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Cuba se reconcilia com Clube de Paris e tenta reduzir a dívida

13/03/2015 17h03

Havana, 13 Mar 2015 (AFP) - Após quase três décadas de afastamento, Cuba deu início à sua reconciliação com o Clube de Paris, em um ano em que o presidente Raúl Castro destinará um quantia recorde de 5,6 bilhões de dólares ao serviço da dívida externa.

"Vamos concluir a reconciliação dentro de poucas semanas, e semanas ou meses mais tarde teremos uma negociação", disse o presidente do Clube de Paris e chefe do Tesouro francês, Bruno Bézard, em visita a Havana.

"Avançamos rápido. Por parte de Cuba e dos credores existe uma boa vontade de concluir este trabalho", acrescentou Bézard, que esteve na ilha há alguns dias com uma equipe do governo francês que prepara a visita do presidente François Hollande, no dia 11 de maio.

O Clube de Paris é um fórum informal de credores públicos criado em 1956, integrado por 19 países desenvolvidos, que se dedica a buscar soluções para as dificuldades de pagamento dos países devedores.

O tema da dívida estará na agenda da visita relâmpago de Hollande, primeira de um presidente francês a Cuba, e não se descarta o perdão de parte da dívida cubana, como fizeram nos últimos anos a Rússia, o Japão e o México.

Bézard calculou a dívida cubana com o Clube entre 15 e 16 bilhões de dólares, dos quais 5 bilhões correspondem à França.

Cuba suspendeu o serviço da dívida com o Clube de Paris em 1987, alegando "ingerência" de alguns de seus credores na política interna da ilha comunista. Um ano antes, havia renegociado favoravelmente suas dívidas de 1982-1986.

Em 2001 Havana propôs ao Clube uma nova renegociação sobre uma "solução razoável", mas fracassou diante das "condições totalmente inaceitáveis", exigidas pelos credores, segundo o Banco Central de Cuba.

Essa parte da dívida ultrapassa 7,983 bilhões de dólares e seria o cerne das de negociações, pois o restante corresponde fundamentalmente à dívida comercial.



Da "dívida impagável" de Fidel aos pagamentos de Raúl

O rompimento de Cuba com o Clube de Paris coincidiu com a crise da dívida na América Latina e com a campanha do então presidente Fidel Castro (1959-2006), que considerava essas dívidas "impagáveis".

Os dados oficiais atualizados da dívida total cubana não são conhecidos, mas devem superar os 22 bilhões de dólares. O número mais recente da dívida ativa administrado pelo Instituto Nacional de Estatística cubano é de 13,914 bilhões em 2011.

Mas Raúl Castro, que empreendeu reformas econômicas após suceder seu irmão em 2006, começou em 2009 a aplicar uma nova política dirigida a normalizar as relações com os credores, renegociando e pagando dívidas com três objetivos: gerar confiança, obter novos créditos e incentivar os investimentos estrangeiros.

"Para Cuba é primordial poder colocar em ordem todos os seus compromissos financeiros internacionais. Seria o próximo passo a uma política econômica mais prudente com os gastos desde 2009", disse à AFP o economista cubano Pavel Vidal, da la Universidad Javeriana de Cali, Colômbia.

Segundo o ex-ministro da Economia e das Finanças José Luis Rodríguez, o serviço da dívida foi de em média a 3,22 bilhões de dólares entre 2010 e 2014, cifra que representa 4,7% do PIB cubano.

Para 2015, o governo cubano "decidiu pagar 5,66 bilhões de dólares, assim como captar créditos de 5,557 bilhões", explicou Rodríguez ao portal Cubacontemporánea.



"Investimentos, além de créditos"

"Essa política de controle dos gastos e as reformas em curso permitem a Cuba negociar com os credores internacionais com base em uma credibilidade financeira que se foi construindo pouco a pouco", explicou Vidal.

"Com esta decisão cresce a credibilidade do país no processo de captação de novos investimentos estrangeiros", avaliou Rodríguez.

Com isso, Cuba passa de uma política de introspectiva, que dificultava o crescimento econômico e o consumo, a uma mais expansiva, apontam os analistas.

"Receber novos financiamentos a partir da renegociação das dívidas externas ajuda que esta mudança de política econômica não afete os equilíbrios macroeconômicos. E melhor ainda se, além dos empréstimos, chegarem investimentos que tragam novas tecnologias e acessos a redes globais de valor", concluiu Vidal.