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Lojas Americanas: Com fusão e entrada na Bolsa nos EUA, vale investir?

Paula Pacheco

Colaboração para o UOL, em São Paulo

23/10/2021 04h00

Um comunicado divulgado no dia 19 de outubro deixou incertezas no ar sobre as ações das Americanas S.A. (ex-B2W) e das Lojas Americanas. O texto informa que está em estudo a possibilidade de unir as bases acionárias das duas companhias e a sua listagem no Novo Mercado —segmento da Bolsa que reúne as empresas com os melhores níveis de governança corporativa. O martelo ainda não foi batido.

O que se sabe até agora é que essa união, caso se confirme, precederia a migração da base acionária da empresa para uma nova sociedade, com papéis negociados em Nova York — na Nasdaq ou na NYSE.

As duas empresas já vinham de mudanças que ainda estavam sendo digeridas pelo mercado. Em julho, as lojas e a operação on-line passaram a integrar a Americanas S.A.. Já a Lojas Americanas se tornou a holding. A operação teve impacto nas ações de ambas as companhias, que vêm perdendo valor, por isso a recomendação dos analistas é agir com cautela. Leia mais abaixo antes de investir.

Analistas recomendam cautela aos investidores

"Apesar de termos recomendação neutra para Americanas S.A. por estarmos cautelosos com as possíveis consequências da dinâmica mais agressiva para ganho de participação de mercado da companhia, entendemos que os papéis da empresa sofreram uma pressão exacerbada após a fusão com a B2W e esperamos que essa diferença seja ajustada em algum momento", diz Pedro Serra, gerente de research da Ativa Investimentos.

Os controladores não divulgaram como será feita a junção das bases acionárias. As regras do mercado brasileiro permitem algumas possibilidades.

Uma delas seria a oferta de recompra dos papéis feita pelos controladores com o pagamento de um prêmio (uma espécie de compensação) para os acionistas.

"Caso a combinação de bases acionárias seja concretizada, com a relação de troca favorável, enxergamos valor na operação, sobretudo para os acionistas de Lojas Americanas, uma vez que a estrutura societária será simplificada com a eliminação da holding e o desconto aplicado nas ações deve deixar de existir", afirma Serra.

Além disso, diz, a entrada da empresa no Novo Mercado melhora o nível de governança corporativa da empresa, o que foi uma das preocupações do mercado quando a reestruturação societária foi anunciada.

Oferta de BDRs na Bolsa brasileira é outra opção

Outro caminho para os controladores seria a conversão dos papéis da nova base de ações em Brazilian Depositary Receipts, os BDRs — certificados de depósitos de valores mobiliários, emitidos no Brasil, que representam ações de empresas listadas em Bolsas no exterior. Na prática, o investidor passa a deter, indiretamente, papéis de companhias listadas em outro país.

No entanto, os BDRs não têm o mesmo peso das ações, como poder de voto numa assembleia. Mas o acionista, de posse do certificado, tem o direito de trocá-lo pelo equivalente a ações negociadas na Bolsa norte-americana. Para isso, é preciso informar a corretora no Brasil, que vai comunicar a B3. A Bolsa brasileira, por sua vez, repassa a ordem de troca para a gestora que emitiu as ações no exterior.

Para o investidor, explica Guilherme Zanin, analista da corretora Avenue, trocar BDRs por ações pode não ser tão simples, já que vai exigir um olhar mais apurado sobre os ativos.

"BDRs são recibos consolidados numa corretora no Brasil, o que acaba sendo mais fácil para quem não quer ficar acompanhando o seu desempenho. Além disso, a regra prevê que a corretora [estrangeira, se o investidor decidir aplicar diretamente lá fora] fique com 5% sobre todo dividendo pago pela companhia", diz.

No entanto, quem se torna acionista no exterior, apesar da complexidade inicial de abertura de uma conta em uma corretora de fora, vai ter o patrimônio protegido em dólar.

Tem as ações das empresas? Veja o que fazer

Mas o que os detentores de papéis das duas companhias devem fazer até que haja uma definição?

Para Zanin, "em tese, é melhor permanecer com ações e esperar pela oferta. Se for proposta a recompra, o investidor tende a ganhar com o prêmio oferecido."

No entanto, existe o risco de o valor das ações encolher até que seja oferecida essa opção. Se a desvalorização for expressiva, o valor adicional pelo controlador pode não compensar a perda com as ações.

Se os controladores confirmarem a ida para uma das Bolsas norte-americanas, as perspectivas podem ser boas, segundo Zanin.

"Há muitas variáveis, mas o fato é que, quando se pensa no longo prazo, faz sentido para a empresa optar por ser listada no exterior. Hoje o ambiente econômico brasileiro deixa a desejar."

Nicolas Farto, especialista em renda variável da Renova Invest, escritório plugado ao BTG Pactual, também acredita que a migração da negociação dos papéis da companhia para uma das Bolsas dos EUA pode ser positiva.

"Uma listagem lá fora tende a ser melhor, dado que a empresa passa a ter uma exposição global, uma negociação mais transparente, uma liquidez maior."

A Renova Invest ainda não fez a revisão do preço-alvo dos papéis das duas companhias, mas outras instituições financeiras, como Bradesco e JP Morgan, apontam para um cenário favorável de valorização, segundo cita Farto.

"Todo mundo concorda que o papel das Lojas Americanas (LAME4) está sendo negociado com desconto em relação a Americanas (AMER3), em torno de 25% a 29%, e que esse número deve se corrigir", diz.

Na Ativa também não foi feito o recálculo, por isso o preço-alvo apontado pela empresa é ainda de R$ 57,70.

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