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Por que o dólar saltou 8% em uma semana, de R$ 4,62 para quase R$ 5?

Quais motivos levam à alta do dólar e o que esperar? Veja abaixo o que dizem os especialistas - Dado Ruvic/Reuters
Quais motivos levam à alta do dólar e o que esperar? Veja abaixo o que dizem os especialistas Imagem: Dado Ruvic/Reuters

Lílian Cunha

Colaboração para o UOL, em São Paulo

26/04/2022 18h27

O ano de 2022 começou bem para quem torcia pela desvalorização do dólar. Em 20 de abril, a moeda norte-americana acumulava queda de 17,14% no ano, cotada a R$ 4,62. Mas desde então disparou. Em uma semana, o dólar subiu 8%, batendo quase R$ 5 nesta terça-feira (26).

O que aconteceu para a moeda disparar em tão pouco tempo? Veja abaixo a análise de especialistas consultados pelo UOL, que dizem ainda se é a moeda deve continuar subindo ou se voltará a cair.

'Tempestade perfeita'

Para os analistas, a disparada do dólar em apenas uma semana é resultado de uma "tempestade perfeita", que misturou a expectativa de alta dos juros nos Estados Unidos, a guerra na Ucrânia, o aumento de casos de covid na China, a queda dos preços dos produtos agrícolas e a fuga do investidor internacional do Brasil.

O dólar vinha caindo neste ano com a entrada de investimento estrangeiro na Bolsa de Valores brasileira, segundo dados da B3. Segundo Guilherme Zanin, analista da Avenue Securities, o que atraía os aplicadores do exterior era a possibilidade de altos ganhos em um curto período.

Marcio Loréga, analista do PagBank, concorda. "O Brasil é um mercado especulativo. O investidor de fora vem para fazer ganhos altos e rápidos, quando tem segurança para isso. Mas quando o cenário muda, ele corre para o porto seguro, que é [investir em ativos dos] Estados Unidos", diz Loréga.

1. Guerra estendida

Primeiro, teve a guerra no Leste Europeu. Segundo especialistas, o mercado achava que o conflito na Ucrânia se resolveria rapidamente, o que não está acontecendo. No último domingo (24), o combate completou dois meses.

"Isso muda muita coisa. O mercado vê que o petróleo pode aumentar, já que a Rússia é uma grande exportadora. E ainda tem o problema do gás, piorando a crise de energia", afirma o analista do PagBank. Hoje, de acordo com a imprensa internacional, a Rússia cortou o fornecimento de gás para a Polônia.

E se a Rússia fizer isso com outros países? Num mundo em crise, os investidores fogem da insegurança. Deixam os mercados mais especulativos, como o Brasil, e vão para os mais seguros, como os Estados Unidos.
Breno Bonani, analista da VGR Asset

Por isso, depois de meses de saldo positivo, pela primeira vez no ano, o investidor externo passou a tirar dinheiro do Brasil. Foram R$ 904 milhões até o dia 11 de abril, conforme dados da B3. Profissionais do mercado declaram que o valor ainda é abaixo do esperado, mas o suficiente para mudar a cotação do dólar.

2. Covid na China

A China também mexe com a cotação do dólar. Com a covid-19 voltando a ser o centro das atenções no país devido ao aumento de casos, Xangai entrou na quarta semana de lockdown, enquanto o governo iniciou ontem (25) testes em massa no maior distrito de Pequim.

Para os especialistas ouvidos pelo UOL, isso significa que os chineses ficarão mais em casa e consumirão menos. E o Brasil é um grande fornecedor de commodities (produtos básicos e agrícolas). Vendendo menos, menos dólares vêm para o território brasileiro.

Tanto é que os portos na China estão parados. O porto de Xangai está abarrotado, em razão das medidas de confinamento, por causa do aumento nos casos de covid.
Pedro Galdi, analista da Mirae Asset

Essa é uma situação, segundo Galdi, prejudicial para o mundo todo e que deve demorar para se resolver. Ou seja, é mais um fator que faz o investidor correr para um lugar mais seguro.

3. Juros nos EUA

Além de tudo isso, tem também os juros nos Estados Unidos.

Os analistas do Deutsche Bank, por exemplo, divulgaram hoje (26) que o Federal Reserve (Fed, o Banco Central norte-americano) deve subir a taxa de juros anual do país para algo entre 5% e 6%, em um esforço para combater a inflação. A decisão final será debatida nos dias 3 e 4 de maio pelo Fed.

Juros mais altos nos EUA tendem a atrair para lá recursos hoje investidos em outros países, como o Brasil. Com menos dólar aqui, a tendência é de alta da moeda.

4. Cenário político no Brasil

Especialistas dizem que "a bagunça no cenário nacional também não ajuda" o dólar a cair. "Existe o temor de o governo furar novamente o teto de gastos, além de ataques ao Supremo Tribunal Federal, que trazem mais instabilidade", diz Loréga.

As empresas, segundo ele, também tentam se proteger —e fazem isso diminuindo suas dívidas internacionais. Para isso, compram dólar para pagar esses débitos.

O dólar vai continuar subindo?

No curto prazo, essa saída de dólares do Brasil, que é o que faz a moeda subir, deve continuar.
Pedro Galdi, analista da Mirae Asset

Galdi declara que há uma luz no fim do túnel. A dinamarquesa Maersk —uma das maiores transportadoras de contêineres do mundo, vista como um termômetro do comércio global— anunciou hoje que o mercado de contêineres pode se normalizar no segundo semestre do ano. "É um sinal de que as coisas possam melhorar", afirma o analista.

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