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O que a quebra do Citibank nos anos 80 tem a ver com a economia brasileira

Do UOL, em São Paulo

16/08/2021 04h00

Em meio a crise financeira da década de 80 nos Estados Unidos, um gigante do setor financeiro, o Citibank, quebrou. O que essa história tem a ver com a economia brasileira?

Quem faz essa relação é José Roberto Securato, professor doutor titular da USP e da PUC-SP e criador do Laboratório de Finanças da FIA Business School, e Carlos Eduardo Furlanetti, professor dos cursos de Finanças do Labfin-Provar e FIA Online.

Com o aumento dos preços do petróleo, muitas dívidas foram contraídas, economias estagnaram, a inflação afetou o poder de compra, e levou a economia dos EUA para o buraco. A quebra do banco, segundo os professores, revela uma lição sobre a economia de um país, porque exemplifica na teoria e na prática a questão da garantia que uma nação pode proporcionar.

Ouça abaixo a conversa entre os professores. Esse podcast é oferecido pelo Laboratório de Finanças da FIA Business School e pelos cursos de Finanças da FIA Online para assinantes do UOL.

Começando a história pela moeda de troca

Por que um país cria um pedaço de papel com valor, o papel-moeda? Para facilitar a vida das pessoas em suas trocas comerciais, em vez de andar com um monte de ouro, prata para lá e para cá, por exemplo, ou qualquer outro elemento que tivesse algum valor.

Aquele que queria trigo não precisava mais negociar seu gado para conseguir, é o chamado escambo. O papel passou a servir às relações comerciais e financeiras, de compra e venda, separadamente. Inicialmente era uma espécie de vale para essas trocas e, tempos depois, a evolução fez com que esses vales virassem o dinheiro que se conhece hoje. O papel-moeda é a moeda escritural oficial de cada país.

Para se ter uma ideia dessa evolução, muito tempo antes de Cristo, a China usava conchas como moeda de troca. Houve uma época em que o sal também serviu como moeda de troca, inclusive, deriva daí a palavra salário.

E por que começar pela história da moeda de troca? Importante começar por aqui, uma vez que a quebra do banco norte-americano, em 1982, ocorreu em decorrência de uma moeda de troca chamada Petrodólar, que promoveu muitos investimentos e ao mesmo tempo uma grande queda.

O dólar como a principal moeda para a economia mundial

A partir da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), o dólar se tornou a moeda que correspondeu ao lastro do ouro.

Em seguida, com a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), que envolveu a maioria das nações do mundo, os Estados Unidos se consolidaram como uma potência mundial, e tornaram-se uma referência monetária. O dólar passou a ser a moeda acatada como confiável por outros países.

O mundo, então, se dividiu entre capitalistas e comunistas. Sendo, portanto, os Estados Unidos o grande capitalista, com a principal moeda do mercado internacional: o dólar. Antes disso, a moeda forte era a libra esterlina, da Inglaterra.

Foram vários fatores que fizeram com que o dólar se tornasse tão importante para a economia mundial, passando a ditar o poder e o ritmo do mercado local e global.

1982, a alta do preço do petróleo e o petrodólar

Em 1982, o preço do barril de petróleo foi para US$ 50 e a inflação norte-americana ficou em 12% ao ano. Entra em circulação o petrodólar, ou seja, dólares que foram gerados a partir do aumento de preço do petróleo. Um grande volume do petrodólar árabe foi investido nos Estados Unidos.

O mundo árabe, cheio de petrodólares, invade Nova York, passando a comprar praticamente tudo o que via pela frente, a consumir, a investir em títulos do Tesouro dos Estados Unidos, a comprar ações do Citibank. Com isso, o Citibank, passou a emprestar muito dinheiro, por acreditar nesse investimento.

Chegou a um ponto que, não tendo mais investidores considerados "prime", o Citibank começou a emprestar para países subdesenvolvidos ou países em desenvolvimento, como Brasil, México, Venezuela, Colômbia, Argentina entre outros, que se endividaram bastante.

A dívida do México, por exemplo, era de US$ 5 milhões; e o patrimônio do Citibank era de US$ 4 milhões. O México decidiu não pagar a sua dívida, e o Citibank ficou com um grande problema para arcar com as consequências da liberação de tantos créditos.

Nesse momento, o governo norte-americano assume o banco, paga as dívidas com suas reservas monetárias e, assim, foi ressuscitando o Citibank, que acabou se potencializando. Contudo, com uma nova crise, em 2008, o Citibank quebrou novamente, em decorrência do financiamento imobiliário, quando houve a crise do "subprime", que afetou o mundo.

A lição aprendida

Com o grande aumento no preço do barril do petróleo, em 1982, muitas dívidas locais e internacionais foram contraídas, economias estagnaram, a inflação afetou o poder de compra, e tantos outros reflexos decorrentes desse fato marcaram uma história que nos mostra uma lição extremamente importante sobre a economia de um país.

Toda nação deve cuidar da saúde, da educação e da segurança —três importantes pilares de uma sociedade—, e das demais necessidades básicas, que são direitos sociais; e por meio de suas reservas, todo país deve reverter casos de crises, como a quebra do Citibank e de tantos outros, destinando verba para cobrir os respectivos riscos.

Os impostos são cobrados para compor essa verba, e para suprir as necessidades básicas, como os riscos que o mercado, as empresas, os negócios, podem provocar. Os impostos têm uma importante função na economia de um país.

De acordo com o professor Furlanetti, essa história exemplifica na teoria e na prática a questão da garantia que uma nação pode proporcionar, e provoca uma reflexão sobre como seria se não houvesse proteção por parte do Estado, e das suas reservas monetárias, para garantir a manutenção das relações de confiança dentro das sociedades, e para garantir a estabilidade diante de uma quebra, como foi o caso do Citibank, em 1982 e em 2008.

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