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Temor de interferência afasta investidor da Petrobras; ainda vale investir?

Fernando Barbosa

Colaboração para o UOL, em São Paulo

22/10/2021 04h00

A política de paridade de preços dos combustíveis entre o mercado externo e o interno tem ajudado a Petrobras a surfar o bom momento de valorização internacional do petróleo, o que beneficia o fluxo de caixa e o pagamento de dividendos aos seus acionistas. Ainda assim, o temor de interferência política leva o mercado a adotar uma posição conservadora sobre os papéis da estatal.

Com o dólar em ascensão - hoje acima de R$ 5,67 -, e o barril de petróleo do tipo Brent, referência global negociado em Londres, na casa dos US$ 85, a alta no valor dos combustíveis medida pelo IPCA soma 42,02% nos últimos 12 meses até setembro, segundo dados do IBGE. Esses fatores levaram as ações da empresa (PETR3) a registrar valorização de 48,6% nos últimos 12 meses — há um ano, o preço era de R$ 20,18. Já nas últimas semanas, têm oscilado entre R$ 28 e R$ 30.

É o momento de comprar ações da empresa, ou o temor de interferência política e o desejo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de privatizar a companhia a tornam uma má opção para os investidores? Veja abaixo o que disseram analistas ouvidos pelo UOL.

Eleições pesam negativamente na empresa

Segundo analistas, para os investidores, alguns aspectos pesam para afastar recomendações mais entusiasmadas pela aquisição das ações da empresa. São eles: a polarização acirrada no país, as eleições de 2022 à vista e o receio de mudança na política de preços.

Também entram nessa conta a possibilidade de greve dos caminhoneiros e até o temor de furo do teto fiscal.

O posicionamento de analistas consultados pelo UOL varia desde a compra tímida à preservação da Petrobras em carteira. Uma dica: para quem já possui as ações, a orientação é pensar no horizonte de longo prazo.

Por outro lado, a unanimidade é que clientes interessados no setor de petróleo e gás devem buscar alternativas.

Quadro é positivo, mas há ponderações

Pelo seu tamanho, a companhia é dividida em três áreas por analistas: derivados de combustíveis, comercialização de gás natural e exploração e produção de petróleo - esta última é a principal fonte de receita da empresa. Os três pilares passam por um momento favorável.

Matheus Spiess, analista da casa de research Empiricus, destaca que a empresa vem de uma reestruturação "muito positiva".

"A exploração e produção, depois da venda de ativos (refinarias) que não fazem parte do negócio principal da empresa, devem, com a alta do petróleo, executar uma boa operação e entregar bons resultados", afirma. Na Empiricus, a recomendação de compra não ultrapassa os 3% do total da carteira.

Com o retorno do consumo das famílias, o preço da commodity elevado e a forte desvalorização do real, a receita líquida da Petrobras atingiu R$ 196,8 bilhões nos primeiros seis meses deste ano, alta expressiva de 55,8% na comparação com igual período de 2020. E a perspectiva é de que os resultados também sejam saudáveis no terceiro trimestre.

Mas o sócio-fundador da Nord Research, Bruce Barbosa, faz ressalvas.

"As ações estão muito baratas e podem ter uma resposta muito forte no curto prazo. Assim como o governo pode prejudicar a empresa, também pode beneficiá-la. Eu simplesmente não quero correr o risco", diz. Ele mantém uma posição neutra para a estatal.

Barbosa explica que muitos perdem dinheiro tentando antever o que acontecerá com o Ibovespa, uma tarefa árdua mesmo para os mais experientes. "Antes de comprar as ações da Petrobras, é necessário ter uma ideia do que o governo vai fazer, o que é dificílimo", afirma.

Ilan Arbetman, analista de equity research da Ativa Investimentos, afirma que a dinâmica atual de petróleo é bastante interessante. Mas indica aos interessados no setor a procura por outras empresas, a exemplo da PetroRio (PRIO3).

"A recomendação para a Petrobras é neutra. Quem já tem as ações da companhia deve manter, e quem busca ativos deve procurar por outras histórias", diz.

Teto de gastos e ambiente político pesam contra

Os analistas são unânimes em dizer que a polarização acirrada no país e o debate antecipado a respeito das eleições pesam contra a gigante estatal. A avaliação é de que o governo tentará, de alguma forma, recuperar a popularidade perdida durante a pandemia.

"Em 2022, vai ficar arriscado investir em qualquer estatal, não só a Petrobras, até porque o governo que está aí quer ganhar as eleições e não tem uma plataforma política. Eles contavam com a economia, e parece que a economia não será uma aliada", afirma Bruce Barbosa, da Nord Research.

Nessa conta, os especialistas também consideram negativo a possibilidade de manobra sobre o teto de gastos. Após pressões da ala política do governo para bancar um Auxílio Brasil de R$ 400, o ministro Paulo Guedes falou em "licença para gastar R$ 30 bilhões fora do teto" em 2022.

"Quando há o furo do teto, manda-se a mensagem que o investidor não quer. Por mais que se tenha uma carteira diversificada, o furo do teto aumenta o risco sistemático, o que pesa na precificação de todos os ativos de um país ligados a essa questão", explica Ilan Arbetman, da Ativa Investimentos.

Ceticismo sobre greve dos caminhoneiros e privatização

Uma possível greve dos caminhoneiros não é descartada e pode impactar nos papéis da companhia. Entretanto, a tese é de que o movimento não consiga engajar toda a categoria, como fez em 2018. Assim, um eventual impacto não deve ser semelhante.

O ceticismo também é encarado quando o assunto é a privatização da Petrobras. Na última semana, a possibilidade foi aventada pelo presidente Jair Bolsonaro justamente depois que os aumentos de preço da gasolina afetaram a sua popularidade.

Prova de que isso não deve ocorrer foi a fala de ontem (20) do ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, de que "não há nenhum estudo no âmbito do governo" a respeito do tema.

"Não acho que uma possível privatização da Petrobras deve ocorrer nos próximos anos. O mercado não leva a sério essa possibilidade", afirma Matheus Spiess, da Empiricus.

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