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Como investir em ações no exterior e fugir de crises no Brasil?

Fernando Barbosa

Colaboração para o UOL, em São Paulo

23/12/2021 04h00

Investir em ações no exterior é uma forma de escapar um pouco das crises domésticas do Brasil. Mas é algo que pode criar dúvidas na cabeça do pequeno investidor. É permitido? É seguro? Como fazer isso? Para dar dicas sobre o tema, o Guia do Investidor UOL, série de eventos quinzenais e gratuitos do UOL Investimentos para quem quer aprender a investir com qualidade, conversou com dois especialistas.

Participaram do último evento Pietra Guerra, especialista em ações da Clear Corretora, com passagens pelo banco francês BNP Pariba, pelo americano Bank of America e também pelo Itaú BBA, e Felipe Vella, analista técnico da Ativa Investimentos, com mais de dez anos de experiência como trader e investidor. Confira a seguir os principais pontos e orientações dos convidados.

Por que investir fora?

Pietra lembra que o Brasil atravessa um momento de turbulência na economia, com alta da inflação, aumento dos juros e perspectiva de crescimento menor.

Dessa maneira, os brasileiros têm, além do patrimônio, a renda, o emprego e a moradia expostos ao Risco Brasil.

"Então, o que tiver de alternativa para diversificar, já passa a ser interessante. Sem contar que a gente está em um país com um alto nível de variação de mercado, uma característica de países emergentes", disse ela.

Ao observar o exterior, o investidor consegue minimizar os riscos à economia local, o que inclui os movimentos de sobe e desce do mercado e a perda de valor do real.

Segundo Vella, da Ativa Investimentos, uma estratégia interessante é diversificar não só em setores diferentes, como também em países distintos.

"Não adianta só diversificar em setores e manter tudo em renda variável e ações de empresas. Um equívoco maior ainda seria estar exposto a uma mesma economia", afirmou.

Para exemplificar esse risco na prática, Vella lembra os investidores que estavam expostos à renda variável na Venezuela e Colômbia há alguns anos. "É preciso fazer a diversificação em setores, classe de ativos diferentes, e, principalmente, em moedas diferentes", disse ele.

"Quando há esse olhar global, além de ter a diversificação regional, é uma forma de aprimorar a diversificação setorial com o acesso a temáticas que na Bolsa brasileira teria muito pouco acesso", afirmou.

O que é um ETF?

E há algumas maneiras de investir no exterior tendo conta em uma corretora brasileira. Uma delas é o Exchange Traded Fund (ETFs), variedades de fundos de investimentos que replicam parcial ou integralmente os índices de Bolsas de Valores, a exemplo do BOVA11, que segue o Ibovespa. Essa variedade está disponível também para ativos no exterior.

"Particularmente, eu advogo pelos ETFs, principalmente para os iniciantes. É muito complicado ter essa noção do que e como fazer os estudos de empresas de outros países. Acho que é uma maneira fácil e barata de estar diversificado em Bolsas estrangeiras", disse Vella.

Ele acrescenta que o investidor interessado no mercado chinês pode comprar uma cota XINA11 por menos de R$ 10, por exemplo. "Você consegue se expor a diversos setores, países e mercados diferentes direto da sua plataforma", afirmou.

Como funcionam as BRDs?

Pietra, especialista em ações da Clear esclarece que a BDR (Brazilian Depositary Receipts) não significa que o investidor compra a ação de uma empresa no exterior, mas um título que representa esse papel com a conta direto na B3.

Para ela, a principal vantagem é a acessibilidade. "Se você já negocia ações, é possível negociar as BDRs na mesma conta da corretora, movimentada em reais, e ter essa alternativa para investir nesses papéis. Um ponto favorável é acessar empresas de temáticas que a gente não tem na nossa Bolsa", declarou.

Pietra diz ainda que ao investir em empresas de fora, o investidor tem a oportunidade de comprar ativos que não estão disponíveis na economia local, a exemplo de Netflix, Disney ou Amazon.

"As pessoas não sabem o que a Vale faz, mas sabem exatamente o que a Amazon e a Apple fazem porque são empresas que estão no seu dia a dia. Conhecer a empresa é um ponto de partida para investir no negócio, que depende ainda de uma análise", afirmou.

Entretanto, a desvantagem é que essa é uma forma mais complexa, já que existe a necessidade de fazer uma remessa de câmbio, o que encarece a operação. "Além disso, fica mais difícil controlar os seus investimentos e ter uma visão como um todo", disse.

Mas existem outras alternativas de investimento no exterior?

Vella, da Ativa Investimentos, ressalta que uma alternativa que vem crescendo nos últimos anos são os BDRS de ETFs. Dessa forma, quando o investidor olha para o mercado americano, ele não tem acesso apenas a cerca de 40 ETFs, como no Brasil, mas a uma centena de fundos. Inclusive de ETFs de exposição a setores específicos, como cannabis, games e 5G.

"Supondo que lá fora tenha um ETF de cannabis ou 5G, caso a B3 queira dar a oportunidade de investir lá fora, um banco mantém esse ativo sob custódia e emite um recibo para que os brasileiros tenham exposição a ele. É literalmente o mesmo processo utilizado na emissão de um BDR de uma ação", explicou.

Como funcionam os impostos para quem investe em BDRs e ETFs?

Segundo Vella, é uma forma bastante similar ao mercado de ações.

"Para quem investe em ETFs, só tem que se preocupar com a declaração do Imposto de Renda. Dependendo do investimento no ETF, é necessário entender a alocação de capital em renda variável ou renda fixa", disse.

E a dinâmica de dividendos nas BDRs?

Pietra afirma que, enquanto o investidor brasileiro está acostumado a observar os dividendos, o mercado americano, por exemplo, não tem essa preocupação de forma tão exacerbada.

"A gente não vê no investidor [externo] essa preocupação tão grande em receber dividendos. O dividendo é o resultado que a empresa gera, e ela tem duas alternativas: ou ela distribui para o seu acionista ou investe em novos projetos", explicou.

"Lá há uma cultura muito mais focada em reinvestimento desse resultado, até para o crescimento da empresa, de fazer outras formas de distribuição para o seu acionista, como a recompra de ações", disse Pietra.

Segundo Vella, o fato de o Brasil não cobrar imposto sobre os dividendos para pessoas físicas deixa isso mais evidente. "O brasileiro está acostumado a investir em empresas que pagam dividendos porque aqui ele não é tributado", declarou.

Este material não é um relatório de análise, recomendação de investimento ou oferta de valor mobiliário. Este conteúdo é de responsabilidade do corpo jornalístico do UOL Economia, que possui liberdade editorial. Quaisquer opiniões de especialistas credenciados eventualmente utilizadas como amparo à matéria refletem exclusivamente as opiniões pessoais desses especialistas e foram elaboradas de forma independente do Universo Online S.A.. Este material tem objetivo informativo e não tem a finalidade de assegurar a existência de garantia de resultados futuros ou a isenção de riscos. Os produtos de investimentos mencionados podem não ser adequados para todos os perfis de investidores, sendo importante o preenchimento do questionário de suitability para identificação de produtos adequados ao seu perfil, bem como a consulta de especialistas de confiança antes de qualquer investimento. Rentabilidade passada não representa garantia de rentabilidade futura e não está isenta de tributação. A rentabilidade de produtos financeiros pode apresentar variações e seu preço pode aumentar ou diminuir, a depender de condições de mercado, podendo resultar em perdas. O Universo Online S.A. se exime de toda e qualquer responsabilidade por eventuais prejuízos que venham a decorrer da utilização deste material.

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