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9 lições de Warren Buffett para quem quer começar a investir

Raphael Coraccini

Colaboração para o UOL, em São Paulo

22/05/2021 04h00

Na arena dos investimentos, há um jogador seguido de perto pelos adversários. Qualquer movimento seu é acompanhado com admiração e curiosidade pelo público. Warren Buffett ganhou o apelido de Oráculo de Omaha, cidade onde nasceu (Nebraska, EUA) por sua capacidade de enxergar o que muita gente não vê no mercado de ação. E tem sido muito bem remunerado por isso há mais de 60 anos, a ponto de estar entre os homens mais ricos do mundo. Segundo levantamento da Forbes de 2021, ele ocupa a sexta posição, com US$ 96 bilhões.

O jogador de 90 anos já nomeou seu substituto: Greg Abel deverá substitui-lo como CEO da Berkshire Hathaway assim que o titular absoluto resolver abdicar da posição. Porém, Buffett não dá o menor sinal de querer abandonar os gramados tão cedo. Ele continua sendo a maior referência do mercado financeiro no mundo, movimentando multidões na direção de alguns ativos, e para longe de outros.

Confira 9 lições deixadas pelo Oráculo de Omaha aos investidores, resgatadas de suas mais célebres entrevistas e das cartas que, anualmente, ele direciona aos investidores da Berkshire Hathaway.

1. Cuidado com os conglomerados empresariais

Sim, Buffett pede cuidado com as ações da sua classe empresarial. Apesar de ser dono de um conglomerado de empresas, dos maiores do mundo, Buffett faz ressalvas quanto a essas corporações, em especial, as ascendentes. Ele afirma que todo conglomerado quer adquirir empresas na totalidade, mas a maioria dos negócios verdadeiramente lucrativos não tem interesse em serem comprados.

Consequentemente, os conglomerados "tiveram que se concentrar em empresas moderadas, que carecem de vantagens competitivas importantes e duráveis", diz Buffett em carta aos investidores publicada neste ano. A lição que fica para quem investe ou quer investir aqui é que nem todo negócio adquirido pelas empresas ajuda tornar essas empresas bons investimentos.

2. Entenda que ações não são apostas de curto prazo

Na primeira metade do século 20, havia uma percepção entre os investidores norte-americanos de que a compra de ações era algo especulativo e os títulos, esses sim, eram investimentos sérios, lembra Buffett em sua carta aos investidores de 2020. Muitas empresas se preocupam em distribuir os lucros aos acionistas rápido.

O megainvestidor acredita na tese do reinvestimento: ele prefere empresas que se preocupam em reinvestir no próprio negócio àquelas que distribuem lucros tão logo elas o conseguem. "O reinvestimento em ativos operacionais produtivos permanecerá para sempre nossa principal prioridade", afirma.

Para ele, empresas que fazem isso focam no crescimento de longo prazo e ganham mais por isso. O investidor que acompanhar essa lógica também pode ganhar mais.

3. Tenha paciência, mesmo diante de ganhos extraordinários

A empresa de Buffet detém 5,7% das ações da Apple. Em agosto de 2018, o valor de mercado da Apple bateu US$ 1 trilhão, primeira empresa a chegar a esse patamar —o que poderia indicar o momento para vender as ações e lucrar, mas Buffett preferiu esperar. Dois anos depois, a empresa dobrou seu valor de mercado.

Essa crença no investimento em boas ideias a custo da realização de lucros imediatos rendeu à Berkshire ganhos não realizados (ou seja, a empresa não vendeu as ações) de US$ 53,7 bilhões em 2019, mais da metade do resultado total da empresa de Buffett daquele ano, de US$ 81,4 bilhões.

4. Olhe o lucro das empresas; esqueça os outros indicadores

Buffett alerta, na carta de 2019, que lucro não é a variável mais elogiada por banqueiros de Wall Street e por uma parcela de CEOs, que preferem se ater a outros indicadores. "Muitas vezes, suas apresentações focam no 'ebtida ajustado', uma medida que redefine 'ganhos' para excluir uma variedade de custos muito reais".

Para o megainvestidor, o lucro importa, e outros indicadores passam uma visão limitada para o investidor sobre a qualidade do negócio.

5. Preço das ações importa sim

Entre as variáveis que geram valor para a Berkshire, uma delas, destacada por Buffett na carta de 2018, é o preço de compra de um ativo —ação, fundo, ou título. Não basta que esse ativo seja bom, ele precisa ter um preço interessante, que possibilite ganhos.

Em 2017, os preços inflacionados se tornaram "uma barreira para praticamente todos os negócios que analisamos", disse Buffett. Por outro lado, "o preço parecia quase irrelevante para um exército de compradores otimistas". Nadando contra a maré, a Berkshire trancou o cofre, esperando a onda de otimismo excessivo perder altura.

6. Quanto maior o otimismo geral, maior deve ser o cuidado individual

Durante o frenesi, pedir serenidade a banqueiros e executivos "é um pouco como dizer ao seu filho adolescente que está amadurecendo para ter uma vida sexual normal", brinca o CEO da Berkshire. "Uma vez que um CEO anseia por um negócio, ele nunca deixará de ter previsões que justifiquem a compra".

Diante das aquisições pouco criteriosas das empresas, com fusões e aquisições feitas à base da alavancagem (impulsionadas por crédito barato), Buffett pede um comportamento ponderado por parte do investidor. "Quanto menor a prudência com que os outros conduzem os seus negócios, maior é a prudência com que devemos conduzir os nossos", avalia.

Ou seja: não entre na manada mesmo nos melhores momentos do mercado. Respire e avalie o investimento que vai fazer com cuidado e calma.

7. Diversifique para garantir margem de manobra

Buffett ressalta que diversificar permite fazer movimentos rápidos no mercado quando uma grande oportunidade aparece. "Woody Allen certa vez explicou que a vantagem de ser bissexual é que duplica sua chance de encontrar um par no sábado à noite".

O investidor usa a frase célebre do cineasta norte-americano para fazer um paralelo com a postura da Berkshire ao buscar parceiros no mercado, e que é uma das lições mais importantes para o investidor, principalmente aquele que está começando.

Muitas vezes, a empresa entra em um negócio sem ter o controle, deixando que os donos mantenham a gestão, algo pouco comum nos conglomerados. Isso permite a Buffett ampliar seu leque de opções, pois paga um preço menor para entrar nessas empresas, não precisa investir tanta energia para a gestão e, com isso, ainda sobra recursos para investir em oportunidades, tão logo elas surjam.

8. Prepare-se mentalmente e financeiramente para as oportunidades

Uma das lições de Buffett na carta que endereçou aos investidores da Berkshire em 2017 é a que não existe "nenhum plano mágico para adicionar ganhos, exceto sonhar alto e estar mentalmente e financeiramente preparado para agir rápido quando as oportunidades se apresentam".

Em 2016, a Berkshire foi a empresa que mais reteve lucros nos Estados Unidos, avaliando que ainda não era o momento certo para agir, preparando-se para a hora exata.

Ele reforça dizendo que, a cada década, mais ou menos, os períodos de turbulência se apresentarão. Nesses momentos, "nuvens negras encherão os céus econômicos, e por um breve período choverá ouro. Quando chuvas desse tipo ocorrem, é imperativo correr para fora carregando banheiras, não colheres de chá", avalia.

9. Não siga conselhos sobre dinheiro de quem não ganha dinheiro

"Eu não presto nenhuma atenção ao que os economistas dizem". A afirmação é forte, mas saiu da boca de Buffett em uma entrevista à rede americana CNBC, em 2016. Ele acrescentou que não confia nos economistas e deixou claro o seu motivo: "você pode citar um economista muito rico, que já ganhou dinheiro com títulos? Não".

"Se você olhar para toda a história, eles (os economistas) não ganham muito dinheiro comprando e vendendo ações, mas as pessoas que compram e vendem ações os ouvem. Tenho um pouco de dificuldade com isso", acrescentou o investidor.

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