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Líderes da UE se reúnem para difíceis negociações climáticas

23/10/2014 16h21

BRUXELAS, 23 Out 2014 (AFP) - Os chefes de Estado e de governo da União Europeia (UE) iniciaram uma cúpula nesta quinta-feira, em Bruxelas, com a ideia de fechar um ambicioso plano de ação sobre o clima que colocaria o bloco na vanguarda do combate às mudanças climáticas.

Somam-se à agenda do encontro a luta contra a epidemia de Ebola e uma reunião dos líderes da zona do euro que discutirão como fortalecer o cada vez mais fraco crescimento econômico no bloco, ameaçado por uma nova recessão.

O pacote climático e energético é o mais complexo que os dirigentes terão sobre a mesa. A Comissão Europeia, braço executivo da UE, apresentou um dos projetos mais ambiciosos em nível mundial, mas ainda insuficiente para as organizações ambientalistas, e busca um acordo para que o bloco apresente uma frente unida na conferência do Clima de Paris em 2015.

Mas as posições entre os 28 ainda estão longe do consenso.

"As negociações não serão fáceis e não posso dizer se teremos um resultado", advertiu em sua chegada a chanceler alemã, Angela Merkel. "As posições de uns e outros estão muito distanciadas", afirmou o premiê holandês, Mark Rutte.

O francês François Hollande se mostrou mais otimista. Afirmou que um acordo está ao alcance, mas destacou que "um país resiste", sem mencionar qual.



Um acordo "crucial"

O plano apresentado pela Comissão, conhecido no jargão comunitário como o pacote 40-27-30, prevê 40% de redução de gases com efeito estufa com relação aos níveis de 1990, 27% de energia produzida com fontes renováveis e 30% de economia energética, ou de eficiência, para o período que vai até 2030.

Na manhã desta quinta-feira, o presidente do Conselho, Herman Van Rompuy, disse que espera alcançar este acordo, que considerou "crucial".

Mas inclusive antes da chegada dos chefes de Estado, a meta de 30% de eficiência energética foi reduzida a 27%, e ainda não foram estabelecidos todos os detalhes do acordo.



Dividir o fardo

Um esboço com as conclusões da cúpula, consultado pela AFP, estabelece que "todos os Estados-membros participarão do esforço, equilibrando justiça e solidariedade".

Em suma, trata-se de dividir esforços para alcançar objetivos. Mas este é o principal impasse. Pede-se aos últimos países que se incorporaram à UE - dependentes de fontes de energia fósseis -, entre eles a Polônia, que modernizem sua produção elétrica, em troca do que pedem compensações.

Espanha e Portugal não são reticentes aos objetivos, mas, em contrapartida, querem deixar de ser una "ilha" energética e conectar seu sistema elétrico ao restante do continente para inserir seu excedente de produção elétrica gerada sobretudo com energias renováveis.

Para isso, pedem metas de interconexão obrigatórias que supõem importantes investimentos. O premiê português, Pedro Passos Coelho, advertiu que "Portugal não poderá assinar as conclusões" se a Península Ibérica se mantiver como uma "ilha energética".

O principal obstáculo para Portugal e Espanha é a França, que se nega a incorporar os excedentes ibéricos à sua rede de distribuição, na qual predomina a energia nuclear.

"Ninguém questiona os objetivos, mas sim seu desenvolvimento" ou como alcançá-los, explicou uma fonte. "Todos esperam a participação e o impulso da Comissão", acrescentou. Esperam financiamento, em particular um pacote de investimentos de EUR 300 bilhões, proposto pelo novo presidente do braço executivo do bloco, Jean-Claude Juncker.

Por enquanto, há apenas um objetivo vinculante em nível nacional, o de redução de gases de efeito estufa. O das renováveis será avaliado em nível europeu, segundo o esboço de conclusões, enquanto o que diz respeito à eficiência é apenas uma meta indicativa.



Ebola, Ucrânia e zona do euro

Os líderes da UE também dedicarão parte da reunião desta quinta-feira à luta contra o Ebola, que já matou mais de 4.500 pessoas, principalmente no oeste da África.

Os países-membros e a Comissão já prometeram um pacote de EUR 600 bilhões para enfrentar a epidemia.

A Ucrânia também estará na pauta, ainda que não sejam esperados grandes avanços, nem mudanças na política comunitária com relação à Rússia.

Na sexta-feira, a zona do euro estará no cardápio. O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, participará do encontro dos presidentes dos 18 países que compartilham a moeda única.