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Poupança: após alta da Selic para 12,75%, quanto rendem R$ 1.000 por ano?

Veja quanto podem render R$ 1.000 se aplicados por um ano na poupança, no Tesouro Selic e em fundos DI - Suwaree Tangbovornpichet/iStock
Veja quanto podem render R$ 1.000 se aplicados por um ano na poupança, no Tesouro Selic e em fundos DI Imagem: Suwaree Tangbovornpichet/iStock

João José Oliveira

Do UOL, em São Paulo

04/05/2022 19h15

Nesta quarta-feira (4), a taxa básica de juros (Selic) emendou sua décima alta consecutiva em dez encontros do Copom (Comitê de Política Monetária), do Banco Central, subindo de 11,75% para 12,75%. Este é o mais alto pico desde fevereiro de 2017.

Como ocorreu nas nove vezes anteriores, desde março de 2021, esse movimento favorece as aplicações de renda fixa, como Tesouro Selic e fundos DI. Já a poupança continuará com o rendimento congelado, uma vez que a Selic ultrapassa 8,5% (confira a explicação mais abaixo).

Veja alguns exemplos de simulações que dão uma visão geral de como ficam os ganhos em diferentes investimentos.

Quanto rendem R$ 1.000 em algumas aplicações

A décima elevação da taxa básica de juros favorece algumas aplicações de renda fixa, porque o rendimento desses produtos segue a Selic. É o caso do Tesouro Selic, ou o CDI (Certificado de Depósito Interfinanceiro), que também acompanha a tendência da taxa básica de juros para definir os ganhos de CDBs, LCIs e fundos DI.

Dessa forma, a decisão tomada pelo BC (Banco Central), com o objetivo de conter a inflação, acaba favorecendo investidores dessas aplicações

Já a poupança terá rendimento em 0,5% ao mês mais TR (Taxa Referencial, um indicador do mercado financeiro), por causa da fórmula que passou a valer após a Selic superar os 8,5%. Assim, diferentemente de outras tradicionais aplicações de renda fixa de baixo risco e liquidez, a caderneta não vai aproveitar esse aumento da taxa básica dos juros..

Bruno Di Giacomo, diretor de investimentos da Blackbird, diz que "o aumento dos juros não deve parar por aí. Deve haver ao menos mais um aumento até o fim deste ano".

Além dos juros mais elevados aqui [no Brasil], a alta dos juros americanos também prejudica investimentos na renda variável. Então, a gente tem estimulado o investidor a buscar a renda fixa pela relação risco/retorno que está oferecendo rendimentos muito bons.
Bruno Di Giacomo, da Blackbird

Descubra a seguir quanto podem render R$ 1.000 aplicados por um ano. Nessas simulações, foi considerada uma aplicação por um ano mais um dia, prazo necessário para que a alíquota de Imposto de Renda seja de 17,50%, no caso de produtos tributados.

Se o resgate ocorrer antes disso, a alíquota aumenta conforme o prazo, sendo de 20%, até seis meses, e de 22,5%, para menos que isso.

Quanto rendem R$ 1.000 com a Selic a 12,75%

  • Poupança: R$ 63,60 (considerando TR de 0,190% e isenção de Imposto de Renda)
  • Fundos DI: R$ 100,54 (considerando Imposto de Renda e taxa de administração de 0,5%)
  • Tesouro Selic: R$ 105,19 (considerando alíquota de Imposto de Renda de 17,50%)

Quanto a pessoa terá na conta após a aplicação

Veja agora quanto a pessoa terá na conta depois desse rendimento, e compare com o valor que seria resgatado se a Selic não tivesse subido e continuasse a 11,75% ao ano.

  • Poupança: R$ 1.063,60 (antes da última alta dos juros, seriam R$ 1.063,20)
  • Fundos DI: R$ 1.100,54 (antes da última alta dos juros, seriam 1.092,32)
  • Tesouro Selic: R$ 1.105,19 (antes da última alta dos juros, seriam R$ 1.096,94)

Leonardo Calixto, CEO da Empírica Investimentos, declara que "a gente já vinha percebendo um aumento da procura pelos nossos fundos de renda fixa este ano e a tendência é que essa busca continue crescendo com mais esse aumento dos juros".

Com o rendimento da renda fixa hoje, o custo do risco na renda variável aumenta, ainda mais considerando outros fatores, como eleições no Brasil, que trazem um névoa adicional de incerteza.
Leonardo Calixto, da Empírica Investimentos

Inflação ainda come boa parte do ganho

Com a Selic indo a 12,75% ao ano, a taxa básica de juros ficou acima do principal indicador de preços do país, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), que atingiu 11,3% nos 12 meses encerrados em março, a maior variação em 19 anos.

A alta da Selic eleva o rendimento nominal do investidor, aquele que aparece no extrato da aplicação, mas ainda não garante um ganho real — ou seja, acima da variação da inflação.

O investidor só terá ganho real se o rendimento dessas aplicações, ao longo dos próximos 12 meses, ficar acima da inflação.

No mercado, as simulações mais usadas pelos profissionais costumam considerar a expectativa do mercado para a inflação ao fim de um período. No caso, por exemplo, a expectativa predominante hoje é a de que o IPCA esteja na casa de 7,9% ao fim de 2022.

Nesse caso, os ganhos obtidos pelo Tesouro Selic, de R$ 105,19, e dos fundos DI com taxa de administração de 0,5%, de R$ 100,54, superam os R$ 79 que a inflação iria corroer do poder de compra — se o IPCA de fato cair do patamar atual, de 11,3%, para 7,9%, ao longo dos próximos 12 meses.

Mas há uma grande incerteza nessas projeções. É que a inflação tem constantemente batido as estimativas dos especialistas. No começo deste ano, por exemplo, os economistas estimavam que o IPCA terminaria 2022 em 4,5%, mas agora já admitem uma inflação anual de 7,9% ao fim de dezembro.

Por causa dessa incerteza, especialistas optam pelo conservadorismo nessas simulações, considerando então a inflação atual, de 11,3%, segundo o IPCA acumulado em 12 meses até março e não as projeções, de 7,9%, para estimar o rendimento real que o aplicador pode ter com a nova Selic.

Perda real ainda nas aplicações

Se essa inflação de 11,3% for mantida, ela vai corroer R$ 113,00 da aplicação após um ano. Assim, em 12 meses, para cada R$ 1.000 aplicados, o capital do investidor teria aproximadamente essas perdas abaixo.

  • Poupança: perda real de R$ 49,40
  • Fundos DI: perda real de R$ 12,46
  • Tesouro Selic: perda real de R$ 7,81

Novos aumentos de juros no radar

Projeções de mercado feitas por mais de cem instituições financeiras e consultorias afirmam que a Selic pode subir mais um pouco e chegar a 13,25% este ano. A taxa de juros então ficaria estacionada nesse patamar até a virada do ano.

Mas profissionais de mercado dizem que existem muitas incertezas no horizonte político e econômico, tanto no Brasil como no mundo, que podem levar o Banco Central a suspender por enquanto o movimento de aumento dos juros, ou por outro lado, subir os juros ainda mais.

Isso vai depender de fatores como o ritmo da atividade econômica no Brasil, da alta dos juros nos Estados Unidos e ainda do encarecimento de petróleo e matérias-primas por causa da guerra no leste europeu.

Porém, mesmo com essas incertezas, a maioria dos especialistas ouvidos pelo UOL projeta que os juros no Brasil só devem começar a recuar em 2023, quando a Selic deve encerrar o ano na casa de 9,25%.

O movimento da maior busca pela renda fixa que pela renda variável que a gente vem vendo este ano deve continuar até ficar mais claro o momento em que a inflação vai começar a ceder e, assim, abrir espaço para que os juros parem de subir.
Joaquim Kokudai, diretor de investimentos e sócio da Somma Investimentos

Renda fixa prefixada ou pós-fixada

Nesse cenário, a avaliação dos analistas é a de que a renda fixa ainda merece espaço nas carteiras dos investidores em relação à Bolsa, por exemplo, que caiu 10,1% em abril, reduzindo os ganhos no acumulado do ano para apenas 2,9%.

Segundo os profissionais, investimentos de renda fixa pós-fixada, como o Tesouro Selic, por exemplo, devem continuar na carteira como opção para quem tem objetivos de curto prazo ou como parte da reserva de emergência.

Já para quem tem a possibilidade de casar a aplicação com objetivos de prazo maior e não precisa da liquidez diária, há oportunidades tanto na renda fixa prefixada como naquela que acompanha a inflação, com rendimento corrigido também pelo IPCA.

Considerando que ainda há expectativa de pressão inflacionária, investimento atrelado ao IPCA é uma boa opção. No entanto, a possibilidade de fim do ciclo de alta dos juros favorece os prefixados. Neste cenário, a diversificação entre essas duas classes é a melhor opção.
Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed, empresa de tecnologia e educação para investidores

Com a alta de hoje, a taxa Selic já proporciona 1% ao mês de rendimento. A opção pode ser em fundos DI, CDB pós fixado ou, se a pessoa puder abrir mão da liquidez, uma LCI pós-fixada, que é isenta de Imposto de Renda.
Fabio Louzada, economista, fundador e CEO da escola Eu me banco

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