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Tragédia de Bangladesh reforça setor têxtil 'Made in Nova York'

24/04/2014 18h35

NOVA YORK, 24 Abr 2014 (AFP) - Com uma máquina de colocar botões e uma calça entre as mãos, May se concentra em sua tarefa com calma e segurança, em contraste com a efervescência do setor têxtil nova-iorquino, cheio de valores responsáveis - reforçados desde o ano passado, após a tragédia de Bangladesh.

"Um golpe" e "um sinal de alerta": as imagens do desabamento de um edifício de confecções em Bangladesh, causando a morte de 1.138 empregados, provocaram um choque no setor têxtil de Nova York, tradicionalmente localizado no bairro Garment Center, importante peça na história da indumentária dos Estados Unidos.

"Como é possível que uma tragédia como essa tenha ocorrido em pleno 2013?", avalia Erica Wolf, que está à frente da iniciativa Save the Garment Center.

Além do mundo dos estilistas, atacadistas, comerciantes e costureiros, o colapso do edifício Rana Plaza também foi sentido pelos consumidores.

"Até aquele momento, as pessoas não sabiam necessariamente que existiam pessoas sofrendo por trás da produção das grandes marcas de roupa", afirma a jovem Bob Bland. "Desde que isso veio à tona com a tragédia do Rana Plaza, os clientes acordaram, e as marcas também", acredita.

Convencida de que práticas responsáveis e éticas, que respeitam os trabalhadores e o meio ambiente, são as peças-chave para a renovação do setor nos Estados Unidos, Bland criou em 2012 a ""Manufacture New York", uma incubadora de empresas e plataforma de produção têxtil.



- O "Made in New York" da moda -

"Nós nos demos conta de que muitas marcas voltaram aos Estados Unidos como resposta imediata ao drama do Rana Plaza e outras violações dos direitos humanos no setor têxtil em diferentes partes do mundo", ressalta a empresária.

"Temos visto um crescimento da demanda por produtos 'Made in NYC' nos últimos anos", diz Bland.

Por trás das mesas repletas de máquinas de costurar Singer, Juki ou Union Special, carretéis de linhas multicoloridas, botões, tesouras, moldes e modelos, o bairro de Garment District fervilha.

Na rua 36, os caminhões descarregam seus produtos e clientes de amontoam numa loja atacadista de telas, plumas e remates.

"Dizer que o que você faz é 'Made in New York' é outra forma de dizer que temos uma 'produção responsável'", destaca Erica Wolf.

"Clientes que nunca tinham me perguntado nada sobre a produção de repente passaram a se interessar", conta Victoria Waston, criadora da Libretto, marca de roupas femininas.

"O fato de que fabricar tudo em Nova York é uma grande vantagem. O 'Made in NYC' se tornou uma estratégia de marketing muito eficaz", pontua.

O setor estava em queda livre desde os anos 1960, quando houve as primeiras realocações das produções de roupa para países do terceiro mundo. "Já observamos um pequeno crescimento da atividade têxtil na cidade", afirma Barbara Blair Randall, da Garment District Alliance.

Ainda que os empregos vinculados à indústria de moda tenham caído cerca de 60% entre 1995 e 2011, um estudo recente elaborado pelo Garment District Alliance mostra uma alta de 14% nos fabricantes de modelos e de 25% nos contratos têxteis especializados entre 2012 e 2013.

Nas paredes das confecções de High Production, onde trabalha May, é possível ler os direitos dos trabalhadores têxteis: seu salário mínimo de 8 dólares por hora, o pagamento de horas extras e um número de telefone para emergências.

"Tratamos nossos empregados com respeito", garante Ida Law, de High Production, que fabrica peças para Helmut Lang, Nanette Lepore, Theory e Public School.