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Kerry obtém cessar-fogo de doze horas em Gaza

26/07/2014 00h55

JERUSALEM, 26 Jul 2014 (AFP) - O secretário americano de Estado, John Kerry, obteve um cessar-fogo humanitário de doze horas neste sábado na Faixa de Gaza, após o fracasso em estabelecer uma trégua estável nos combates entre Israel e o movimento radical islâmico Hamas.

O Exército israelense e o Hamas confirmaram um cessar-fogo humanitário a partir das 08H00 local (02H00 Brasília) na Faixa de Gaza, por um período de 12 horas.

Em seu comunicado, o Exército informa uma "janela humanitária na Faixa de Gaza", entre 08H00 e 20H00 local.

"Os civis da Faixa de Gaza que foram orientados a abandonar suas casas não devem voltar" aos imóveis e "o Exército responderá se os terroristas tentarem explorar este período de trégua para atacar os soldados ou disparar contra civis israelenses".

"Durante a trégua, as atividades operacionais para localizar e neutralizar os túneis da Faixa de Gaza vão prosseguir".

Um dirigente do Hamas, grupo no poder na Faixa de Gaza, disse que o movimento islâmico palestino respeitará o cessar-fogo.

"O Hamas aceita um cessar-fogo de 12 horas" a partir da manhã de sábado, disse o dirigente, que pediu para não ser identificado.

Um funcionário israelense citado pelo jornal Haaretz revelou que o cessar-fogo deve permitir o envio de água, alimentos e medicamentos à população na Faixa de Gaza, onde as organizações internacionais poderão entregar ajuda humanitária.

Em declarações no Cairo, Kerry afirmou que "o marco geral" de uma trégua estável foi estabelecido, mas mencionou dificuldades de "terminologia". Ele irá no sábado a Paris, onde vai se reunir com os chefes das diplomacias da Turquia e do Catar, dois aliados do Hamas.

Para o ministro egípcio das Relações Exteriores, Sameh Shukri, "nenhuma das duas partes mostrou a vontade necessária para negociar" uma trégua estável e acabar com a violência que deixou cerca de 900 mortos desde o início da operação israelense "Barreira Protetora", no dia 8 de julho.

Segundo várias autoridades citadas pelas rádios pública e militar israelenses, Israel considera favoráveis demais ao Hamas as propostas de um cessar-fogo mais longo, e descarta qualquer retirada de seus soldados da Faixa de Gaza durante uma trégua para negociações.

Eles estão mobilizados em terra desde 17 de julho com a missão de destruir "túneis de ataque" e o arsenal do movimento radical palestino, principalmente os foguetes que são disparados contra a população israelense.

O ministro israelense da Defesa, Moshé Yaalon, pediu nesta sexta que seus soldados se preparassem para "uma ampliação significativa das operações terrestres em Gaza", de acordo com um comunicado oficial.

Em sua página no Facebook, um lider do Hamas, Izzat al-Rishq, indicou apenas que o movimento "estuda uma trégua humanitária de sete dias".

O movimento islâmico palestino, que controla a Faixa de Gaza, havia rejeitado na semana passada uma primeira proposta de acordo feita pelo Egito.

No Catar, o líder do Hamas, Khaled Mechaal, reiterou em várias oportunidades a condição principal de seu movimento: um compromisso de suspender o bloqueio que asfixia desde 2006 a economia do enclave palestino.



- 'Trégua humanitária' - "O que se discute é uma trégua humanitária de sete dias para permitir que todas as partes negociem no Cairo", havia explicado antes à AFP uma autoridade ligada ao presidente palestino, Mahmud Abbas.

Ao final de 18 dias de combates, na sexta-feira, os serviços de emergência apontavam 871 palestinos mortos - a maioria civis - e 5.730 feridos.

Outros 14 palestinos morreram e 20 ficaram feridos nos ataques da madrugada deste sábado.

Enquanto suas estruturas são atingidas pelos incessantes ataques israelenses e Israel afirma ter matado 240 combatentes, o Hamas quer mostrar que seus meios militares não foram aniquilados. Seus foguetes, que mataram três civis desde 8 de julho, continuam a atingir Israel. Sessenta caíram em território israelense nesta sexta e quinze foram interceptados pelo sistema antimísseis 'Iron Dome' (Cúpula de Ferro), de acordo com o Exército.

O Hamas afirmou ter disparado nesta sexta três foguetes de longo alcance contra o aeroporto Ben Gurion de Tel Aviv, mas não impediu as companhias Air France e Lufthansa de anunciar uma rápida retomada das viagens interrompidas após a queda de um foguete na terça-feira.

O Exército israelense anunciou na sexta-feira a morte de dois soldados e confirmou a do soldado Oron Shaul, que tinha sido sequestrado pelo Hamas.

Na manhã deste sábado, o Exército informou mais duas mortes de militares na Faixa de Gaza.

Com 37 mortos em combate, Israel sofre suas perdas mais pesadas desde a guerra em 2006 contra o Hezbollah libanês.

O líder desse grupo, Hassan Nasrallah, pediu nesta sexta que árabes e muçulmanos combatam junto com a "Resistência" palestina em Gaza.

Israel sofre críticas cada vez maiores devido à morte de civis palestinos em sua ofensiva, principalmente crianças. O Unicef indicou um registro de "pelo menos 192 crianças" mortas na Faixa de Gaza.

No dia seguinte à tragédia na escola de Beit Hanoun (norte), onde - segundo os serviços de emergência palestinos - quinze refugiados morreram na queda um morteiro israelense, a Agência para a Ajuda aos Refugiados Palestinos (UNRWA) alertou novamente para a situação humanitária nesse território.



10% da população deslocada

"O número de pessoas deslocadas em Gaza já é mais que o triplo do pico do conflito de 2008/9", segundo a UNWRA. O porta-voz da agência, Chris Gunness, indicou que mais de 160.000 refugiados estão em 83 refúgios, o que representa cerca de 10% da população.

Mesmo prometendo investigar o ocorrido em Beit Hanoun, como exigem a ONU e a União Europeia, o Exército israelense acusou novamente o Hamas de se usar civis como "escudos humanos", escondendo armas em escolas, mesquitas e hospitais.

Ela afirmou que um dos soldados mortos nesta sexta havia sido atingido por um disparo a partir de "uma estrutura situada perto de uma escola da ONU".

A Organização Mundial da Saúde (OMS) pediu a criação de um corredor humanitário em Gaza e a UNWRA fez um alerta para as consequências dos cortes de energia e para a escassez crônica de água nesse enclave de 362 km2 onde vivem 1,8 milhão de pessoas.

Para piorar a situação, a Cisjordânia ameaça mergulhar na violência. Confrontos foram registrados perto de Hebron, em Nablus e ainda em Jerusalém Oriental anexada.

Na sexta-feira, seis palestinos foram mortos na Cisjordânia em atos violentos no "dia da ira" decretado pelas principais organizações palestinas para protestar contra a operação militar israelense na Faixa de Gaza.

Na madrugada deste sábado, dois jovens palestinos, de 16 e 18 anos, foram mortos em confrontos com o Exército israelense e com colonos judeus na Cisjordânia.



bur-ng/dm/lr