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Jihadistas iraquianos se aproximam de Bagdá em ofensiva devastadora

11/06/2014 18h42

KIRKUK, Iraque, 11 Jun 2014 (AFP) - Os rebeldes jihadistas tomaram nesta quarta-feira a cidade iraquiana de Tikrit e avançavam rumo à capital Bagdá, em uma ofensiva devastadora que provocou a fuga de meio milhão de habitantes, embora o Exército tenha conseguido evitar um ataque a Samarra.

Os jihadistas se apoderaram na terça, quase sem resistência, de toda a província de Nínive, da qual Mossul é a capital, e de várias partes de duas províncias vizinhas, Kirkuk e Saladino.

Este avanço dos jihadistas do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL) diante de forças iraquianas paralisadas e de um poder xiita impotente ameaça mergulhar este país rico em petróleo no caos.

Tanto o Irã xiita como os Estados Unidos manifestaram seu apoio ao governo de maioria xiita de Nuri al-Maliki frente ao "terrorismo".

A ONU pediu que a comunidade internacional apoie o governo de Bagdá.

O EIIL também fez 49 turcos reféns em Mossul, no consulado da Turquia, entre eles o cônsul e integrantes das forças especiais, além de outros 31 caminhoneiros turcos sequestrados na província.

O ministro turco das Relações Exteriores, Ahmet Davutoglu, ameaçou com "ações de represália muito severas" se os reféns forem feridos.

A última conquista dos jihadistas é a da cidade de Tikrit, situada 160 km ao norte de Bagdá, em um avanço simbólico pelo fato de a região ser o local de nascimento do presidente sunita Saddam Hussein, derrubado e executado após a invasão americana de 2003.

"Toda Tikrit está em poder dos insurgentes", declarou um coronel da polícia.

De acordo com outra autoridade, os rebeldes tomaram a cidade, capital da província de Saladino, depois de apenas duas horas de combates.

Após a queda de Tikrit, os combates se estenderam pela principal estrada para Bagdá e os jihadistas enfrentam as forças de segurança na periferia norte de Samarra, a apenas 110 km da capital. Moradores da região afirmaram que os combates pararam sem que os rebeldes tenham conseguido entrar na cidade.

Os jihadistas tentaram tomar também Baiji, onde fica situada uma das maiores refinarias do país, mas se retiraram com a chegada de reforços do Exército.



- Reunião do Parlamento na quinta-feira -

Além da ofensiva, os atentados tendo xiitas como alvo não dão trégua. Nesta quarta quase 40 pessoas foram mortas no centro e no sul do país.

O EIIL, que tenta criar um Estado islâmico entre a Síria e o Iraque, advertiu em um comunicado que "vai manter a série de invasões abençoadas".

Considerado um grupo ultrarradical, acusado de abusos na Síria em seu combate contra o regime e outros grupos rebeldes, o EIIL já controla grandes setores da província ocidental iraquiana de Al-Anbar, na fronteira com a Síria.

No país vizinho, o movimento controla também amplas partes da província rica em petróleo de Deir Ezzor, suscitando temores de uma união territorial com o noroeste iraquiano.

Impotente, o governo iraquiano criou uma célula de crise para supervisionar a entrega de armas a voluntários que quiserem combater os insurgentes e pediu que o Parlamento, que se reúne na quinta, decrete "estado de emergência".

Também anunciou que vai reorganizar as forças de segurança, acuadas pelos jihadistas. O governador da província de Nínive, Athil al-Nujaifi, acusou comandantes militares de terem abandonado o campo de batalha.



- Meio milhão de deslocados -

De acordo com a Organização Internacional para as Migrações (OIM), o ataque e a invasão de Mossul já provocaram "o deslocamento de mais de 500.000 pessoas no interior e nos arredores da cidade", que tem uma população de dois milhões de habitantes.

Os habitantes fogem de suas casas em Mossul, a maioria a pé, e seguem para outras regiões de Nínive e para a região autônoma do Curdistão, segundo a OIM, uma organização internacional independente com sede em Genebra.

Dentro da cidade, os jihadistas, usando uniformes militares o de preto, estão mobilizados perto de bancos e de prédios públicos e na sede do Conselho Provincial, de acordo com testemunhas contatadas por telefone.

Diante do aumento da violência, Washington se comprometeu a "trabalhar com o governo iraquiano e com líderes do Iraque para unir esforços contra o avanço do EIIL". "A situação é muito grave", indicou a porta-voz do Departamento de Estado, Jennifer Psaki.

O ministro iraniano das Relações Exteriores, Mohamad Javad Zarif, manifestou o apoio de Teerã "ao governo e ao povo iraquianos frente ao terrorismo" e ressaltou a necessidade de um "apoio efetivo internacional".

O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, fez um apelo nesta quarta para que a comunidade internacional apoie o Iraque.

"O secretário-geral pede à comunidade internacional que se una, manifestando solidariedade ao Iraque no momento em que enfrenta um sério desafio de segurança", indicou seu porta-voz em um comunicado.

O EIIL é formado em grande parte no Iraque por ex-comandantes e membros dos serviços de segurança de Saddam Hussein, de acordo com especialistas.

Apoiado por tribos hostis ao governo de maioria xiita, o grupo recebe um grande suporte dos sunitas, que se consideram marginalizados pelo poder.

As tropas iraquianas, formadas do zero pelos Estados Unidos, ainda não conseguiram se consolidar como um verdadeiro Exército.

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