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O que são as stablecoins, as criptomoedas que os EUA querem regular?

Raphael Coraccini

Colaboração para o UOL, em São Paulo

29/09/2021 04h00

Os Estados Unidos podem regular algumas criptomoedas com a intenção de dar mais segurança ao mercado de criptoativos. Segundo o órgão correspondente à CVM nos Estados Unidos, o Securities and Exchange Comission (SEC), essa regulação deve incluir entre os itens prioritários as chamadas stablecoins.

Essas criptomoedas atrelam seu valor a moedas fiduciárias, como dólar, euro e real, por exemplo, e são alvo de grande preocupação dos reguladores norte-americanos. Especialistas ouvidos pelo UOL explicam o que são stablecoins, como elas atuam no mercado de criptoativos e como uma regulação mexeria com o investidor. Leia abaixo.

O que são as stablecoins?

As stablecoins servem para que operações possam ser facilitadas no meio digital, sem a necessidade de uso das moedas fiduciárias. Portanto, em vez de usar real ou dólar, quem compra alguma coisa no mundo digital pode recorrer a essa criptomoeda.

A stablecoin vale exatamente o mesmo que a moeda que serve como lastro. É essa paridade que o governo norte-americano quer controlar, para que não haja um descontrole no mercado de stablecoins.

Para os investidores, essas moedas servem para operar outras criptomoedas sem lastro, como ethereum (ETH) e bitcoin (BTC), sem a necessidade de fazer, a toda hora, a conversão para moedas fiduciárias (dólar e real, por exemplo), para a compra desses ativos — o que deixaria as operações mais caras e mais complexas.

Stablecoins ajudam a proteger carteira

Além disso, as stablecoins servem para proteger o investidor das oscilações do mercado. Para evitar deixar o dinheiro em moedas que oscilam muito ou se desvalorizam, como o real, é possível vendê-las em troca de stablecoins esperando que a instabilidade passe para comprá-las novamente. Na prática, é como comprar qualquer outra moeda para proteger sua carteira, como o dólar.

"Ela funciona quase como um dólar digital", diz Rodrigo Borges, analista de cripto da Ohmresearch.

"Às vezes, é difícil mandar dólar para a conta da exchange [espécie de corretora de criptomoedas]. Então, foram criados vários projetos de stablecoins com o valor lastreado para que o investidor possa mandar esse dólar digital para exchanges onde queira operar", afirma o especialista.

A ideia por trás das stablecoins, portanto, é facilitar a compra de outros criptoativos.

O Brasil tem a BRZ, que vale o mesmo que o real, mas o dólar norte-americano é a principal moeda de referência nesse mundo, e corresponde por cerca de 98% do mercado de stablecoins, segundo a Foxbit, uma das principais corretoras de criptomoedas do país.

As principais stablecoins do mercado hoje são a theter (USDT), USD coin (USDC) e a binance USD (BUSD).

Qual o risco de uma stablecoin?

João Canhada, CEO da Foxbit, reforça que as stablecoins não são criptomoedas comuns, como o bitcoin, porque não estão vulneráveis às grandes oscilações do mercado de criptos exatamente por acompanharem moedas fiduciárias.

"Ter uma stablecoin de dólar norte-americano na carteira, como a USDC, por exemplo, significa confiar em seu emissor, que ele é capaz de dar garantias a esse ativo, se tudo correr bem. É como ter dólares na carteira", diz Canhada.

Portanto, o risco está relacionado à capacidade de o emissor ter reserva suficiente em moeda fiduciária.

Borges, da Ohmresearch, diz que a USD coin, por exemplo, tem 100% do valor dos criptoativos em dólar norte-americano, mas a theter, que é a maior do mundo, possui apenas uma parte em dólar e a outra em títulos do tesouro norte-americano e de empresas.

"E existe a contestação contra a theter com relação ao valor desses títulos, se eles realmente estão pareados com o dólar", diz Borges.

A regulação pode ajudar o investidor?

Segundo Canhada, as stablecoins já existem em larga escala desde 2016 e a falta de regras governamentais não impediu, até agora, o progresso desse tipo de investimento.

"A diferença é que se operadas em um país com regras mínimas e transparentes essas moedas seriam consideradas mais seguras aos investidores", afirma.

Para o executivo, com a maturação do mercado, a tendência é de que o lastro seja um diferencial.

"O mercado vai escolher aquela moeda que consegue informar melhor sobre seus lastros e que traz transparência às suas operações", diz.

Para João Homem, trader e investidor profissional, a regulação reduz o risco do dinheiro do investidor virar pó do dia para a noite.

Sem regulação, acredita, o investidor precisa de um bocado de "fé" de que o emissor da stablecoin vai garantir o lastro necessário para a estabilização da criptomoeda.

"Regulamentar trará um nível de segurança que permitirá que mais pessoas possuam stablecoins com mais confiança", diz Homem.

Ele afirma ainda que uma eventual regulação poderá criar um cenário de compras favorável, com muito investidor novo entrando nesse mercado por conta do aumento da estabilidade.

Mas Canhada, da Foxbit, afirma que, mesmo com uma regulação, haveria riscos e dúvidas com relação ao lastro. O principal problema das stablecoins, segundo o executivo, não é a falta de regulação, mas, sim, a falta de detalhes sobre suas garantias.

"O que afeta normalmente essa cotação são dúvidas sobre o lastro. Não acredito que isso mude puramente por alguma canetada governamental", afirma.

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