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Crises geopolíticas não impedem que petróleo fique abaixo de US$ 100

08/09/2014 20h01

LONDRES, 08 Set 2014 (AFP) - O preço do barril de petróleo caiu para menos de 100 dólares nesta segunda-feira, pela primeira vez desde junho de 2013, influenciado pelo excesso de oferta devido ao crescimento na produção de petróleo de xisto.

Esse aumento compensa as tensões relacionadas com os conflitos na Ucrânia e no Iraque.

O barril de "light sweet crude" (WTI) para entrega em outubro recuou 63 centavos no New York Mercantile Exchange (Nymex), fechando a 92,66 dólares, nível mais baixo desde janeiro.

Em Londres, o barril de Brent do mar do Norte para entrega em outubro ficou em 100,20 dólares no Intercontinental Exchange (ICE). Ao longo do dia, o barril de Brent chegou a ser negociado por menos de 100 dólares, o que não acontecia desde junho de 2013.

Apesar das tensões geopolíticas no Iraque e na Ucrânia, o preço do cru europeu caiu pelo menos 13% desde 19 de junho passado, quando chegou a ser cotado a 115,71 dólares.

Para explicar esse paradoxo, os analistas indicam uma conjunção de fatores: a oferta abundante, a fraqueza da demanda mundial e a ausência real de perturbações no fornecimento dos países afetados pelos conflitos.

"A principal razão da tendência atual é a abundância da oferta no mercado petrolífero", explicaram os economistas do Commerzbank em nota recente.

Os Estados Unidos, onde a produção de petróleo de xisto cresceu, importa menos petróleo da África Ocidental, que, por sua vez, desloca essa produção para o mercado europeu, expandindo a oferta.

O consumo de hidrocarbonetos dos Estados Unidos suprido pelas importações passou de 60%, em 2005, para 33%, em 2013. Pode ficar em 22% no ano que vem, nível mais baixo desde 1970, segundo dados da Agência Norte-Americana de Informação sobre Energia (EIA, na sigla em inglês).

Além disso, as tensões geopolíticas na Ucrânia, no Iraque e na Líbia não resultaram em uma queda da produção. Pelo contrário, no caso da Líbia, a produção aumentou, apesar do contexto de caos.



A incógnita iraquiana Em um primeiro instante, o mercado de petróleo viveu momentos de pânico pela ofensiva jihadista do Estado Islâmico no Iraque. Depois, a reação se normalizou, já que os combates não atingiram a produção no sul, de onde saem 90% das exportações.

"Enquanto isso, a Rússia exporta cerca de 5 milhões de barris de petróleo diários, principalmente para a Europa, mas esse comércio é tão importante para os dois lados que não são objeto de sanções ocidentais, ou de medidas de represália russas", disse o economista Julian Jessop, da Capital Economics.

A tudo isso, soma-se uma demanda mundial fraca.

"Embora o aumento da demanda (mundial em 2014) seja melhor do que o de 2013, nossas previsões foram revisadas para baixo nos últimos meses, devido a uma queda do consumo em dois dos maiores consumidores de petróleo - como China e Europa", explicaram os analistas do banco Natixis.

Dados econômicos recentes - como a estagnação do crescimento na zona do euro no segundo trimestre e a desaceleração da produção industrial na China em agosto - têm acentuado esses temores. Contribui, ainda, a valorização do dólar.

"Todos esses fatores desestimulam os investidores especulativos, que acabam apostando na queda dos preços do petróleo", acreditam os analistas do Commerzbank.

Para eles, os operadores subestimam os riscos da oferta no curto prazo, na medida em que a produção de petróleo é vulnerável na Líbia e no Iraque, onde predomina o caos político.

"Uma eventual desintegração política do Iraque, ou o controle do sul do país por parte do Estado Islâmico, teria um impacto catastrófico nos preços do petróleo", advertem os analistas da Natixis.

O Iraque é um ator-chave do mercado internacional de petróleo, pois exporta 2,5 milhões de barris diários e conta com 11% das reservas conhecidas no mundo.