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Fundos de investimento têm recorde em 2021; veja onde entrou mais dinheiro

Fundos de investimento recebem R$ 369 bilhões e atingem R$ 6,9 trilhões no ano. Veja as aplicações que receberam mais e quais ficaram para trás. - Orientfootage/iStock
Fundos de investimento recebem R$ 369 bilhões e atingem R$ 6,9 trilhões no ano. Veja as aplicações que receberam mais e quais ficaram para trás. Imagem: Orientfootage/iStock

João José Oliveira

Do UOL, em São Paulo

11/01/2022 04h00

Os fundos de investimento no Brasil tiveram em 2021 captação líquida recorde anual de R$ 369 bilhões e atingiram um patrimônio líquido total de R$ 6,9 trilhões, segundo dados da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais). As captações foram mais que o dobro dos R$ 178,9 bilhões aplicados em 2020.

Veja abaixo em detalhes que fundos de investimentos atraíram mais aplicações no Brasil em 2021 e o que esperar deles em 2022.

O aumento dos juros levou mais brasileiros aos fundos de renda fixa, que receberam R$ 215,2 bilhões e elevaram a participação no total da indústria de fundos de 36,2%, em 2020, para 37,1%. Já os fundos de ações ficaram praticamente estagnados, afetados pelo desempenho negativo do Ibovespa e incertezas da economia. Segundo profissionais de mercado, esses fatores que influenciaram os mercados no ano passado devem continuar valendo neste ano.

O ano foi forte em captação para a indústria como um todo. Mas a renda fixa foi de forma disparada o maior destaque do ano em captações.
Pedro Rudge, diretor da Anbima

Captações de fundos em 2021

  • Renda fixa: R$ 215,2 bilhões
  • FIDC: R$ 77,1 bilhões
  • Multimercados: R$ 59,6 bilhões
  • Previdência: R$ 13 bilhões
  • ETF: R$ 9,1 bilhões
  • Cambial: R$ 800 milhões
  • Ações: R$ 200 milhões
  • FIP: - R$ 6,2 bilhões
  • Total: R$ 369 bilhões

Renda fixa alimentada pelos juros em alta

A taxa básica de juros, Selic, começou 2021 em 2% ao ano e terminou em 9,25% -a maior alta desde 2002. Como esse indicador é referência para muitos fundos de renda fixa, ele acabou favorecendo os ganhos oferecidos por esses produtos.

A volta da inflação de maneira acentuada impactou a política monetária. Então, depois de ter atingido um vale de baixa, a Selic teve o maior crescimento desde 2003. Além disso, houve incertezas com relação às questões políticas e fiscais. Esses dois fatores tiveram como efeitos mais óbvios a renda fixa voltando a crescer, enquanto a renda variável foi afetada fortemente.
Sergio Cutolo, sócio e head de asset do BTG Pactual

Quanto mais alta a Selic, mais elevados os rendimentos dos fundos de renda fixa tradicionais, aqueles com liquidez imediata -ou seja, permitem resgates a qualquer momento sem perdas de rendimento- e que apresentam baixo risco.

O rendimento anual dos fundos de renda fixa simples foi de 1,9% em 2020, subindo para 3,7%, em 2021.

Patrimônio líquido em 2021

  • Renda Fixa: R$ 2,56 trilhões
  • Multimercados: R$ 1,57 trilhão
  • Estruturados*: R$ 1,03 trilhão
  • Previdência: R$ 1,09 trilhão
  • Ações: R$ 579,6 bilhões
  • ETF: R$ 41,4 bilhões
  • Cambial: R$ 8,1 bilhões
  • Total: R$ 6,9 trilhões

Incertezas afetam Bolsa e fundos de ações

Um rendimento de 3,7% ainda é pouco, especialmente se comparado a uma inflação que superou os 10% em 2021, de acordo com a prévia do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), usado pelo governo como inflação oficial no país.

Mesmo assim, esses fundos receberam R$ 215,2 bilhões ano passado porque os investidores buscaram proteção em meio às incertezas da economia e da política.

O receio de que o governo perca totalmente o controle dos gastos públicos provocou a alta do dólar, que alimentou a inflação, o que, por sua vez, levou o Banco Central a elevar juros.

Essa quadro de incertezas atrapalhou o desempenho da Bolsa. Os investidores preferiram ficar com rendimentos menores, mas mais seguros, na renda fixa que arriscar parte do patrimônio na Bolsa.

Os fundos de ações captaram apenas R$ 200 milhões ano passado e perderam participação na indústria de fundos. A fatia desses fundos no patrimônio total de mercado brasileiro caiu, de 10,1% para 8,4%, entre dezembro de 2020 e o mesmo mês de 2021.

Maior procura por fundos estrangeiros

O dólar valorizado em 2021 não alimentou um crescimento dos fundos cambiais no Brasil. Mas a procura pelos fundos estrangeiros aumentou fortemente, destacou o sócio e head de asset do banco do BTG Pactual, Sergio Cutolo.

Os fundos estrangeiros fecharam 2021 com captação de R$ 104 bilhões, 57% mais que em 2020, e atingiram um patrimônio total de R$ 678,3 bilhões, 24,2% maior que um ano antes.

Tivemos uma busca maior por aplicações no exterior, além de uma maior procura para fundos locais que compram cotas de fundos internacionais.
Sergio Cutolo, BTG Pactual

Rentabilidade de algumas categorias de fundos em 2021

  • Renda Fixa simples: +3,7%
  • Multimercados livre: + 2,9%
  • Cambial: + 7,6%
  • Ações livre: - 10,7%

Começamos 2021 com Selic de 2% e terminamos com a taxa em quase 10%. Isso provocou uma corrida para a renda fixa porque num ambiente de juros subindo, inflação alta e incertezas, as pessoas buscam investir em aplicações com maior liquidez.
Gustavo Pires, sócio e head de asset management services da XP Investimentos

Participação na indústria de fundos em 2020 e 2021

  • Renda Fixa: 36,2% em 2020 e 37,1% em 2021
  • Ações: 10,1% em 2020 e 8,4% em 2021
  • Multimercados: 23,3% em 2020 e 22,8% em 2021
  • Cambial: 0,1% em 2020 e 0,1% em 2021
  • Previdência: 16,5% em 2020 e 15,2% em 2021
  • ETF: 0,6% em 2020 e 0,6% 2021
  • Estruturados: 12,2% em 2020 e 15,0% em 2021
  • Total: R$ 6,1 trilhões em 2020 e R$ 6,9 trilhões em 2021

Volta da renda fixa para sempre?

Apesar do crescimento forte dos fundos de renda fixa em meio à estagnação dos fundos de ações e avanço mais fraco dos fundos multimercados, profissionais de mercado dizem que o fortalecimento da renda variável e a diversificação das carteiras do aplicador brasileiro serão retomados assim que o quadro de incertezas diminuir.

O diretor da Anbima, Pedro Rudge, também sócio fundador da Leblon Equities, destaca que a indústria de fundos de investimento no Brasil está mais forte, com o crescimento dos gestores de recursos, maior oferta de produtos e facilidade de acesso graças aos avanços da tecnologia.

Tenho sim a leitura de que a indústria de fundos de investimentos apresentou resiliência, e o investidor mostrou maturidade.
Pedro Rudge, diretor da Anbima

O executivo destacou ainda que o volume captado pelos fundos de investimentos em 2021 foi recorde mesmo com toda a volatilidade do mercado.

Captação anual total

  • 2016: R$ 126,1 bilhões
  • 2017: R$ 259,3 bilhões
  • 2018: R$ 94,2 bilhões
  • 2019: R$ 227,5 bilhões
  • 2020: 178,9 bilhões
  • 2021: R$ 369 bilhões

Cenários para 2022

Parte dos recursos que engordaram os fundos de renda fixa pode mudar de posição em 2022 à medida que os cenários para os juros e para a economia ficarem mais claros, dizem profissionais de mercado.

Há muito dinheiro estacionado na renda fixa aguardando uma melhor definição do ambiente macroeconômico e político. Então, se ficar mais claro um cenário de juros em queda para 2023, podemos ter um ciclo mais positivo para os fundos de ações a partir do segundo semestre.
Gustavo Pires, XP Investimentos

3 fatores que podem afetar fundos em 2022

Mas os executivos alertam que o ano de 2022 deve mesmo começar mais parecido com 2021. E citam três fatores que devem continuar alimentando os fundos de renda fixa e prejudicando a busca pelos fundos de ações.

Juros seguem subindo: O mercado trabalha com a expectativa de que a Selic, taxa básica de juros, suba mais -até 11,75%- antes de começar a recuar. Essa redução dos juros só deve começar a ocorrer mais para o fim de 2022 ou mesmo começo de 2023.

Eleições presidenciais: Anos de eleições presidenciais costumam provocar dúvidas sobre a política econômica que será adotada por um novo governo -ou mesmo pelo atual governo se reeleito. Então, na dúvida, o aplicador prefere manter o dinheiro em investimentos que sofrem menos com o sobe e desce das cotações.

Juros nos Estados Unidos: Os juros nos Estados Unidos devem começar a subir neste ano. Se isso ocorrer, os juros dos outros países também devem subir porque a taxa americana é uma referência mundial para aplicações.

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