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Com PIB menor, quais setores ganham e perdem na Bolsa? Veja onde investir

Raphael Coraccini

Colaboração para o UOL, em São Paulo

02/09/2021 04h00

O Brasil andou de lado no segundo trimestre deste ano, com uma queda de 0,1% no PIB, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Os números apontam o agronegócio e a indústria como responsáveis por puxar o desempenho para baixo. O setor de serviços até cresceu, mas pouco perto do que esperava, o que reforça as dúvidas sobre o que deve vir pela frente no terceiro trimestre.

Analistas ouvidos pelo UOL apontam as perspectivas para o terceiro trimestre e o tamanho da influência da queda do PIB no desempenho das empresas na Bolsa daqui em diante. Leia abaixo quais setores ganham e quais perdem com o recuo da atividade econômica.

PIB fraco já está na conta da Bolsa

Para Flávio Conde, coordenador de análise da Levante, o desempenho ruim especialmente da indústria (-0,2%) e do agronegócio (-2,8%) não deve impactar de maneira relevante os resultados das empresas que operam em Bolsa porque esse desempenho já foi, em parte, precificado pela divulgação dos resultados das empresas.

Além disso, ele destaca que o desempenho das empresas do agronegócio que operam em Bolsa está majoritariamente relacionado ao exterior.

"O agro é muito grande, mas uma pequena parte está na Bolsa", afirma.

Quanto à indústria, Conde ressalta que o resultado no PIB está relacionado à falta de componentes no cenário internacional, mas que também nesse setor o impacto do consumo interno também é pequeno.

"As empresas com ações na Bolsa são grandes exportadoras, então, o impacto é reduzido", diz.

Para o analista, o resultado do PIB não tem, portanto, uma grande incidência sobre os resultados na Bolsa. Ele avalia que o desempenho abaixo dos 120 mil pontos está relacionado principalmente ao cenário político e ao aumento dos juros.

"As pesquisas dando o Lula como o vencedor no ano que vem estão deixando o investidor inseguro. Ele lê o jornal de manhã e vai ao trabalho desanimado. E, para piorar, tem uma inflação muito alta que vai exigir juros de 7,5%, o que começa a competir com a Bolsa", diz.

Leonardo Milane, sócio e economista da VLG Investimentos, lembra que o PIB é um indicador do passado e que antes de ser divulgado, o investidor já tinha precificado o desempenho das empresas no trimestre.

"A gente viu uma temporada de resultados boa para as empresas no segundo trimestre, os resultados do terceiro também não devem ser ruins. E a temporada de resultados sai antes do PIB", afirma.

Indústria e setor de energia podem perder na Bolsa

Daniel Xavier, economista sênior do Banco ABC Brasil, tem uma opinião diferente. Ele avalia que o setor de indústria de transformação deve recuar na Bolsa no próximo trimestre, muito por conta dos gargalos históricos do setor, mas também pelo aumento dos preços dos insumos —muitos deles importados e com seus preços atrelados ao dólar.

O economista ainda aponta que empresas de serviços básicos, como eletricidade, gás, água e esgoto, devem perder nos próximos meses.

Esses setores estão relacionados ao consumo das famílias, um componente do PIB que nem caiu e nem subiu no segundo trimestre. Segundo o especialista, o aumento de preços das contas básicas e o agravamento da crise hídrica reduz o consumo das famílias nesses itens e isso afeta as empresas listadas desses setores.

Quem pode ganhar?

Para Xavier, os subsetores de informação/comunicação, com crescimento de 5,6% no trimestre, e das indústrias extrativas, com alta de 5,3%, podem oferecer boas possibilidades na Bolsa pelos próximos três meses.

"No primeiro caso, trata-se de um segmento beneficiado pelo 'novo normal' da economia (pós-pandemia), com um maior consumo de serviços de tecnologia e vida online. Quanto ao setor extrativo, ele reflete a importância das commodities (minerais em especial), que têm sido bastante demandadas pela China", afirma Xavier.

Para Milane, o terceiro trimestre deve incluir no resultado das empresas o fim das restrições.

"O consumo das famílias deve ser melhor. Aí estou pensando em ações do setor de varejo, de shoppings, que devem chamar a atenção no próximo trimestre. Os papéis estão lá embaixo pelo consumo estagnado no segundo trimestre, e podem ser recuperar", afirma.

Setor de serviços pode continuar tendo um bom desempenho, segundo Milane. Ele se refere principalmente aos setores bancários ou mesmo da B3, que divulgou resultado recorde no trimestre, além do segmento de saúde, que já tem apresentado bons resultados e também deve ser favorecido com a reabertura.

Para Aldo Filho, analista da Aware Investments, "as empresas ligadas ao comércio e serviços poderão se beneficiar na retomada da economia interna" caso o consumo reprimido das famílias realize o potencial que tem de crescimento para o próximo trimestre.

Ele acredita que existe uma perspectiva de melhora para a indústria de transformação, "suprindo e preparando o setor de comércio e serviços para o quarto trimestre, quando há uma explosão do consumo, com recebimento de 13º, férias e festas de final de ano", afirma.

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