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Primeiro passo à Europa energética: romper o isolamento de Espanha e Portugal

04/03/2015 19h55

Madri, 4 Mar 2015 (AFP) - A ideia de uma Europa energética recebeu impulso nesta quarta-feira em uma cúpula franco-lusa-espanhola em Madri destinada a unir a península ibérica e suas importantes energias renováveis com as redes europeias.

Preocupada com sua grande dependência da Rússia para seu abastecimento e com os gastos com energia, a Comissão Europeia apresentou no dia 25 de fevereiro uma estratégia para criar um mercado integrado de energia.

Seus objetivos: tornar os abastecimentos mais seguros por meio da solidariedade entre os Estados-membros, rebaixar os preços graças à concorrência, e reduzir a emissão de gases de efeito estufa desenvolvendo as energias renováveis.

Uma semana depois, o presidente francês, François Hollande, se reuniu em Madri com os chefes do governo português, Pedro Passos Coelho, e espanhol, Mariano Rajoy, para concretizar essa estratégia desenvolvendo conexões para superar o isolamento de seus países em relação à Europa.

"Hoje iniciamos um processo único de convergência regional em energia e eu gostaria de ver cada vez mais (processos similares) em toda a Europa", afirmou o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, cujo plano de investimentos estratégicos, que prevê mobilizar 315 bilhões de euros em três anos, financiará essas iniciativas.

A cúpula definiu vários projetos, que falta ainda concretizar, incluído um cabo submarino entre Espanha e França através do golfo de Vizcaya e dois que cruzarão os Pirineus.

Essas interconexões permitirão exportar energias renováveis quando houver picos de produção na Espanha e em Portugal e também importar eletricidade quando a produção cair por falta de vento ou de sol.

A rede elétrica de Portugal, que cobre mais de 25% de seu consumo com energias renováveis, está bem conectada com a da Espanha e estará ainda melhor em 2016 com a abertura de uma nova linha de alta tensão.

A Espanha, por outro lado, está mal conectada com a França e se queixa disso há anos. Esse isolamento impede o país de rentabilizar os investimentos em energias renováveis (17% de sua produção) e em gás natural, exportando na Europa.

"Se tivesse uma interconexão entre a Espanha e o resto da Europa, menor seria a vulnerabilidade e a dependência do continente europeu em relação ao gás da Rússia", disse o ministro da Indústria e Energia espanhol, José Manuel Soria, à rádio pública espanhola.



Levar gás da Argélia à Europa Também foi acordado na cúpula uma melhor conexão da Espanha à rede de gasodutos franceses e ao resto da Europa, com a reativação de um antigo projeto, denomindo MidCat, que unirá a região espanhola da Catalunha com o sul da França.

"Vamos começar os estudos necessários para ver como poderemos passar a esta segunda fase de la obra", afirmou Hollande.

A Espanha quer ser reconhecida como uma plataforma energética de importância estratégica para a Europa com o gás que importa da Argélia pelo gasoduto e seus seis terminais para gás natural liquefeito importado de outras partes do mundo, explica Gonzalo Escribano, analista do Instituto Real Elcano de estudos estratégicos.

"Com uma interconexão entre Espanha e o resto da Europa, diminuiria a vulnerabilidade e a dependência da Europa em relação ao gás da Rússia", disse o ministro de Indústria e Energia espanhol, José Manuel Soria, à rádio pública espanhola nesta quarta-feira.

Para avançar no tema, em 2014 Madri conseguiu que seu antigo ministro da agricultura Miguel Arias Cañete fosse nomeado como comissário europeu de Energia.

Durante muito tempo a Espanha considerou que a França quer proteger sua indústria nuclear e seus monopólios públicos de distribuição da concorrência estrangeira.

Assim, foram necessários vários anos para dobrar a capacidade de uma linha de alta tensão entre a Catalunha e a região francesa de Perpignan. Inclusive, depois de sua inauguração na semana passada, a capacidade de interconexão da Espanha só representa 3% de sua capacidade de produção elétrica, bem abaixo da meta de 10% fixada pela Comissão Europeia para 2020.

Os dois países concordam sobre a necessidade comum de encontrar financiamento europeu para projetos de importância estratégica para a Europa, informaram as partes.

A península ibérica é só uma das frentes da união energética: as ilhas de Malta e Chipre, por exemplo, não estão conectadas à rede europeia e seis países da Europa do oriental (Bulgária, Estônia, Finlândia, Letônia, Lituânia e Eslováquia) dependem totalmente da Rússia para seu abastecimento de gás.