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Como ficam as ações de GPA e Assaí após negócio com hipermercados Extra?

GPA vendeu lojas da bandeira Extra Hiper ao Assaí - Divulgação
GPA vendeu lojas da bandeira Extra Hiper ao Assaí Imagem: Divulgação

Fernando Barbosa

Colaboração para o UOL, em São Paulo

20/10/2021 04h00

O GPA, dono das marcas Pão de Açúcar, Minuto, Extra e Compre Bem, anunciou semana passada a venda de 71 lojas da bandeira Extra Hiper para o Assaí, um negócio de R$ 5,2 bilhões que marca a saída da companhia do setor de hipermercados.

Dessa forma, o GPA deve converter as outras 32 lojas restantes da bandeira em outros formatos, como lojas de bairro e supermercados. Nos próximos anos, o grupo prevê usar os R$ 4 bilhões em caixa —o R$ 1,2 bilhão restante será pago por um fundo imobiliário que tem garantia do Assaí— para inaugurar cem novas lojas do Pão de Açúcar e outras cem da rede Minuto, as unidades de bairro, acrescentando essas à sua base atual de 185 unidades.

No dia seguinte ao anúncio, as ações do GPA (PCAR3), dono do Pão de Açúcar, encerraram com alta de 11,85%. Por outro lado, os papéis do Assaí (ASAI3) fecharam em queda de 1,79% na B3.

Mas como ficam os papéis das duas empresas no mercado acionário? As ações devem se valorizar? Qual das duas companhias é mais vantajosa para o investidor? Veja o que dizem os analistas consultados pelo UOL.

Por que as empresas fizeram o negócio

Em entrevista ao UOL, o presidente do GPA, Jorge Faiçal, destacou que a dificuldade de operar o modelo de hipermercado já acontece há algum tempo. "Hipermercado é um formato desafiador com inflação e perde clientes há uma década", disse.

O problema foi agravado neste ano, com a alta de 10,25% do IPCA nos últimos 12 meses até setembro - no mesmo período, o setor de alimentos e bebidas acumula reajuste de 12,54%, segundo o IBGE. De acordo com o último relatório Focus, do Banco Central, a inflação deve encerrar o ano em 8,69%.

"O maior desafio que os supermercadistas estão passando esse ano é a inflação de alimentos", afirma Faiçal.

Já o Assaí, que faz parte do mesmo grupo controlador, o francês Casino, intensifica a estratégia agressiva de crescimento no atacarejo. Segundo Belmiro Gomes, presidente do Assaí, como muitas unidades estão posicionadas em regiões-chave de capitais e grandes cidades, "o maior desejo era pela localização dessas lojas".

"Mantemos a previsão de multiplicar as vendas em três. Por estarem em regiões mais centrais e adensadas, também vamos operar com margens melhores nessas lojas", disse Gomes.

Operação mais vantajosa para o GPA

Do ponto de vista do acionista, não há mudanças, uma vez que a transação ocorre somente no nível de balanço das companhias envolvidas.

Entre os analistas, o entendimento é que o negócio foi positivo para ambas as empresas. Ainda mais para o GPA, que agora pode reforçar a presença no segmento premium e a atuação com os minimercados no curto prazo.

"Com o dinheiro em caixa [o pagamento será feito de forma parcelada, entre dezembro de 2021 e janeiro de 2024], o Pão de Açúcar pode direcionar [os recursos] para alguma área que seja oportuna. Além disso, a empresa se livra de uma área que é uma verdadeira dor de cabeça e que tem sido deficitária há quase uma década", afirma o especialista de mercado da Guide Investimentos, Rodrigo Crespi.

O chefe de análise de ações da Órama Investimentos, Phil Soares, entende que há mais ganhos para o Pão de Açúcar. "O GPA é a empresa mais vantajosa. O controlador é o mesmo e o 'gap' de lucratividade pode ser revertido. O GPA tem uma receita maior e lucratividade equivalente, estando avaliada em um terço do valor de mercado do Assaí", ressalta.

Para o analista da Toro Investimentos Braulio Langer, o movimento dá ao GPA a possibilidade da expansão do seu e-commerce e contribui para a redução do endividamento e da necessidade de capital de giro da companhia. "Em um momento de pandemia, que provocou e aumento do consumo online, a operação é tida como bastante interessante para o GPA, posto que o segmento de atacarejo vinha sofrendo em rentabilidade", diz.

Operação cara? Mercado faz ressalvas ao Assaí

Analistas dizem que a operação também foi interessante para o Assaí, que tenta se contrapor ao Carrefour, que em março anunciou a compra do Grupo Big, ex-Walmart Brasil, por R$ 7,5 bilhões. Mas há ressalvas à rede de atacarejo.

A primeira delas é o preço pago pelo Extra Hiper. "O que preocupa o mercado são o valor das transações (mais de R$ 70 milhões por loja) e o momento em que a operação foi realizada. Na incerteza, o mercado penaliza as ações", explica Braulio Langer, da Toro Investimentos.

Em segundo lugar, o mercado avalia com cautela a reestruturação das lojas que entram para o portfólio. "O Assaí fica mais arriscado, porque fica mais endividado. Em paralelo, existe um risco de execução na conversão das lojas adquiridas", aponta Phil Soares, da Órama.

Apesar das incertezas, pesa a favor do Assaí o bom histórico de conversão dos hipermercados. "É muito importante para o atacarejo ter pontos em localizações estratégicas, e o Assaí tem se mostrado muito eficiente na conversão das lojas. Acredito que isso deve se repetir com as novas unidades e fortalecer a geração de receita do Assaí", declara Rodrigo Crespi, da Guide Investimentos.

Henrique Florentino, da Empiricus, diz acreditar que a estratégia é positiva a longo prazo.

"Claro que, quando olhamos os números das aquisições anteriores, pareceu um pouco caro para o Assaí. Mas, se colocar no histórico o que foi feito com as conversões dos hipermercados Extra em lojas do Assaí, em que o faturamento cresceu de duas a três vezes, isso pode sair bem barato em um segundo momento", diz.

Qual comprar?

Ele explica que o investidor deve avaliar seus objetivos e os momentos diferentes das empresas na hora de optar por um dos dois papéis.

"Quem prefere uma empresa que está apresentando crescimento deve preferir as ações do Assaí, enquanto quem busca desconto sobre valor do ativo, com gatilhos como a possível venda de participação na Cnova [e-commerce europe] ou algum desinvestimento do Grupo Éxito [varejista] na Colômbia, investe nas ações do Pão de Açúcar", afirma Florentino.

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Errata: este conteúdo foi atualizado
Uma versão anterior deste texto informava incorretamente que cada loja vendida saiu por mais de US$ 70 milhões. Na verdade, foram mais de R$ 70 milhões, em reais. A informação foi corrigida.