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Bagdá promete acabar com ofensiva jihadista e pede ajuda a Washington

18/06/2014 15h12

KIRKUK, Iraque, 18 Jun 2014 (AFP) - O primeiro-ministro iraquiano, Nuri al-Maliki, prometeu nesta quarta-feira derrotar os jihadistas que assumiram o poder de grandes grandes partes do Iraque em apenas dez dias, enquanto Bagdá pediu oficialmente ajuda aos Estados Unidos em sua contra-ofensiva.

Maliki, um xiita odiado pelos insurgentes sunitas e de forma mais geral pela minoria sunita no Iraque, declarou que suas forças enfrentam os rebeldes, após as derrotas nos primeiros dias da ofensiva jihadista lançada em 9 de junho.

Neste contexto, o ministro iraquiano das Relações Exteriores, Hoshyar Zebari, anunciou que Bagdá pediu oficialmente aos Estados Unidos que efetuem ataques aéreos contra os jihadistas.

"O Iraque pediu oficialmente ajuda a Washington, em virtude do acordo de segurança (com os Estados Unidos) para realizar ataques aéreos contra os grupos jihadistas", declarou Zebari aos jornalistas em Jidá, na Arábia Saudita, após consultas sobre a situação no Iraque durante uma reunião ministerial da Organização da Cooperação Islâmica (OCI).

Na segunda-feira, os Estados Unidos anunciaram o envio ao Golfo do navio americano USS Mesa Verde, com 550 marinheiros e helicópteros Osprey a bordo, para poder enviar reforços em caso de evacuação da embaixada americana em Bagdá.

Ainda nesta quarta, o porta-voz das forças de segurança garantiu que libertará a estratégica cidade xiita de Tal Afar (noroeste), em parte controlada pelos insurgentes.

O Exército iraquiano tentará "libertar toda a cidade antes do amanhecer de quinta-feira", declarou, acrescentando que as tropas seguirão para leste, em direção a Mossul, a segunda maior cidade do país, controlada pelos jihadistas.

Enquanto isso, a Arábia Saudita advertiu para o risco de uma guerra civil, enquanto o Irã afirmou que fará tudo para proteger os lugares sagrados do islã xiita no Iraque.

"Nós vamos combater o terrorismo e derrotar a conspiração", afirmou em um discurso televisionado Maliki, no poder desde 2006.

"Um revés não é uma derrota", acrescentou, assegurando que as forças armadas tinham retomado a iniciativa, conseguindo conter a escalada e atingir os jihadistas do Estado Islâmico no Iraque e no Levante (EIIL).

O governo Maliki é marcado por divisões sectárias entre xiitas e sunitas e enfrenta há mais de um ano uma onda de violência alimentada pelo descontentamento da minoria sunita, que se sente marginalizada, e pela guerra na vizinha Síria, onde o EIIL também atua.

Na terça-feira, o premiê afastou altos comandantes acusados de fugirem do campo de batalha no início da ofensiva.

As forças rebeldes lideradas pelos jihadistas do EIIL e apoiadas por partidários do ex-presidente sunita Saddam Hussein, tomaram na semana passada a cidade de Mossul e grande parte de sua província Nínive, assim como Trikit e partes das províncias de Saladino, Diyala (leste) e Kirkuk (norte).



Impacto limitado no mercado petroleiro

Nas frentes de batalha, os combatentes jihadistas atacaram na madrugada desta quarta-feira a principal refinaria de petróleo do Iraque, ao norte de Bagdá, e os combates prosseguem, segundo funcionários da instalação.

Os rebeldes conseguiram entrar na refinaria de Baiji, na província de Saladino, e as forças de segurança tentam provocar o recuo dos insurgentes.

Alguns depósitos da refinaria, que fica 200 km ao norte de Bagdá, foram incendiados.

Até o momento, as autoridades do setor petroleiro consideravam "limitados" os impactos da violência na produção de petróleo do Iraque, segundo maior exportador da Opep.

"O ataque contra a principal refinaria de Baiji pode significar uma fonte de petróleo para o EIIL, mas o impacto do ataque é provavelmente menor do que acreditamos", considera Rebecca O'Keeffe, analista da Interactive Investor.

Antes do anúncio deste ataque, os preços do petróleo estavam instáveis na Ásia. Além dos campos do Curdistão (norte), controlados pelas autoridades locais, a maioria da produção de petróleo do Iraque está localizado no sul, longe da ofensiva.



Risco de guerra civil

No norte do Iraque, os jihadistas tomaram três novas cidades, e no oeste, o Exército tenta retomar a cidade de Tal Afar, depois de ter repelido os insurgentes em Baquba (60 km a nordeste de Bagdá).

Na província de Nínive, quarenta indianos que trabalhavam na construção civil foram sequestrados na região de Mossul, onde 80 cidadãos turcos continuam reféns dos jihadistas desde a semana passada.

Depois de acusar Maliki de levar o Iraque à beira do caos com sua política de exclusão dos sunitas, a monarquia sunita da Arábia Saudita considerou que a situação no Iraque pode causar uma guerra civil que pode afetar a região. No dia anterior, Maliki acusou Riad de apoiar os extremistas.

Para os especialistas, o que tem acontecido atualmente tem suas origens na invasão dos Estados Unidos, em 2003, que derrubou o ditador sunita Saddam Hussein, mas também na política religiosa de Maliki.

"Os americanos desmantelaram as instituições, mas Maliki entrará para a história como alguém que perdeu as rédeas do Iraque", disse, Ruba Husari, editora do site Iraq Oil Forum.

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