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Bolsa é insensível ao desemprego, mas há ações que são afetadas; veja quais

Nivaldo Souza

Colaboração para o UOL, de São Paulo

19/08/2021 04h00

A elevada taxa de desemprego no Brasil, que ficou em 14,6% e atingiu 14,8 milhões de pessoas no trimestre encerrado em maio, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), ainda não preocupa investidores interessados em oportunidades de lucro na Bolsa, segundo analistas. Mas exige atenção na hora de aplicar em ações de empresas nacionais de alguns setores.

A avaliação é de analistas consultados pelo UOL sobre possíveis impactos no mercado de capitais da segunda maior taxa de desocupação desde 2012. Veja abaixo a relação entre Bolsa e mercado de trabalho, e quais setores são mais impactados pelo desemprego e que exigem atenção do investidor.

Bolsa é insensível ao desemprego

Segundo Rafael Leão, economista-chefe da consultoria Parallaxis Economia, existe uma "desconexão da Bolsa em relação à economia", por causa do peso de exportadoras de commodities na composição do Ibovespa.

"Bolsa não é PIB (Produto Interno Bruto), principalmente a Bolsa brasileira, cujo índice tem um percentual grande de commodities como minério de ferro e petróleo", afirma.

Rachel de Sá, economista-chefe da Rico Investimentos, avalia que o fato de 30% do Ibovespa ser composto por bancos e outros 30% por empresas de commodities, como a mineradora Vale, a Suzano e a Petrobras, torna a Bolsa insensível ao desemprego.

"Principalmente as empresas de commodities são pouco afetadas ou são afetadas indiretamente por questões tão específicas como o desemprego", afirma.

Ações de empresas de serviços e comércio são mais impactadas

Apesar dessa "insensibilidade", há setores que sentem a economia real e as ações das empresas desses segmentos, por consequência, podem ficar menos atrativas para os investidores. É o caso de ações de empresas de comércio e serviços.

Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos, sugere atenção em relação aos papéis de empresas de serviços e comércio. Os setores podem sofrer com a queda de consumo impulsionada pela perda de renda decorrente do desemprego elevado.

"Varejo e serviços são mais impactados por dependerem do consumo interno. O investidor estrangeiro, assim como o nacional, vai olhar para o crescimento e evitar explorar ações de empresas ligadas ao consumo doméstico", diz Camila.

Leão lista as seguradoras entre as empresas cujo impacto do desemprego pode afetar resultados financeiros e, consequentemente, o retorno sobre investimento. "O seguro está muito ligado a renda das pessoas", diz.

Retomada do emprego

O mercado trabalha com algumas projeções de melhora do cenário econômico com geração de emprego. Mas demora: numa das projeções, a taxa descerá para 13% no final do próximo ano.

"Só devemos ter o mercado de trabalho no patamar pré-pandemia no final do terceiro trimestre de 2022", afirma Rachel.

Até lá, o desemprego elevado indica que o desafio é assegurar uma rota de crescimento econômico a partir da atração de capital para investimento produtivo e em infraestrutura. Os economistas consideram as reformas administrativa e tributária como passos necessários para o país se tornar atrativo.

A resposta para o desemprego inclui, ainda, o controle da taxa básica de juros, a Selic, cujas altas recentes atraem capital meramente especulativo. O Banco Central já promoveu quatro elevações consecutivas da Selic neste ano.

A taxa está em 5,25% ao ano e o mercado estima que pode encerrar 2021 em 7,5%, como forma de pressionar a inflação para baixo. No acumulado de 12 meses, a inflação (IPCA) está em 8,99%, bastante acima dos 5,25% do teto da meta do BC.

"O país com uma taxa de juros mais alta tem um desafio para crescer e de [executar] investimento de longo prazo. É esse tipo de investimento que gera emprego", afirma Camila.

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