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Com Taleban e China, Bolsa cai para o menor nível em 3 meses; veja por quê

Raphael Coraccini

Colaboração para o UOL, em São Paulo

16/08/2021 15h27Atualizada em 16/08/2021 18h53

O cenário político e econômico internacional ajudou a derrubar o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo. O índice fechou a sessão desta segunda (16) em queda de 1,66%, ficando abaixo dos 120 mil pontos depois de três meses. A última vez que o Ibovespa tinha caído abaixo deste patamar foi em 12 de maio, quando a inflação norte-americana registrou alta maior que o esperado e causou um temor de fuga de dólares do Brasil.

Desta vez, a piora no índice acompanhou dois fatos relevantes pelo mundo. O primeiro deles é a desaceleração do varejo e da indústria na China, maior parceiro comercial do Brasil. O segundo é a tomada do poder pelo Taleban no Afeganistão, alimentando as incertezas sobre o Oriente Médio e o preço do petróleo. Veja abaixo como esses assuntos estão afetando o mercado.

China: dados vieram abaixo do esperado

Os dados do comércio e da indústria na China vieram abaixo do esperado pelo mercado, mostrando uma desaceleração de dois importantes setores no país. Segundo a Agência Nacional de Estatísticas da China, em julho, as vendas do comércio cresceram 8,5% —número abaixo dos 12,1% do mês anterior e menor que os 11,4% esperados pelo mercado. A indústria, por sua vez, cresceu 6,4% —abaixo dos 8,3% do mês anterior e dos 7,8% esperados pelo mercado.

Para Filipe Fradinho, analista técnico da Clear Corretora, a dificuldade para retomar o patamar de crescimento pré-pandemia na China levanta suspeitas sobre a capacidade de outros países concretizarem suas projeções de retomada, o que pode impactar as perspectivas dos investidores no Brasil.

"A China é um dos países que mais crescem no mundo e quando ela tem um crescimento menor que o esperado você imagina que os países que estavam com dificuldades para crescer antes terão um caminho ainda mais difícil", afirma.

"Os dados abaixo da expectativa na China, tanto de vendas no varejo como de produção industrial, arrefecem o sentimento e as expectativas de uma recuperação econômica rápida no início de um mundo pós-covid", diz o analista de investimentos da Toro, João Vítor Freitas.

Para Jennie Li, estrategista de ações da XP, a desaceleração chinesa já era esperada porque os números produzidos no primeiro semestre foram em patamares muito elevados.

"O governo já havia dito que o crescimento não seria mais de dígitos duplos, como o do primeiro semestre", diz.

Segundo ela, o preço das commodities, que ajudou a elevar os resultados da Bolsa no Brasil, deve se estabilizar em patamares menores por conta do esfriamento da demanda no gigante asiático, o que não significa exatamente mudanças bruscas no desempenho das empresas brasileiras na Bolsa.

"Essa é a hora de diminuir um pouco a exposição em commodities, principalmente desses setores mais cíclicos, mas não significa retirá-las da carteira", afirma.

Taleban não deve afetar B3 no médio prazo, dizem analistas

A tomada de Cabul, capital do Afeganistão, pelo Taleban é outro assunto que mexe com a Bolsa. Segundo Fradinho, a notícia impacta diretamente o Brasil por conta do preço do petróleo.

"A Petrobras é um dos três ativos mais pesados na composição do Ibovespa e, por isso, o comportamento do preço do petróleo interfere muito na nossa Bolsa".

O analista diz, porém, que não é possível identificar ainda se os eventos tendem a impactar a Bolsa brasileira no médio e longo prazo.

Para Freitas, a tensão geopolítica após a ocupação do palácio do governo pelo grupo extremista no Afeganistão contribui para o mal-estar das bolsas internacionais e acaba contaminando o mercado por aqui também. Contudo, afirma, os impactos são apenas circunstanciais e não devem causar movimentações no médio e longo prazo para as empresas brasileiras.

Jennie Li, estrategista de ações da XP, aponta que a tomada de poder no Afeganistão adicionou um risco geopolítico aos negócios, mas ela não crê que isso deve interferir na bolsa brasileira de maneira relevante e permanente.

"O Afeganistão não é produtor de nenhuma grande commodity importante. O risco existe relacionado a ataques terroristas e enfraquece um pouco a posição de Biden como líder mundial. Essas são as preocupações, mas não vejo nada em curto prazo que cause grandes impactos às empresas", afirma.

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