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Com juros em alta, é hora de deixar a Bolsa? Veja o que dizem especialistas

Raphael Coraccini

Colaboração para o UOL, em São Paulo

09/09/2021 04h00

Depois de uma redução histórica, a taxa de juros da economia voltou a crescer, e de maneira sustentável. A Selic passou de 2% ao ano no começo de 2021 para 5,25% ao ano em setembro. A projeção, segundo o Boletim Focus do Banco Central do último dia 6 de setembro, é de que a Selic finalize o ano a 7,63%. Esses aumentos fazem com que o investidor volte sua atenção, novamente, para os investimentos mais conservadores. Mas será que é o momento para sair a Bolsa e aproveitar os rendimentos atrelados aos juros?

Os especialistas em investimento Flávio Conde, que atua na Bolsa desde 1980, e Betina Roxo, uma das analistas mais influentes do país, comentam o cenário atual de juros e se é a hora de trocar os investimentos na Bolsa por uma carteira mais robusta na renda fixa. Eles participaram do Guia do Investidor UOL e falaram sobre a rentabilidade dos investimentos em renda fixa e renda variável. Veja abaixo.

Alta da Selic afeta a Bolsa, mas nem tanto

Para Flávio Conde, coordenador de análise da Levante Ideias de Investimentos, a alta da Selic tem efeito sobre a Bolsa, mas é menor do que a maioria dos investidores menos experientes imagina.

O impacto está em alguns setores específicos, como transmissoras de energia, shoppings e construtoras.

"Essas ações já estão refletindo esse desempenho (ruim, atrelado aos juros) e alguns desses setores estão tendo desempenho negativo", afirma.

Por outro lado, ele diz que os setores que estão mais protegidos do aumento dos juros são os exportadores de commodities, porque dependem do mercado externo.

Ele destaca algumas empresas que conseguem oferecer bons resultados, mesmo diante de uma alta taxa de juros: Vale (VALE3), CSN (CSNA3), Usiminas (USIM5), Suzano (SUZB3) e Klabin (KLBN4).

Para essas ações, é mais importante o câmbio do que os juros, destaca Conde, porque a desvalorização do real em relação ao dólar aumenta as vendas no mercado internacional e, portanto, favorece os resultados trimestrais dessas empresas, impactando diretamente o valor das ações.

Mas Conde alerta que a questão dos juros e a migração do investidor da Bolsa para a renda fixa não está centrada no patamar atual da Selic, em 5,25% ao ano. O que tem feito o investidor optar por outras opções é a expectativa de juros futuros, que tem colocado a rentabilidade de investimentos como o Tesouro Direto, por exemplo, próxima dos 10% ao ano.

Juros x inflação

Betina Roxo, estrategista-chefe da Rico Investimentos e sócia da XP, diz que é normal que investidores menos experientes associem juros maiores com menor atratividade da Bolsa. Essa relação pode se concretizar, diz a analista, mas depende de outros fatores e não apenas do aumento dos juros.

Antes de tirar conclusões sobre se a renda fixa está ultrapassando a rentabilidade de ações da Bolsa, é preciso comparar a taxa de juros com a inflação, que pode corroer a rentabilidade do investimento em renda fixa.

"A inflação está alta. E se a gente pensa em projeções para o fim do ano, a Selic pode bater 6,75% com uma inflação de 6,2%, o que faz com que o juro real fique próximo de zero", o que praticamente anula a rentabilidade para investimentos atrelados à Selic neste período.

Por isso, ela diz que é interessante ter ativos que garantam uma rentabilidade ainda que pequena, como os investimentos atrelados à Selic, mas que também componham a carteira investimentos que podem oferecer uma rentabilidade maior.

A Bolsa, portanto, segue sendo não só uma possibilidade, segundo Betina, mas uma tentativa de alcançar lucros maiores diante de um cenário de juros reais próximos a zero.

"E vale lembrar que as ações da Bolsa são das melhores empresas dos setores em que atuam. Elas repassam inflação e por isso são bons investimentos para inflação em alta", afirma.

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