marcelo Queiroga.

Diante das declarações que têm sido vistas, o mercado vem reagindo e o já instável cenário político brasileiro ganhou mais variáveis para o investidor decifrar. Entenda abaixo os motivos que os analistas consideram mais relevantes sobre a CPI da Covid, e que precisam ganhar a atenção dos investidores.

1. Atraso na agenda de reformas

O assunto mais comentado pelos analistas do mercado financeiro é um eventual atraso na agenda de reformas, que já estava caminhando devagar, causado pela ocupação da pauta do Senado pela CPI. Esse é um ponto importante que afeta as decisões dos investidores.

Conrado Magalhães, analista político da Guide Investimentos, diz que os investidores devem se atentar à maneira como a comissão pode afetar todo o ambiente político e "eventualmente, comprometer a evolução de pautas prioritárias, que são as reformas administrativa e tributária".

Magalhães ressalta que a reforma tributária é uma medida importante para melhorar a produtividade de todas as empresas, em especial, das que atuam na Bolsa de Valores. A reforma administrativa, por sua vez, está sendo apresentada como essencial para aprofundar o controle sobre os gastos públicos e garantir o papel do estado como bom pagador de quem adquire seus títulos.

2. Visão do Brasil no exterior

Se, por um lado, a CPI dificulta a articulação de reformas, por outro, ela pode mostrar "ao investidor estrangeiro que o Brasil tem instituições fortes, um sistema de pesos e contrapesos, uma democracia robusta, com divisões de poderes", avalia Magalhães.

Para o professor e diretor do curso de Economia da PUC, Antonio Corrêa de Lacerda, a CPI é necessária para avaliar as falhas do governo na condução da pandemia. Para ele, "à medida que os erros forem corrigidos, a confiança dos investidores pode ser restabelecida", inclusive dos estrangeiros, que estão de olho no papel do Brasil como foco do surgimento de novas cepas do coronavírus.

3. Risco (baixo) de impeachment

Também existe a possibilidade, segundo Magalhães, de surgir alguma acusação bombástica contra o presidente da república, Jair Bolsonaro (sem partido), "que possa fundamentar um processo de impeachment, assustar o mercado e afetar o direcionamento do pregão no dia [na Bolsa]. Mas enxergo esse último cenário como pouco provável".

José Luiz Rossi, economista da InvestMind, também alerta para o risco de impeachment, que apesar de distante, não pode ser desconsiderado, principalmente por quem quer investir. "Um cenário de aproximação de um impedimento do presidente Jair Bolsonaro poderia gerar muita turbulência no preço dos ativos", avalia.

4. Perda de capital político do presidente

O economista-chefe da Necton, André Perfeito, descarta qualquer risco de impeachment, segundo ele, porque "ninguém que está na CPI quer levar até as últimas consequências".

Porém, esse momento de exposição do presidente tende a reduzir a capacidade do Executivo de fazer as reformas que o mercado está demandando. "O presidente sob pressão é bastante agressivo, e isso desgasta o capital político dele", diz Perfeito, o que dificulta a articulação necessária para aprovar as reformas no Congresso.

Para o economista, apesar do cenário turbulento, o investidor não deve sofrer com muitas oscilações no mercado no curto prazo por ocasião da CPI. O cenário de instabilidade, que é muito pouco agradável para o investidor, já está estabelecido, independentemente dos frutos da comissão, avalia.

Por outro lado, diz Perfeito, também não há grandes perspectivas de que a CPI consiga melhorar a ação governamental na condução da pandemia. "O enfrentamento da pandemia não foi o melhor possível, mas essa CPI não vai conseguir também acelerar o processo de vacinação e reabertura".

5. Cenário incerto para o mercado de ações

O sócio fundador da Ébano Investimentos, Peterson Martins, avalia que o cenário de valorização da Bolsa, retomado nos últimos meses, pode ser afetado pela turbulência de uma CPI.

Ele lembra que os investimentos em renda variável estão sendo beneficiados por fatores externos, como a valorização das commodities, mas que incertezas internas podem "acelerar a tendência de aumento de juros e o retorno dos investimentos para a renda fixa".

Vale lembrar que o Banco Central elevou a taxa básica de juros para 3,5% ao ano, na última quarta (4), e sinalizou que novos aumentos, na mesma magnitude, devem acontecer.

6. Impacto no cenário eleitoral para 2022

Para Martins, a CPI indica um cenário de "abalo no nome do Bolsonaro, o que traz incertezas" para o ano eleitoral de 2022 e para a continuidade não só da agenda de reformas, mas também do teto de gastos.

Na visão dele, o principal oponente, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), pode representar um "aumento do risco fiscal", com aumento dos gastos públicos e uma terceira via não se mostrou viável eleitoralmente até agora.

7. Correção de rota

Para o economista e professor da PUC-SP Antonio Corrêa de Lacerda, a CPI tende a ter efeitos positivos no que abrange a qualidade dos investimentos no país. Ela pode "colaborar para que o governo faça uma revisão dos erros no enfrentamento à pandemia", o que seria importante para a retomada dos investimentos de vulto.

Com relação às aplicações financeiras, o professor avalia que elas podem sofrer com a volatilidade causada pela CPI em um primeiro momento, "mas não creio que isso afete no longo prazo", diz Lacerda.

Para ele, essa volatilidade ocorre principalmente com relação a juros futuros, Bolsa e câmbio. Isso acontece porque o mercado "tenta precificar" o tamanho do impacto da CPI no cenário econômico, diz o professor. Mas o efeito duradouro da CPI pode ser de correção dos erros de gestão da pandemia, o que "tende a ser favorável, porque à medida que isso for corrigido, os investimentos são retomados", avalia

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