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Rússia ameaça cortar gás fornecido a Kiev após fracasso de negociações

15/06/2014 22h24

KIEV, 16 Jun 2014 (AFP) - A Rússia ameaçou cortar o gás fornecido à Ucrânia nesta segunda-feira às 06h00 GMT (03h00 de Brasília) após o fracasso das negociações de última hora em Kiev, o que pode prejudicar o fornecimento para a Europa e agravar a maior crise no continente desde o fim da Guerra Fria.

"Não chegamos a um acordo e é pouco provável que nos reunamos novamente. Já estamos no avião" para voltar a Moscou, disse à AFP por telefone Serguei Kuprianov, porta-voz da gigante russa do gás Gazprom, após as negociações realizadas em Kiev com a mediação da União Europeia.

A Gazprom deu até às 06h00 GMT de segunda-feira (03h00 de Brasília) para que Kiev pague uma dívida de 1,95 bilhão de dólares.

"Se não recebermos o pagamento até as 10h00 (06h00 GMT, 03h00 de Brasília), não vamos fornecer mais gás", acrescentou Kuprianov.

O fornecimento de gás russo para a Europa - quase a metade passa pelo território ucraniano - corre o risco de ser afetado, como aconteceu durante os conflitos anteriores relacionados ao gás, em 2006 e 2009.

As autoridades ucranianas e europeias disseram que ainda esperam um compromisso.

"Esperamos que a economia e o bom senso prevaleçam sobre a política", declarou à imprensa Andrei Kobolev, chefe da companhia pública ucraniana Nafrogaz.

"Vamos tentar nos reunir novamente, o mais rápido possível", indicou uma fonte europeia.

Kiev recusou o aumento do preço estabelecido por Moscou depois da chegada ao poder de dirigentes pró-ocidentais no fim de fevereiro, em consequência da queda do presidente pró-russo Viktor Yanukovytch. Os 1.000 metros cúbicos de gás passaram de 268 para 485 dólares, um preço sem equivalente na Europa. Em sua "última oferta", Moscou propôs 385 dólares.

O chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, denunciou neste domingo "a arrogância" de Kiev, que "rejeita um compromisso razoável", o que seria explicado, segundo ele, pela ingerência de um "terceiro Estado".

Após a esperança de um relaxamento na tensão gerada pelos primeiros contatos entre o presidente russo, Vladimir Putin, e o novo chefe de Estado ucraniano, Petro Poroshenko, o tom subiu entre Kiev e Moscou neste final de semana.



- Lei marcial no leste? - O presidente pró-ocidental ucraniano prometeu uma "resposta adequada" aos separatistas após o ataque contra o avião derrubado em Lugansk, deixando 49 mortos, o mais violento contra o Exército ucraniano desde o início de uma operação militar no leste separatista, no dia 13 de abril, deixando mais de 300 mortos.

A imposição da lei marcial no leste rebelde "será abordada" na segunda-feira durante uma reunião do Conselho de Segurança Nacional e de Defesa convocada por Poroshenko, indicou neste domingo o ministro ucraniano da Defesa, Mikhailo Koval.

Poroshenko havia apresentado na semana passada a Vladimir Putin seu plano de paz, fazendo nascer a esperança de um entendimento.

Os Estados Unidos reafirmaram na sexta que a Rússia havia fornecido aos separatistas do leste da Ucrânia tanques e lança-foguetes, que passaram sem problemas pela fronteira entre ambos os países.



- Putin insultado por ministro - As negociações em torno da questão energética são realizadas em um contexto extremamente tenso depois dos incidentes de sábado diante da embaixada russa na Ucrânia, durante uma manifestação para protestar contra o ataque mortal de Lugansk.

A exibição de um vídeo no domingo mostrando o ministro ucraniano das Relações Exteriores insultando Vladimir Putin causou indignação em Moscou.

Nessas imagens, Andrei Dechtchitsa, que chegava para acalmar a multidão, disse aos manifestantes que ia exigir que a Rússia se retirasse da Ucrânia e chama Putin de "filho da p...", repetindo a gentileza gritada em coro por torcedores futebol há algumas semanas.

Autoridades russas pediram que o presidente ucraniano destitua Dechtchitsa.