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Bolsa em alta: 'recuo' de Bolsonaro não é único fator, dizem analistas

O "recuo" do presidente Jair Bolsonaro ajudou a Bolsa a subir, mas há outros motivos, dizem analistas - Marcos Corrêa/PR
O 'recuo' do presidente Jair Bolsonaro ajudou a Bolsa a subir, mas há outros motivos, dizem analistas Imagem: Marcos Corrêa/PR

Raphael Coraccini

Colaboração para o UOL, em São Paulo

13/09/2021 17h45

O mercado financeiro reagiu positivamente nesta segunda-feira (13), após fortes quedas verificadas nos últimos dias, provocadas pelas falas antidemocráticas do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), durante as manifestações de 7 de setembro, e pela perspectiva de uma greve de caminhoneiros.

Na sessão desta segunda (13), o Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, bateu alta de mais de 2,30% e fechou o dia com valorização de 1,85%, voltando aos 116 mil pontos. Especialistas ouvidos pelo UOL destacam os fatores que fizeram o mercado voltar a subir e dizem que há mais a ser comemorado pelos investidores que a mudança de postura do presidente. Entenda abaixo se a Bolsa entrou em um novo momento de alta.

Recuo do presidente melhora 'humor' do mercado

Para Heloise Sanchez, analista da Terra Investimentos, o mercado entendeu como uma postura sólida do presidente o recuo em relação às agressões contra o Poder Judiciário, feitas durante os atos de 7 de setembro. A analista diz que esse recuo "beneficia a todos os brasileiros, e auxilia na melhora do humor do mercado".

Ela afirma ainda que a carta de Bolsonaro, publicada na última quinta-feira (9), foi somada às falas do presidente em uma feira agropecuária no Rio Grande do Sul, no sábado (11). Na ocasião, o presidente teria dito que os três poderes precisam ser respeitados, segundo a analista. Isso contribuiu para um dia mais tranquilo na Bolsa nesta segunda, diz Heloise.

Foco em pautas econômicas

O retorno às pautas econômicas também beneficiaram a Bolsa, segundo avalia Luis Sales, estrategista-chefe da Guide Investimentos. Ele destaca como positiva a postura do ministro da Economia, Paulo Guedes, de retomar as conversas com o STF e com o Congresso para resolver a questão dos precatórios, em especial, no Senado, "onde a CPI da Covid tem travado boa parte das pautas econômicas".

Samuel Cunha, economista da assessoria de investimentos H3 Invest, diz que a mudança de postura do governo, e em especial do presidente, agrada o mercado porque pode trazer um ambiente mais favorável para votação não só dos precatórios, mas da reforma do Imposto de Renda, que foi aprovada no Câmara dos Deputados e está para ser avaliada no Senado, onde pode encontrar maior resistência.

Para Roberto Attuch, CEO da Ohmresearch, a valorização do Ibovespa também está relacionada "ao fracasso das manifestações no final de semana".

Ele avalia que há um desengajamento na discussão sobre o impeachment do presidente, o que poderia tumultuar o ambiente econômico e trazer ainda mais instabilidade ao mercado.

Cenário externo calmo contribuiu para a alta da Bolsa

Para os especialistas, a calmaria que voltou a reinar nos mercados internacionais nos últimos dias também colaborou para a retomada do Ibovespa.

Na semana passada, as preocupações no cenário global giraram em torno da possível redução de estímulos por parte dos bancos centrais ao setor de tecnologia, que fizeram com que os investidores migrassem para setores mais tradicionais.

"Essa semana o cenário ficou mais estável, sem nenhuma notícia que afetasse o mercado de maneira mais positiva ou negativa, com uma tendência de normalização", diz Cunha, da H3.

Na sexta-feira (10), o mercado já havia sinalizado uma retomada, mas a piora do cenário externo causou uma queda de quase 1% na Bolsa, até que os mercados internacionais voltassem a encontrar um mar mais calmo depois de cinco dias de queda na Bolsa norte-americana.

"Só esse bom humor lá fora já contribuiu para que a gente tivesse um sentimento mais positivo para as bolsas no mundo todo", afirma Pietra Guerra, especialista em ações da Clear Corretora.

A Bolsa vai voltar a subir agora?

Para Attuch, da Ohmresearch, o bom humor do investidor deve se consolidar nos próximos meses, mas ele não crê que o cenário seja tão positivo quanto o do começo do ano, principalmente por conta do aumento da inflação e dos juros. "Deve ter alguma recuperação na Bolsa, mas o cenário econômico está complicado e a economia está piorando", afirma.

Para Sales, da Guide Investimentos, um movimento de correção mais forte da Bolsa daqui em diante vai além do que ele chama de "trégua" de Bolsonaro, mas depende principalmente de avanços nas pautas econômicas.

"A gente acha que o viés é positivo. O pior, no sentido da disputa entre os poderes, parece ter ficado para trás", diz.

Heloise Sanchez, da Terra Investimentos, não inclui uma possível mudança do comportamento do presidente entre os fatores que podem voltar a prejudicar os investimentos. Para a analista, manifestações e pedidos de impeachment são os temores maiores, além de recuos nas reformas econômicas.

A perspectiva para os próximos meses, segundo a analista, é de que a Bolsa volte a patamares históricos. "Para o final de 2021, a Terra Investimentos mantém a previsão de 135 mil pontos do Ibovespa", afirma.

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