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Bolsa em 2022: analistas dizem em que setores apostar e quais evitar

Paula Pacheco

Colaboração para o UOL

03/01/2022 04h00

Apesar de 2022 ser um ano de muitas incertezas —geradas, por exemplo, pelo coronavírus e pelas eleições presidenciais—, especialistas dizem que a Bolsa terá boas oportunidades para quem não se importa com riscos.

Investir em ações pode ser mais arriscado ainda no segundo semestre, quando os discursos dos candidatos a presidente tendem a se radicalizar. Gustavo Akamine, analista da Constância Investimentos, sugere atenção especial a empresas que sofrem mais com intervenção do Estado.

Por exemplo, as de utilidade pública, estatais ou de capital misto, porque podem ser influenciadas por questões eleitorais. Veja a seguir o que dizem especialistas ouvidos pelo UOL.

Setores e ações que podem ganhar em 2022

Jessica Sprovieri, analista CNPI da Inside Research - Gostamos de bancos que, nesse cenário de alta nas taxas de juros, devem recuperar os spreads [diferença entre os juros que os bancos pagam quando você investe seu dinheiro e os juros que cobram quando você faz um empréstimo] e beneficiar a margem financeira, principalmente por causa de melhores margens com o cliente.

Outro setor de que gostamos é o de óleo e gás, influenciado por expectativas de manutenção do brent [tipo de petróleo referência mundial em preços] em bons níveis, o que deve também impactar positivamente algumas empresas do setor de agro.

João Abdouni, analista CNPI da Inversa Publicações - Os setores que devem performar bem são aqueles ligados a atividades exportadoras e ao mercado financeiro. Destacamos a Suzano e a Vale. No setor financeiro, temos preferência por Porto Seguro e Bradesco.

Alex Carvalho, analista CNPI-T da CM Capital - Um setor que sofreu em 2021 foi o comércio. Espera-se que, em 2022, com a retomada desses serviços devido ao avanço da vacinação, ações do segmento, como Magazine Luiza, Lojas Americanas e outras consigam um desempenho satisfatório comparado com a queda expressiva nos últimos 12 meses.

Outro segmento que pode ter forte aceleração em 2022 é o de alimentos e do agronegócio com a retomada de exportações e liberações fiscais. Ações como Brasil Agro, JBS e São Martinho continuam em tendência de alta no médio e longo prazo.

Gustavo Cruz, RB Investimentos - Eu citaria empresas que não estão atreladas ao mercado interno, como frigoríficos, papel e celulose, extração mineral, agronegócio e mineração que exportem, como JBS, Marfrig, Minerva. Suzano, Gerdau e Vale.

Mas a China [grande consumidora de produtos brasileiros] só estará melhor no segundo semestre. Por isso, é importante ter uma visão com um prazo mais longo.

A tendência é uma repetição de 2021. No momento em que o Brasil foi pior que o cenário externo, essas foram as empresas que se destacaram.

É possível incluir também as empresas de saúde, como Rede D'Or, Drogasil, porque traz uma tendência de longo prazo. A população vai envelhecer e consumir mais serviços de saúde.

Em agronegócio, incluiria a Jales Machado, que estreou há pouco tempo e vem tendo destaque.

E acrescentaria a Petz, que também aproveita o aumento dos gastos com pets.

Setores e ações que não devem se dar bem

Jessica Sprovieri - O varejo pode ficar para trás em uma possível recuperação por causa dos juros altos. Isso prejudica bastante o setor, principalmente o de bens duráveis, que é mais dependente de crédito.

Além disso, vemos um risco mais elevado em plataformas online que são altamente dependentes de tráfego pago para atrair clientes.

Mas alguns nomes podem escapar desse cenário desafiador. Para empresas que atuam com vestuários [semiduráveis] e que focam sua operação no público média/alta renda, nossa percepção é mais positiva.

João Abdouni - Não temos boas perspectivas do setor de aviação e varejo de eletrodomésticos. O dólar e os juros altos afetam negativamente esses dois setores.

Alex Carvalho - Ainda é cedo para falarmos que um determinado ativo deve ficar de fora da carteira para 2022. Porém, a alta da inflação e dos juros, a queda no PIB [Produto Interno Bruto], as incertezas fiscais ligadas ao Orçamento e crise hídrica ainda trazem muitas dúvidas para a cabeça do investidor, sem falar na corrida eleitoral.

Diante desse cenário, os investidores devem ficar atentos às empresas estatais. Elas ficam mais sensíveis aos assuntos como cortes, incentivos e privatização e acabam interferindo diretamente no valor da ação.

Gustavo Cruz - Começo a lista com empresas estatais, como Banco do Brasil, Petrobras, Eletrobras [caso não haja privatização].

Elas serão mais afetadas se o cenário eleitoral for conturbado. O presidente Bolsonaro tende a dar declarações mais populistas para conquistar votos de uma parcela da população, enquanto o ex-presidente Lula deve dar declarações sobre como utilizar as estatais, que não devem agradar ao mercado, voltando a uma dinâmica mais próxima à do governo Dilma, quando essas empresas estavam indo mal e dando muito prejuízo.

Mas, se houver uma busca mais para o centro, é esperado que, passada a eleição, a situação melhore para essas companhias.

Os bancos também devem sofrer em 2022, pois já declararam na divulgação dos números do terceiro trimestre que estão sofrendo com uma perspectiva de inadimplência maior adiante.

Será mais desafiador à medida que temos a inflação comendo parte da renda da população. Quem tem financiamento está com uma parcela maior da renda comprometida. Por isso, é de se esperar que as instituições financeiras naveguem por um cenário mais difícil no ano que vem.

É uma boa comprar ações agora ou o preço pode cair mais?

Jessica Sprovieri - A Bolsa pode sempre ser uma boa opção. Os critérios de escolha é que vão definir quais são as boas oportunidades. Vender quando o mercado cai e comprar quando sobe é a receita certa para o desastre.

Os preços sempre podem cair mais. É uma ilusão achar que sabemos muito mais do que os outros sobre qual o tamanho das quedas e qual seria o ponto ideal de entrada.

Olhando para os fundamentos das empresas, o investidor não deveria se preocupar em pagar o menor preço, mas, sim, um valor justo.

João Abdouni - Sim, é uma boa decisão investir em ações, mas é necessário escolher as boas empresas.

Nós estamos em um momento favorável para a compra. Eu tenho preferência por compras mensais de maneira fracionada. Sempre existe a possibilidade de os preços caírem mais.

Alex Carvalho - A grande maioria dos papéis do Ibovespa ainda se encontra em tendência de baixa, porém muitos já começam a dar sinais de retomada no curto e médio prazo.

Para quem está fora, pode ser um bom momento para pegar algumas ações com desconto, desde que faça parte da estratégia do investidor.

Para o investidor que já tem ações, deve seguir acompanhando de perto os preços. Pode haver uma aceleração mais relevante após as festividades de fim de ano.

Gustavo Cruz - Há grande probabilidade de a Bolsa cair e romper os 100 mil pontos para baixo, principalmente quando começarem os debates eleitorais. Acredito que os discursos serão bem ruins em termos econômicos e que vão bater na Bolsa.

Quanto o investidor deve aplicar na Bolsa? Fundos seriam melhores?

Jessica Sprovieri - O percentual do patrimônio destinado à renda variável depende do perfil de cada investidor.

Não existe uma única resposta certa. Todo investidor deveria ter um pouco de investimento em renda variável sim, mas sempre alinhando o perfil. Os fundos são uma boa opção. Temos excelentes gestoras. É uma opção para quem não tem tempo para se dedicar aos estudos ou o perfil para tocar sozinho seus investimentos.

João Abdouni - Depende do perfil do investidor. Um investidor conservador poderia ter 15% em Bolsa; um moderado, 30%; um sofisticado, 50%; e um perfil arrojado, 80%.

O importante é o investidor definir seus percentuais e balancear sua carteira periodicamente para o percentual definido. Isso pode ser feito uma vez por mês.

Sobre fundos de investimentos, é uma boa forma de se expor a ações delegando a profissionais a seleção dos ativos.

Alex Carvalho - O mercado cria oportunidades, e o investidor deve estar de olho nesses momentos, mas também deve se preocupar com a proteção de sua carteira.

Uma boa maneira de fazer isso é a diversificação. Assim, seu capital deverá estar distribuído entre ativos e setores diferentes.

Caso ocorra a desvalorização de um segmento, a queda acaba sendo compensada por outro setor.

Investimentos por meio de fundos podem ser interessantes para aquele investidor que busca um gestor experiente que possa trazer essa diversificação com critério.

Gustavo Cruz - Quem conta com as ações desses setores que podem sofrer menos tem a opção de se desfazer dos papéis.

Quem tem fundo de investimento em ações voltado para o Brasil deve levar em consideração que o primeiro trimestre de 2022 ainda pode ser bom.

Mas quem vai dizer se o investidor deve ter 10%, 20% ou 30% em renda variável é o seu perfil de risco e o quanto está confortável com a volatilidade.

Uma possibilidade é investir em renda variável no exterior, já que 2022 tende a ser pior no Brasil na comparação com o resto do mundo.

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