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Repsol inicia prospecção de petróleo ao longo da costa das Canárias

18/11/2014 18h41

MADRI, 18 Nov 2014 (AFP) - A Repsol iniciou nesta terça-feira a busca por petróleo em frente ao litoral das Ilhas Canárias, que a empresa petrolífera apresenta com uma oportunidade para a Espanha, mas que tem forte oposição no arquipélago atlântico.

A perfuração, realizada pelo navio "Rowan Renaissance", arrendado pela Repsol para este fim, começou às 06H30 locais (04H30 de Brasília) e vai durar "uns sessenta dias", disse um porta-voz.

Esta primeira prospecção ocorre em alto-mar, cinquenta quilômetros ao leste das ilhas Lanzarote e Fuerteventura, conhecidas pelas paisagens vulcânicas e praias, em frente à costa africana.

A Repsol prevê buscar petróleo a profundidades de até 3.000 metros.

Se os resultados forem conclusivos, o grupo petroleiro tem a autorização do governo para realizar outras duas perfurações na mesma região, a até 6.900 metros de profundidade.



- Oposição local -

A Repsol estima haver entre 17% e 19% de possibilidades de descobrir jazidas de hidrocarbonetos no arquipélago. As primeiras explorações, realizadas no começo dos anos 2000, revelaram várias jazidas a 70 km da costa, perto da fronteira marítima com o Marrocos, mas foram suspensas por ordem judicial em 2004.

Agora, são as associações ambientalistas e o governo regional das Canárias que se opõem a este projeto, apoiado por Madri.

"Protegem uma empresa privada, a Repsol, para que assalte recursos que são nossos, que são dos canários, que são deste povo", condenou o presidente canário, Paulino Rivero, líder da coalizão nacionalista de centro-direita Coalizão Canária (CC).

O Tribunal Constitucional espanhol já suspendeu, após a apresentação de um recurso pelo governo espanhol, a realização de um referendo, previsto por Rivero para 23 de novembro, para perguntar aos canários: "Você acredita que as Canárias devem trocar seu modelo ambiental e turístico pelas prospecções de gás ou petróleo?".

O turismo é a principal fonte de renda das sete ilhas do arquipélago - Lanzarote, Fuerteventura, El Hierro, La Palma, La Gomera, Tenerife e Gran Canaria -, que receberam nos últimos anos 10,6 milhões de turistas.

Um porta-voz do governo regional disse esperar que o Tribunal Superior de Justiça das Canárias se pronuncie "esta semana ou a próxima" sobre um recurso contra as prospecções.



- Receio pelo meio ambiente - Para a Repsol, estas preocupações são infundadas porque o navio não é visível na costa. Além disso, a presença de combustíveis na região permitiria à Espanha, que importa cerca de 80% de sua demanda energética, reduzir drasticamente a conta, acrescentou o grupo. "Com este projeto, seriam reduzidas as importações em 10%", destacou o site na internet.

O grupo detalhou, ainda, o montante dos investimentos previstos - mais de 350 milhões de dólares para fazer as primeiras sondagens -, os ganhos econômicos e a criação de empregos prevista para as Canárias, onde a taxa de desemprego beira os 34% contra 24% para o conjunto do país.

Os ambientalistas temem, por sua vez, as consequências das prospecções para a rica fauna e flora da região, bem como os riscos sísmicos. O Fundo Mundial para a Natureza (WWF), o Greenpeace, e também os governos das ilhas de Lanzarote e Fuerteventura apresentaram uma denúncia ante a União Europeia, em Bruxelas, para tentar deter a Repsol.

O Greenpeace tentou se aproximar do "Rowan Renaissance" no fim de semana passado, gerando um incidente com um navio da Marinha espanhola, encarregado de fazer respeitar uma zona de exclusão marítima, durante o qual uma de suas militantes ficou ferida.

O navio da organização ambientalista, "Artic Sunrise", foi retido pelas autoridades, informou o Greenpeace.

O ministério do Fomento não confirmou a retenção, mas revelou ter aberto um expediente contra o Greenpeace porque sua embarcação "não respeitou a zona de exclusão à navegação e à pesca".