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Investidor perde R$ 1 milhão em operação de risco na Bolsa e agora dá dicas

Em apenas dia, Alex Martins teve uma perda milionária; veja como ele deu a volta por cima e quais lições ele dá sobre o caso - Divulgação
Em apenas dia, Alex Martins teve uma perda milionária; veja como ele deu a volta por cima e quais lições ele dá sobre o caso Imagem: Divulgação

Fernando Barbosa

Colaboração para o UOL, em São Paulo

22/04/2022 04h00

Tornar-se milionário é o sonho de muitos investidores. Mas arrecadar essa quantia e não tê-la mais, de uma hora para outra, soa como um terrível pesadelo. É o que ocorreu com o brasileiro Alex Martins, 45, advogado de formação e analista CNPI. Mesmo com mais de dez anos de experiência no mercado financeiro, em um único dia ele perdeu mais de R$ 1 milhão com operações de day trade —compra e venda de ações no mesmo dia.

Nesta reportagem exclusiva, o UOL entrevista Alex, que mostra como conseguiu recuperar o valor perdido e dá dicas essenciais, a partir de seus erros e acertos, para quem deseja investir.

Alta procura por day trade

Entre 2012 e 2022, a procura por cursos na web de "gurus" do mercado para comprar e vender ações no mesmo dia disparou, de acordo com a plataforma Google Trends. A ideia de rentabilizar lucros rapidamente fez com que a expressão "curso day trade" aparecesse quatro vezes no pico de buscas do Google com pontuação acima de 70, em uma escala de 0 a 100 nos últimos dez anos. O último pico foi em outubro de 2021. Em janeiro deste ano, ficou um pouco abaixo —chegou a 61 pontos nas pesquisas, mas ainda é um número expressivo.

Um estudo realizado pelos pesquisadores Fernando Chague e Bruno Giovannetti, da Escola de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV-EESP), a partir de dados da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), analisou o desempenho de 98.378 indivíduos que fizeram seu primeiro day trade entre 2013 e 2016.

Do volume total, apenas 554 prosseguiram nas negociações por mais de 300 pregões. Desses, 127 (0,12%) conseguiram lucro bruto diário acima de R$ 100. Apenas 76 pessoas (0,07%) superaram o valor de R$ 300.

Assim, são poucos aqueles que conseguiram se manter na profissão de negociar papéis na Bolsa de Valores em um curtíssimo prazo —principalmente com ganhos.

O início no pregão da Bolsa

Martins chegou à Bolsa de Valores muito antes de o pregão eletrônico se tornar a única forma de negociação de ativos no mercado brasileiro.

Nas décadas de 1980 e 1990 era comum que os operadores realizassem as movimentações financeiras em meio à muvuca e gritaria, com telefones de tamanhos comparáveis aos tablets atuais.

Sem muito conhecimento a respeito do funcionamento diário das negociações, começou a ter interesse pelo mercado acionário nas reportagens a que assistia na televisão. Mas foi só em 1999 que ele conseguiu uma oportunidade.

A primeira experiência foi como auxiliar de "scalper", os "cambistas" responsáveis pela venda e compra de posições. Na época, cada "scalper" poderia ter até dois auxiliares.

"Vi que era uma boa oportunidade de trabalhar no pregão. Fui muito resistente. Não é todo mundo que consegue aguentar o tranco", diz ele, ao relembrar os primeiros passos.

Um ano e meio mais tarde, no fim de 2001, passou a operar minicontratos com o tio, Pedro -e ter as primeiras perdas.

Como era um mercado que não tinha muita liquidez, acabei tendo algumas operações que deram errado. Muitas vezes porque pagava mais caro para entrar na operação e mais barato para sair.

Ele passou pelas operações do UBS Pactual (antes da venda ao BTG, em 2009) e da corretora FDR, antes de voltar a trabalhar ao lado do parente no pregão. "Eu ficava de olho nos registros das operações, no gesto e em tudo mais o que ele fazia. Ali, passei a ter mais entendimento sobre as operações de dólar", declara.

Experiência na prática

Mesmo com a tendência de crescimento do pregão eletrônico entre 2002 e 2004, Martins afirma que muitos dos colegas ainda insistiam nas negociações via telefone. Esses profissionais, segundo o analista, apostavam que as negociações telefônicas eram mais dinâmicas.

Ele passou a trabalhar fazendo operações de um proprietário de uma corretora e, aos poucos, começou a chamar atenção. Assim, foi convidado para atender os clientes institucionais que trabalhavam com dólares no mercado futuro, como bancos e fundos. Para Martins, esse momento de aproximação com os clientes representou uma virada de chave.

"Era muito difícil ter uma amizade com o cliente no pregão. Mas quando a relação ficava próxima, você perguntava para o cliente e a resposta vinha. Ele explicava a influência da economia americana ou chinesa para o mercado, por exemplo. Foi o início do meu aprendizado de macro e microeconomia, e de fundamentos de mercado, algo que eu não teria", diz.

A queda milionária

Até que um dia o operador decidiu que era a hora de ser autônomo e empreender. Por conta da amizade e estima do dono da corretora de valores, Martins continuou na empresa, mas como sócio e responsável pelas operações.

Quando a CVM impediu a continuidade das contas proprietárias, ele continuou fisicamente no local, sem nenhum vínculo com a instituição. Dessa forma, começou a finalmente operar com capital próprio.

No dia 6 de maio de 2010, após a abertura do mercado às 9h, ele já acumulava ganhos entre R$ 15 mil a R$ 20 mil passados apenas 30 minutos. De uma hora para a outra, no início da tarde, o mercado começou a trabalhar em forte recuperação.

Sem notícias ou indícios de que o movimento fosse consistente, ele começou a vender dólares de forma excessiva. Na expectativa de uma retomada da moeda americana, passou a ficar alavancado. Ou seja, trabalhar com valores maiores do que possui disponível na conta.

Mas não era um momento qualquer. De acordo com o FBI, um operador britânico havia fraudado, de Londres, os algoritmos da Bolsa de Nova York, num evento conhecido como Flash Crash. Os cálculos de analistas estimam que cerca de US$ 1 trilhão em valores de mercado tenham sido destruídos.

A manipulação pegou Martins despreparado.

Eu nunca tinha perdido um valor como esse.

Ele afirma que, "sem que eu percebesse, o dono da corretora era como o meu gerenciador de risco. Eu não poderia perder aquele dinheiro, porque amanhã estaria na rua. Quando você é o seu próprio chefe, só deve satisfação para o cara do espelho, e mais ninguém".

A recuperação e as lições do episódio

Segundo Alex Martins, seu principal equívoco ao longo do tempo foi focar bastante no aprendizado de fundamentos e no funcionamento das operações, e pouco no gerenciamento de risco.

Muitos gestores foram pegos naquele dia. A diferença é que eu não mensurei o risco versus retorno.

Para arcar com o estrago, ele precisou vender imóveis e outros bens, além de assinar notas promissórias. Assim, a saída foi explicar a situação ao dono da corretora e pedir para continuar operando, o que foi aceito.

A correção na trajetória não ocorreria sem uma mudança de postura e mentalidade. A recuperação aconteceu em cerca de três meses —algo rápido para o tamanho do rombo.

"Eu não poderia fazer uma conta de ganhar R$ 10 mil em cem dias. O mercado é cíclico e haveria perdas, então não era o ideal para extrair uma rentabilidade positiva. Eu deveria traçar um plano estratégico para verificar o quanto eu poderia perder", declara.

Para se manter no mercado, ele estabeleceu um "stop loss" —isto é, um teto diário para as perdas. Considerou isso um passo determinante para os bons resultados desde então.

Se eu perdesse R$ 1.000 por dia, deveria parar. E se eu perdesse isso por cinco dias? E por um mês? Passei a traçar cenários para o meu pior desempenho. Precisei ser disciplinado para não perder mais do que eu poderia.

Atualmente, Martins é analista de investimentos com certificação CNPI (Certificado Nacional do Profissional de Investimento) na Nova Futura Investimentos e oferece cursos sobre gestão de risco. Para o operador com experiência de mais de 20 anos de mercado, um dos maiores erros é tentar "cavar" oportunidades quando o cenário é adverso.

As pessoas não conseguem controlar a vontade e passa a ser o que chamamos de 'overtrading'. É como uma máquina quando não há um 'trigger' [gatilho].

A segunda lição é justamente a relação risco versus retorno.

"Quando o dólar chega a R$ 5,90, posso comprar esperando chegar a R$ 6. Ele pode subir, mas pode cair até onde? A R$ 5,10 ou R$ 5,20? Se eu tenho R$ 0,10 para perder e R$ 0,50 para ganhar, o trade é válido. Caso contrário, é preciso esperar uma próxima oportunidade", diz.

Um terceiro ponto seria o teto máximo para os prejuízos. "Tive aluno com R$ 10 mil e não entendia que, se perdesse R$ 300, ele deveria parar", afirma.

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