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Investimentos no exterior crescem até 1.400% em um ano; vale entrar agora?

Ações e índices de Bolsas estrangeiras ganham mercado no Brasil e sobem mais que Ibovespa - Getty Images/iStockphoto
Ações e índices de Bolsas estrangeiras ganham mercado no Brasil e sobem mais que Ibovespa Imagem: Getty Images/iStockphoto

João José Oliveira

Do UOL, em São Paulo

30/11/2021 04h00

Os investimentos feitos por brasileiros em empresas e Bolsas internacionais mudaram de patamar depois que novas regras facilitaram o acesso do pequeno investidor a esses mercados. Desde outubro de 2020, o total de brasileiros que aplicam em ETFs (Exchange Traded Fund), fundos de investimento que acompanham índices, aumentou 96%. Já o salto em BDRs (Brazilian Depositary Receipts), recibos de ações, foi ainda mais forte: de 1.414%, segundo dados da B3.

Além de novos investidores, tais crescimentos são uma consequência da valorização destes ativos, que estão batendo o Ibovespa, por exemplo. Em apenas 13 meses, o volume aplicado em ETFs dobrou, para R$ 10 bilhões, enquanto a carteira de BDRs quase quintuplicou, atingindo R$ 4,5 bilhões. Mas para quem ainda não entrou nesses negócios, ainda vale a pena aplicar? Veja o que dizem profissionais de mercado ouvidos pelo UOL.

Novas regras para BDRs e ETFs

Desde outubro do ano passado novas regras deram ao pequeno investidor brasileiro mais opções para investir em grandes empresas estrangeiras, como Google, Amazon, Facebook ou Tesla. Foi ampliado o acesso aos BDRs, que antes só podiam ser comprados por investidores com mais de R$ 1 milhão para aplicar (os chamados investidores qualificados), e aos ETFs estrangeiros.

Com essa liberação, as instituições financeiras também aumentaram a oferta desses produtos no país. A Bolsa de Valores brasileira já oferece hoje 715 BDRs de ações e 45 BDRs de ETF.

O investidor percebeu o benefício de ter essa diversificação internacional como forma de proteger a carteira das oscilações domésticas. E essa procura teve a combinação com a parte regulatória, que viabilizou investimentos internacionais para o investidor geral de varejo.
Renato Santaniello, chefe de soluções de investimentos e multimercados da Santander Asset Management

Em busca da diversificação

Segundo profissionais de mercado, investir em BDRs é uma forma que o investidor tem de proteger parte da carteira das oscilações da economia e da política do Brasil. É a chamada diversificação geográfica.

Considerando o período em que o acesso a BDRs e ETFs foi ampliado ao pequeno aplicador brasileiro, alguns dos principais índices de ações internacionais apresentaram desempenho bem superior ao Ibovespa.

Veja abaixo as variações do S&P 500, índice das 500 ações da Bolsa de Nova York, da Nasdaq, índice da Bolsa eletrônica americana, e o MSCI Europe, que acompanha as ações mais negociadas na Europa, de outubro do ano passado até ontem (29.11).

  • Ibovespa: +2%
  • S&P: +34%
  • Nasdaq +35%
  • MSCI Europe: 8%

BDRs e ETFs representam uma forma de ter exposição a investimentos internacionais sem ter que enviar o dinheiro para fora do país.
Matheus Spiess, analista da Empiricus

Investimentos no exterior: o que esperar?

Para os profissionais de mercado, a aposta de brasileiros em recibos de ações de empresas estrangeiras (BDRs) e em ETFs deve seguir em alta por três motivos: a fatia dessas aplicações nas carteiras locais ainda é pequena; a necessidade de diversificação internacional é crescente; e a oferta desses produtos está melhorando.

Tanto que, mesmo após o salto no volume dessas aplicações nos últimos 13 meses, BDRs e ETF ainda representam apenas uma pequena fatia diante dos quase R$ 2,7 trilhões de aplicações no mercado de investimentos varejistas no Brasil.

A liberação desses produtos para o investidor de varejo aconteceu no momento em que os brasileiros também estão mais interessados em diversificar os investimentos de forma geográfica.
Phil Soares, chefe de análise de ações na Órama Investimentos

Ainda vale investir?

A valorização dos BDRs e dos ETFs nos últimos 13 meses, bem superior ao desempenho do Ibovespa, significa que aplicar hoje nesses ativos pode ser mais caro do que em outubro do ano passado, declaram os especialistas.

Além disso, o dólar valorizado ante o real, acima dos R$ 5,50 durante a maior parte desse período, também é um fator que encarece a entrada em BDRs e ETFs, que acompanham a moeda americana. Assim, é preciso uma maior quantia em reais para comprar esses ativos.

Mas os profissionais entrevistados pelo UOL afirmam que o investidor não deve focar em ganhos de curto prazo para decidir se vale ou não focar em ativos que seguem economias internacionais.

Segundo eles, há pelo menos três motivos —além da necessidade de diversificar a carteira por critério geográfico— que justificam começar agora uma carteira internacional.

  • Mais crescimento lá fora: Projeções de economistas e entidades internacionais apontam que o Brasil vai crescer menos que Estados Unidos, Europa e Ásia e outros países da América Latina em 2022. Assim, ações e índices de ações de Bolsas dessas economias apresentam potencial de melhor desempenho que ações e índices de ações brasileiros.
  • Dólar mais forte: Os juros nos Estados Unidos devem começar a subir ano que vem, e isso fortalecerá a moeda americana. Nesse cenário, o dólar deve continuar valorizado ante o real.
  • Acesso a mais negócios: Os BDRs de empresas internacionais representam um meio para que o brasileiro possa investir em companhias de setores com poucos representantes no Brasil, como o de tecnologia, por exemplo.

Além disso, os ETFs permitem com que o investidor brasileiro possa diversificar a carteira colocando parte do capital em classes de ativos —como ouro, prata, criptomoedas, por exemplo — negociados em Bolsas fora do Brasil.

Os ETFs permitem que o investidor tenha acesso, de forma simplificada, a mercados internacionais, como Estados Unidos, Europa ou Ásia, e também a classes de ativos específicos.
João Vitor Freitas, analista de investimentos da Toro Investimentos

Como montar a carteira com BDRs e ETFs

O investidor deve aplicar aos poucos para conseguir montar uma carteira com um preço médio do dólar e dos ativos que estiver comprando —BDRs ou ETFs --, sugerem os especialistas.

Para João Vitor Freitas, da Toro Investimentos, "o ideal é ir montando a carteira aos poucos, até para que a pessoa possa ir aprendendo como o negócio funciona". Phil Soares, da Órama, afirma que o ideal é comprar aos poucos conforme é possível, pois "assim a pessoa [investidora] vai pegar o valor médio do dólar em um período".

Quanto ter na carteira?

Profissionais de mercado consultados pelo UOL destacam que o percentual da carteira que pode ser aplicado em ativos internacionais depende dos objetivos e do perfil de risco de cada aplicador.

Para o analista da casa de análises Empiricus, Matheus Spiess, o investidor pode ter de 15% a 30% da carteira voltada a investimentos internacionais —de BDRs e ETFs a fundos internacionais, por exemplo.

Para quem não tem nenhuma exposição internacional, existe espaço para começar agora a investir em ativos internacionais. Isso deve ser feito de forma gradual, mas aproveitando em especial os momentos em que o dólar recuar para mais perto de R$ 5,00.
Matheus Spiess, Empiricus

Para mim, ter algo de 5% a 10% de investimento internacional já permite que uma carteira apresente melhor equilíbrio em termos de retorno e risco. Se a pessoa está na dúvida de como montar essa parte, ela pode dividir o processo em três parcelas, por exemplo, fazendo uma aplicação a cada mês.
Renato Santaniello, Santander Asset Management

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