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Analistas criticam recriação de ministério e dizem que pode elevar gastos

Mitchel Diniz

Colaboração para o UOL, em São Paulo

21/07/2021 15h53

Dois anos e meio depois de ser incorporado ao superministério da Economia, de Paulo Guedes, o Ministério do Trabalho será recriado, faltando pouco mais de um ano para as eleições presidenciais de 2022, como Ministério do Emprego da Previdência Social. Os analistas temem que a recriação da pasta possa elevar os gastos públicos por motivos puramente políticos, o que via de regra não é bem visto pelos investidores.

A extinção do ministério, no início do mandato do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) foi bem recebida à época pelo mercado, que apostava em um governo mais alinhado com a pauta liberal. Recriar a pasta agora, segundo analistas ouvidos pelo UOL, seria abraçar o populismo como estratégia para reeleição, e isso pode mexer com o mercado. Veja abaixo o que eles disseram.

Custos com recriação de ministério preocupam

Para Rodrigo Franchini, sócio da Monte Bravo, a recriação de um ministério traz um custo fixo e elevado para o governo, o que não é interessante no momento, já que aumentaria o nível de endividamento do país. Ele lembra que um dos nortes da campanha de Bolsonaro era justamente a redução no número de ministérios para enxugar a máquina pública.

"Para o mercado não é interessante ver um novo ministério sendo criado. Primeiro, porque tira poderes de outra pasta que estava fazendo um bom trabalho e também porque cria um gasto excessivo em cima de uma estrutura já capenga e cara", afirma Franchini.

Apoio para reformas impopulares?

O sócio da Monte Bravo afirma que voltar com o Ministério do Trabalho seria uma estratégia do governo para ganhar aliados na votação de reformas impopulares e do relatório final da CPI da Covid.

"Claramente teria um viés político forte nessa decisão e os investidores não gostam quando é assim. O mercado é técnico e gosta de questões sendo resolvidas de forma técnica", diz Franchini.

Pedro Paulo Silveira, economista-chefe da Nova Futura Gestora de Recursos, diz que recriar a pasta apagaria uma mensagem passada ao mercado há dois anos, quando o Trabalho foi integrado ao Ministério da Economia.

"O setor empresarial reagiu bem à ideia porque movimento sindical, leis trabalhistas e todas essas questões foram para debaixo da gestão do Paulo Guedes, que era visto como liberal. A mensagem agora para o mercado seria de um recuo dessa posição", afirma Silveira.

Mercado vai ficar de olho em promessas de campanha

Para o economista, a recriação do ministério pode passar a impressão de uma estratégia populista visando as eleições de 2022 e isso pode aumentar a percepção de risco sobre o governo.

Paulo Duarte, economista-chefe da Valor Investimentos, diz que o mercado deve avaliar se as promessas feitas durante a campanha presidencial estão sendo de fato cumpridas, como a pauta de privatizações e enxugamento da máquina pública.

"A recriação de um ministério, em um momento no qual a parte fiscal do país preocupa, não é só um problema orçamentário ou administrativo, mas também de mensagens que são passadas ao mercado e à sociedade sobre princípios fundamentais do governo", afirma Duarte.

Nova pasta pode ajudar a gerar mais emprego, diz analista

Leonardo Bracagioli, assessor da Ável Investimentos, diz que mesmo indo contra as promessas de campanha, o governo fica mais forte para avançar em reformas importantes, como a tributária e a administrativa, e também nas privatizações.

"A recriação do Ministério do Trabalho também pode ajudar a gerar mais empregos, o que pode ser bom para a retomada da economia", afirma Bracagioli.

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