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Separatistas derrubam avião militar no leste da Ucrânia; presidente promete resposta

14/06/2014 09h02

LUGANSK, Ucrânia, 14 Jun 2014 (AFP) - Um avião militar ucraniano de transporte de tropas foi derrubado neste sábado por separatistas pró-Rússia, em um ataque que provocou 49 mortes e que aumenta a tensão, após os primeiros contatos diretos entre Kiev e Moscou para uma desescalada.

O novo presidente ucraniano, Petro Poroshenko, prometeu "uma resposta adequada" aos separatistas do leste do país após o ataque contra a aeronave do Exército.

"Aqueles que estão envolvidos neste ato terrorista serão punidos. A Ucrânia precisa de paz, mas os terroristas receberão uma resposta adequada", garantiu o presidente em um comunicado no qual decretando o domingo dia de luto nacional.

O ataque, o mais violento contra as tropas ucranianas desde o início, há dois meses, de uma operação de Kiev de "combate ao terrorismo" no leste rebelde, ocorreu pouco antes de uma esperada reunião neste sábado entre ucranianos e russos para reiniciar as negociações sobre o gás, outro tema de impasse entre os dois países.

Ante a ameaça de corte do fornecimento de gás russo na segunda-feira, algo temido pelos europeus, a Rússia deu o "acordo preliminar" para retomar as negociações neste sábado em Kiev, segundo o ministro ucraniano da Energia, Yury Prodan.

A gigante russa Gazprom determinou como prazo final a segunda-feira para o pagamento pela Ucrânia de uma dívida de quase dois bilhões de dólares. Sem este pagamento, Moscou passará a um sistema de pagamento antecipado, o que pode significar o corte de fornecimento de gás.

"Profundamente preocupado"

O ataque contra a aeronave militar nesta madrugada em Lugansk, reduto da insurreição pró-russa no leste da Ucrânia, acontece num momento em que o novo presidente Poroshenko e seu colega russo Vladimir Putin conversam para tentar diminuir a violência, que já provocou mais de 300 mortes desde abril.

O Conselho da Europa expressou neste sábado seu apoio aos esforços para uma desescalada da tensão do presidente pró-ocidental Poroshenko, que tomará posse na próxima semana.

"O presidente Poroshenko sabe que pode contar com o nosso apoio", declarou o secretário-geral do Conselho da Europa, Thorbjorn Jagland, se dizendo "chocado e profundamente preocupado" com o ataque contra o avião ucraniano.

Um porta-voz militar ucraniano, Vladislav Selezniov, anunciou à AFP que todas as pessoas a bordo da aeronave IL-76 do Exército, incluindo nove membros da tripulação e 40 paraquedistas, morreram no ataque que ocorreu às 01h00 (19h00 de sexta-feira no horário de Brasília).

O ataque foi reivindicado por um porta-voz dos insurgentes em Lugansk que afirmou, de acordo com a agência de notícias Ria Novosti, que o avião foi atingido por um míssil terra ar e que caiu na "zona do aeroporto".

Imagens de uma câmera de vigilância do aeroporto mostram um breve flash no céu quando o avião é atingido. Quase 30 segundos depois, um brilho intenso toma conta do horizonte, quando a aeronave explode com a aproximação do aeroporto.

"Os terroristas dispararam cinicamente e à traição com uma metralhadora de grosso calibre e atingiram um avião IL-76 do Exército ucraniano que transportava tropas e estava prestes a pousar no aeroporto de Lugansk", informou o ministério da Defesa, referindo-se a disparos "de artilharia pesada".

Os Estados Unidos acusaram na sexta-feira a Rússia de entregar tanques e armas pesadas aos rebeldes separatistas do leste da Ucrânia, afirmando que este material cruzou a fronteira entre os dois países nos últimos dias.

"Acreditamos que os separatistas do leste da Ucrânia receberam armas pesadas e equipamento militar da Rússia, entre os quais tanques e lança-foguetes russos", disse a porta-voz do departamento americano de Estado Marie Harf.

A porta-voz ameaçou a Rússia com mais sanções dos Estados Unidos caso persista a situação na Ucrânia. "Isto é inaceitável".

Tiros e explosões em Lugansk

De acordo com um fotógrafo da AFP em Lugansk, cidade de 500.000 habitantes perto da fronteira com a Rússia, foram registrados nesta madrugada tiros e explosões no centro. Aviões e helicópteros do Exército ucraniano realizaram ataques noturnos contra as barreiras separatistas.

O Aeroporto Internacional de Lugansk já havia sido palco na semana passada de um ataque separatista repelido pelas forças ucranianas.

O secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, manifestou preocupação com relatos de que grupos pró-russos na Ucrânia foram equipados com "armas pesadas da Rússia, incluindo tanques". "Se estes relatórios forem confirmados, isso marcaria uma grave escalada da crise no leste da Ucrânia", acrescentou.

Por sua vez, o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, pediu à Rússia para iniciar um processo de desescalada, para ajudar a desarmar os rebeldes pró-Rússia e interromper o fluxo de armas e combatentes que entram na Ucrânia, em conversa telefônica na sexta-feira com Vladimir Putin.

O presidente ucraniano afirmou na quinta-feira que "os rebeldes no leste" tinham "utilizado pela primeira vez tanques" vindos da Rússia.

Kiev e os ocidentais continuam a acusar Moscou de agir secretamente apoiando a insurreição armada na Ucrânia através do envio de armas.

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