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Nubank, PagSeguro, 99: vale investir nos 'unicórnios' brasileiros?

Mitchel Diniz

Colaboração para o UOL, em São Paulo

08/07/2021 04h00

Empresas de tecnologia que crescem rápido e são avaliadas em mais de US$ 1 bilhão podem até ser mais comuns hoje em dia, mas em 2013 era algo tão raro de se ver que essas startups passaram a ser chamadas de "unicórnios". O termo foi inventado pela investidora norte-americana Aileen Lee e, desde então, empresas brasileiras como PagSeguro, Nubank e 99 entraram para esse grupo seleto.

Mas será que é possível investir em unicórnios e ganhar com eles? Sim, porém não do jeito mais convencional. Os unicórnios brasileiros têm ações negociadas nas Bolsas dos Estados Unidos. Essas empresas abriram capital no exterior para atrair o investimento de fundos especializados em tecnologia que praticamente não existem no Brasil.

Atualmente o investidor brasileiro tem duas formas de investir em unicórnios listados em Bolsa. Uma delas é comprando BDRs, recibos das ações negociadas no exterior disponíveis na Bolsa brasileira; e também comprando diretamente esses papéis por meio de corretoras estrangeiras. Veja abaixo quem são os unicórnios brasileiros disponíveis na Bolsa e saiba se vale a pena mesmo investir neles.

PagSeguro (PAGS34): empresa dobrou de tamanho na Bolsa

O PagSeguro, empresa de meios eletrônicos de pagamento, se tornou um unicórnio quando estreou na Bolsa de Nova York, em janeiro de 2018. Na estreia, a empresa captou US$ 2,3 bilhões.

As ações foram lançadas a US$ 21,50 e hoje valem mais do que o dobro desse valor, acima de US$ 50.

A empresa foi o primeiro unicórnio brasileiro com BDRs negociados na B3, e cresceu acessando o comércio informal, onde as maquininhas de outras concorrentes até então não chegavam.

"Por atender a clientes com maior perfil de risco, a empresa ganhou em cima das taxas cobradas pelas operações com as maquininhas, que estão entre as maiores do mercado", afirma Richard Camargo, analista da Empiricus.

Mas, depois de dobrar de tamanho na Bolsa, o potencial de valorização das ações é menor, segundo o analista —o que também limita os ganhos para os investidores. As concorrentes do PagSeguro também estão de olho no segmento que a empresa dominou durante anos.

Stone (STOC31): até Warren Buffett comprou ações

Dez meses depois do PagSeguro, a Stone, empresa de maquininhas de cartão de crédito, também lançou ações na Nasdaq, a Bolsa dos EUA que reúne empresas de tecnologia. A empresa conseguiu captar US$ 1,2 bilhão, alcançando de vez seu status de unicórnio.

O megaempresário Warren Buffett foi um dos que compraram as ações e chegou a ter participação de 11% na sociedade, mas em maio deste ano ele se desfez de 25% delas. No mês passado, a B3 começou a negociar os BDRs da empresa.

Em maio de 2020, com o impacto da pandemia da covid-19 no comércio, a Stone chegou a demitir 20% dos seus funcionários. Os últimos dois balanços financeiros apresentados pela companhia neste ano também vieram abaixo do esperado pelos analistas.

Mesmo com algumas casas de investimento apostando na capacidade de a empresa retomar o crescimento, os papéis da Stone em Nova York caíram em torno de 20%. O investimento de US$ 2,5 bilhões que a empresa fez no Banco Inter, que pretende fazer uma nova emissão de ações, adiciona complexidade ao futuro da empresa, dizem analistas.

Arco Educação (ARCE): unicórnio em um dia

A startup cearense de educação foi a primeira brasileira a estrear na Nasdaq. O volume de recursos captados foi menor que o das outras duas empresas, de US$ 194,5 milhões. Mas já no primeiro dia de negociações, a Arco ultrapassou US$ 1 bilhão em valor de mercado e virou unicórnio.

Só é possível comprar ações da empresa tendo conta em corretoras que operam nos EUA. Dentre os três unicórnios brasileiros nas bolsas norte-americana, a Arco Educação é a de menor apelo para os investidores, segundo especialistas. As ações da empresa chegaram a valer quase US$ 60 em 2020, mas hoje valem praticamente metade desse valor.

"As expectativas eram altas, mas a empresa não conseguiu entregar o que os investidores esperavam. Ela é uma companhia que vende sistemas educacionais e a demanda por esse tipo de produto é limitada", afirma Camargo, da Empiricus.

99: unicórnio antes da Bolsa

A empresa de aplicativo de transporte foi considerada o primeiro unicórnio brasileiro ao ser avaliada em mais de US$ 1 bilhão pela Didi, empresa chinesa que comprou o controle da startup.

No final do mês passado, a Didi lançou ações na Bolsa de Nova York e captou US$ 4,4 bilhões em recursos. A China fez um cerco às empresas do país que abriram capital nos Estados Unidos, e recentemente o aplicativo da Didi foi derrubado no país.

"Para quem quer investir na Didi mirando em 99, não vale a pena. A empresa brasileira tem uma participação muito pequena nos negócios da chinesa. O público da Didi está na China, que tem sérios problemas de regulação", afirma o analista da Empiricus.

Empresas crescem mais no exterior

Foi de olho no potencial de ganhos que as empresas preferiram abrir capital nos Estados Unidos. "Lá você tem fundos de investimentos especializados em tecnologia e que só compram ações de empresas em crescimento. É mais fácil a companhia triplicar de tamanho lá do que aqui", afirma Carlos Macedo, analista da Ohmresearch.

O fato de terem outras ex-startups de tecnologia consolidadas na Bolsa também ajuda os unicórnios brasileiros a subir de preço.

"Tem a questão da percepção do investidor. Lá você tem várias empresas de tecnologia que negociam múltiplos absurdos. Aqui os investidores ainda são céticos, não acreditam que uma ação pode se valorizar tanto", diz Macedo.

Brasileiros podem investir diretamente nas ações

"Para o brasileiro investir em tecnologia, tem que acessar o mercado americano. Mesmo que seja para ser sócio de uma empresa brasileira", afirma William Castro Alves, estrategista da Avenue Securities. A corretora com sede em Miami presta serviço para investidores brasileiros pessoa física que querem investir diretamente em ações listadas nos Estados Unidos.

"Os BDRs têm volume de negociação menor, não são negociados em feriados brasileiros e ainda têm um custo de pagamento de dividendo. Por isso, muitos investidores estão preferindo investir direto na ação", diz o estrategista.

Nubank: próximo unicórnio na Bolsa?

Alves afirma que o interesse dos investidores por ações de unicórnios brasileiros é grande e que muitas vezes ele é questionado sobre o IPO do Nubank, banco digital brasileiro avaliado atualmente em US$ 30 bilhões.

A empresa, que também tem a Berkshire Hathaway, de Warren Buffett, entre seus investidores, pode lançar ações no mercado norte-americano ainda este ano. O mercado especula que, com o IPO, o Nubank passaria a ser avaliado em US$ 40 bilhões.

Caso se confirme, o lançamento de ações do Nubank quebraria um jejum de três anos sem novos unicórnios brasileiros em Nova York. Oficialmente, a empresa não fala em prazos: diz apenas que vai fazer a operação "em algum momento".

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