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Venezuela recorda 2 anos da morte de Chávez em um país em crise

05/03/2015 21h09

Caracas, 6 Mar 2015 (AFP) - O chavismo recordou nesta quinta-feira os dois anos da morte de Hugo Chávez com fogos de artifício e atos protocolares organizados pelo governo de seu herdeiro político, Nicolás Maduro.

"A palavra de ordem neste momento histórico é lutar e trabalhar (...). Que ninguém baixe a guarda", exclamou o presidente, na Praça Bolívar, em Caracas, onde presidiu uma "Tribuna Anti-Imperialista".

No discurso, Maduro voltou a atacar os veículos de comunicação estrangeiros, chamando-os de "estúpidos".

Depois disso, o presidente prestou uma homenagem a Chávez no Quartel da Montanha, onde jazem os restos mortais do líder venezuelano. Várias salvas foram disparadas em memória ao "comandante eterno" às 16h25, horário de sua morte.

Chávez faleceu vítima de um câncer, pouco depois de sua terceira reeleição presidencial.

Dezenas de pessoas depositaram flores em seu túmulo, enquanto um grupo de crianças entoava canções regionais.

Entre os convidados estrangeiros, estavam o primeiro-vice-presidente cubano, Miguel Díaz-Canel, e o ex-presidente hondurenho Manuel Zelaya.

Já o governo cubano organizou várias homenagens a Chávez na ilha. O ato central acontece nesta quinta-feira à noite na fortaleza de San Carlos de La Cabaña, organizado pela União de Jovens Comunistas.

De Havana também chegou uma homenagem da delegação das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Os guerrilheiros estão em Havana para negociar com o governo colombiano o fim do conflito no país, sob mediação cubana.

"Nessa data, 5 de março, comemoramos a marcha para a eternidade do comandante Hugo Chávez Frías, indiscutível dirigente da Venezuela bolivariana e um dos máximos representantes dos interesses populares na nossa América", disse o comandante Fidel Rondón, das Farc.



Popularidade despencando A devoção ao líder bolivariano, promotor desde 1999 de um modelo socialista baseado na redistribuição dos recursos petroleiros junto às classes pobres, permanece na iconografia do chavismo, com vários murais, cartazes e fotos com seu rosto espalhados pela capital.

A entrada de Chávez na política venezuelana aconteceu com o fracassado golpe de Estado liderado por ele em fevereiro de 1992 contra o então presidente Carlos Andrés Pérez. Na época, ele alegava que a Venezuela precisava de uma mudança de rumo por estar mergulhada na corrupção, pobreza, injustiça e exclusão social.

Desde sua chega ao poder, em 1999, com um estilo informal e direto, usou e abusou da retórica populista.

Valendo-se do boom dos preços do petróleo e de um estilo autoritário, anunciou, em 2007, que seu governo socialista faria uma série de estatizações, reduziria o espaço da atividade privada e aumentaria o controle sobre a economia.

A utilização do dinheiro do petróleo em extensos programas assistencialistas, considerados insustentáveis pelas fileiras opositoras, garantiu o apoio da população mais carente ao governo.

Sua figura está sempre presente nos discursos de Maduro, a quem muitos responsabilizam pela deterioração socioeconômica nacional. Hoje, o país sofre com inflação de 68,5%, escassez de produtos básicos, recessão e alta da criminalidade e da corrupção.

Segundo pesquisas de institutos privados, Maduro conta apenas com pouco mais de 20% de aprovação, um percentual bastante inferior aos índices já obtidos por Chávez.

"Em outubro de 2012, 44% se autodefiniam como chavistas. Em dezembro, o número caiu para 22%, ou seja, houve uma redução pela metade do capital político do chavismo", comentou o analista político John Magdaleno.

A vertiginosa queda de popularidade de Maduro, que coincide com a crise dos preços do petróleo, acontece a poucos meses das eleições legislativas. Pela primeira vez em muitos anos, existe uma possibilidade concreta de derrota governista mesmo diante de uma oposição desarticulada.



Corrupção desenfreada Apesar da fidelidade de muitos adeptos, principalmente dos que se beneficiam dos programas do governo, os chavistas começam a demonstrar seu desencanto com o rumo que o governo Maduro tomou, com seu modelo socialista e planejamento centralizado.

As vozes críticas, que questionam como o "madurismo" privilegia a corrupção, surgem até mesmo nas fileiras do chavismo, como aconteceu com o analista político Nicmer Evans, do PSUV. Ele praticamente foi expulso da militância sem sequer passar por um processo disciplinar.

Em artigo recente publicado no site de esquerda Aporrea, Evans enfatiza os privilégios das pessoas ligadas ao poder e seus atos de corrupção, como "designar a dedo contratações pelo Estado, com possibilidade de privilegiar familiares, amigos, ou compadres".