Nubank: mesmo com altos salários de executivos, vale investir na empresa?
No final da última semana, a previsão de remuneração no valor de R$ 804,4 milhões para os executivos do Nubank causou furor nas redes sociais.
Analistas dizem que há questões a serem enfrentadas para tornar a operação da empresa lucrativa. A primeira é justamente a necessidade de a empresa mostrar resultados. Entenda a fundo as polêmicas que envolvem o Nubank, seu histórico na Bolsa de Valores e se vale investir, segundo a opinião de especialistas ouvidos pelo UOL.
A revelação dos salários dos executivos, que resultou em polêmica na internet, veio à tona após o banco digital entregar à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) o formulário de referência para o ano de 2022, obrigação anual das empresas de capital aberto.
Em 2021 o lucro ajustado do Nubank foi de US$ 6,6 milhões, ante prejuízo de US$ 26,8 milhões um ano antes. No mesmo período, o Itaú (ITUB3/ITUB4) registrou lucro líquido de R$ 25 bilhões, e o Bradesco (BBDC3/BBDC4), de R$ 26,2 bilhões.
Quando a gente olha desde o IPO [abertura de capital], a companhia não conseguiu entregar um lucro representativo. Teve um lucro muito pequeno e ainda roda em prejuízo. Claramente, é uma ação de crescimento, que sofre quando os juros sobem.
Danielle Lopes, sócia e analista da Nord Research
Apesar dos números abaixo do esperado, o Nubank tem uma carteira de clientes que avançou 61,9% no último ano, para 53,9 milhões.
Essa tem sido a estratégia da companhia até aqui: aumentar a base para buscar resultados mais tarde. Para Danielle Lopes, sócia e analista da Nord Research, porém, o mercado já está um pouco mais cético sobre a companhia continuar a crescer.
"A empresa tem um alcance muito orgânico, pouco marketing traz muito cliente para dentro de casa de uma forma barata. Mas não consegue monetizar, e agora também as operações de crédito estão cada vez mais caras porque os juros estão subindo", declara a analista.
Juros mais altos devem prejudicar a empresa
Com o aumento dos juros em diversos países para conter a inflação, o custo do crédito para empresas e pessoas físicas fica mais caro —e isso tende a impactar a operação da empresa.
No Brasil, os reajustes da taxa básica de juros (Selic) pelo Banco Central desde abril de 2021 trouxeram os juros para 11,75% ao ano.
O novo cenário dos juros também faz com que os investidores retirem ativos da renda variável e apliquem em opções mais conservadoras, como na renda fixa.
Um componente adicional é que os investidores começam a rever suas posições em ativos de risco, como startups e empresas de tecnologias listadas.
Para o CEO da Box Asset Management, Fabrício Gonçalvez, o investidor deve ter bastante cautela ao entrar em empresas que abriram capital na Bolsa.
"É preciso entender o modelo de negócio, avaliar como a organização rentabilizará os acionistas e analisar a maneira que os executivos vão direcionar o negócio", declara Gonçalvez.
Só após isso, segundo ele, é possível ponderar o risco e a expectativa de retorno para tomar a decisão de incluir ou não determinada ação na carteira.
"A queda das ações do Nubank tem a ver com a queda dos ativos de risco, em geral, e dos ativos de risco brasileiros, que vêm performando muito mal desde a última sexta [29 de abril]. O mês de abril foi muito ruim", afirma Felipe Miranda, CEO da casa de análises Empiricus.
O Nubank estreou na Bolsa de Nova York (Nyse), em dezembro, com o preço de US$ 9 por ação e valor de mercado em US$ 41,5 bilhões.
Na terça-feira (3), as ações da companhia estavam cotadas em US$ 5,47, recuo de 64,5%. Seu valor de mercado atual é de US$ 28 bilhões.
Para Miranda, as ações e os BDRs (Brazilian Depositary Receipts) —isto é, recibos de ações estrangeiras que podem ser negociados na Bolsa brasileira— não estavam sofrendo por causa da remuneração elevada. "As ações vinham caindo antes", diz. No entanto, ele entende que isso é "um movimento adicional".
O analista da Empiricus lembra que o lock-up do banco, espécie de quarentena em que os investidores do IPO não podem se desfazer dos papéis, termina em 17 de maio, um dia após a divulgação de resultados da empresa relativos ao 1º trimestre deste ano. Segundo a Bloomberg, US$ 26 bilhões em ações poderão ser negociados no mercado.
Muita gente que comprou antes do IPO pode agora vender as ações, e a expectativa é que parte desses investidores realmente venda seus papéis.
Felipe Miranda, CEO da Empiricus
Por hora, tanto a Empiricus quanto a Nord Research não indicam a compra de ações e BDRs do Nubank.
"Metas ambiciosas"
Em comunicado, o Nubank afirma que a remuneração de seus oito executivos, entre eles o CEO David Vélez, está condicionada ao cumprimento de "metas ambiciosas" — o que deverá representar "praticamente 100% da remuneração total de Vélez nos próximos cinco anos".
Do valor de R$ 804,4 milhões previsto para 2022, R$ 678,9 milhões (84%) estão destinados para o Contingent Share Award (CSA ou Prêmio de Ações Contingentes).
"O CSA estabelece metas desafiadoras que refletem patamares de capitalização de mercado atrativos para os nossos acionistas. Desta forma, o CSA cria um alinhamento de interesses de longo prazo, forte e transparente, entre o sr. Vélez e os nossos acionistas", diz a empresa, em nota.
Essa remuneração será feita, segundo o banco digital, caso a média do preço da ação ordinária Classe A --ações que dão direito a voto e participação nas decisões da companhia aos investidores-- se mantenha a partir de US$ 18,69 em 60 dias seguidos. Assim, o CEO receberá um número de ações equivalentes a 1% do capital social da empresa.
O mesmo ocorrerá se a média de valor da ação ordinária Classe A permanecer igual ou acima de US$ 35,30 no período (60 dias).
Às 13h30 (horário de Brasília) desta quarta-feira (4) a ação do Nubank negociada na Bolsa americana estava em US$ 5,48. O BDR do Nubank (NUBR33) era negociado em R$ 4,68.
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