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Dá para ganhar dinheiro com estes "fundos imobiliários" do agronegócio?

Mitchel Diniz

Colaboração para o UOL, em São Paulo

09/07/2021 04h00

O Fundo de Investimentos para o Setor Agropecuário, ou Fiagro, ainda não está disponível para os investidores, mas já deu muito o que falar. Desde que foi criado, em março deste ano, ele tem sido chamado de "primo" dos fundos imobiliários, pois vai poder ser utilizado no financiamento de imóveis rurais e outras atividades do setor agrícola, dando acesso a um número maior de investidores, incluindo estrangeiros.

"O Fiagro vai ser um produto mais adequado para aquisições de terras rurais", afirma Lucas Elmor, sócio e diretor de gestão da Hectare Capital. O problema é que a lei proíbe a aquisição e arrendamentos de terras por estrangeiros, e por esse motivo o Fiagro recebeu uma chuva de críticas, mas também de elogios.

Polêmicas à parte, o fundo quer se tornar uma alternativa de financiamento do agronegócio, que ainda depende muito dos bancos. Para o investidor, pode ser uma forma mais segura de investir no setor pelo mercado de renda variável, onde as cotas desses fundos serão negociadas. O UOL Economia+ ouviu analistas sobre oportunidades e os riscos do Fiagro. Veja abaixo o que eles disseram.

Fundos abrangem renda fixa e variável

A carteira de investimentos do Fiagro pode abranger diversos tipos de investimento, como imóveis rurais, participações em sociedades e títulos de créditos. As cotas do fundo serão negociadas no mercado de renda variável, assim como acontece com os fundos imobiliários, e o investidor não paga IR sobre os rendimentos.

Elmor explica que alguns fundos imobiliários já tinham imóveis rurais em suas carteiras. Porém, vai ser a primeira vez que o investidor poderá financiar toda a cadeia produtiva do agronegócio por meio de um fundo específico para isso.

"Os fundos imobiliários só podem investir em CRIs [certificados de recebíveis imobiliários] lastreados em recebíveis de imóveis rurais, mas a maior demanda para crédito no agronegócio está ligada à produção", afirma Elmor.

O Fiagro, por enquanto, existe só no papel. As gestoras esperam a regulamentação da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) para estruturar os primeiros fundos. Não há data definida para isso.

Atualmente, o pequeno investidor tem duas opções de investimento na renda fixa ligadas ao agronegócio e cujos rendimentos também são isentos de IR:

  • CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio) são títulos de crédito que permitem que empresas do setor e produtores agrícolas possam captar recursos com investidores no mercado de capitais
  • LCAs (Letras de Crédito do Agronegócio), emitidas por instituições financeiras. Os bancos ficam com o dinheiro do investidor e convertem os recursos em empréstimos para o setor agrícola

Fiagro ou CRA?

Para Andrea Di Sarno, sócio da Galápagos Capital, o Fiagro não compete com o CRA, mas ajuda o certificado de renda fixa a ganhar liquidez. Hoje, o investidor que aplica nesses títulos tem dificuldades para resgatar o dinheiro.

"O Fiagro deve estimular a entrada da pessoa física em fundos que têm CRAs, porque o valor desses títulos também é pouco acessível para o investidor comprar sozinho", afirma Di Sarno.

As LCAs também têm liquidez mais baixa do que outros ativos de renda fixa e não financiam diretamente o setor agrícola. Como o dinheiro investido fica com o banco emissor do título, a instituição financeira converte o recurso em crédito do agronegócio e decide para quem vai emprestar.

O retorno compensa o risco?

O setor do agronegócio é altamente impactado pela variação do dólar e condições climáticas, que são variáveis bem difíceis de prever e controlar. Mas como se trata de um fundo gerido por um profissional e com diferentes tipos de ativo na carteira, os riscos tendem a ser menores.

"Cada fundo vai mirar em uma rentabilidade diferente de acordo com seu objetivo e ativos que têm na carteira", diz Di Sarno.

Por se tratar de uma indústria nova, ainda faltam gestores especializados no assunto para gerenciar esses fundos. "Vejo uma escassez de profissionais capazes de olhar com viés financeiro para o agronegócio", declara Elmor.

Reforma tributária pode acabar com isenção

Quando o Fiagro foi aprovado no Congresso, os parlamentares derrubaram um veto presidencial que pretendia tributar os rendimentos ao investidor desse tipo de fundo.

Mas os analistas acreditam que a isenção pode acabar caso a reforma tributária proposta pelo governo seja aprovada. O texto propõe a tributação de fundos imobiliários, que costumavam atrair investidores justamente por não cobrar IR sobre os rendimentos.

"Apesar de o texto não citar diretamente o Fiagro, cita os fundos imobiliários, que passariam a ser tributados. Isso naturalmente é um risco de que se volte a tributar os dividendos do Fiagro", afirma o diretor da Hectare Capital.

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