IPCA
0,83 Abr.2024
Topo

Após sucesso diplomático, China enfrenta desafio de gerir banco de investimento

01/04/2015 16h39



Pequim, 1 Abr 2015 (AFP) - Pequim obteve uma vitória diplomática atraindo quase 50 países para o seu Banco Asiático de Investimento em Infraestruturas, embora agora deva convencer sobre sua capacidade de gerir satisfatoriamente essa instituição financeira multilateral.

Com um capital inicial de 50 bilhões de dólares e um bom número de países ocidentais entre seus membros, a nova estrutura será um contra-peso ao controle exercido por Estados Unidos e Japão no Banco Asiático de Desenvolvimento (BAD).

Quando a segunda economia mundial anunciou a iniciativa em outubro, poucos esperavam tantas candidaturas ocidentais.

Após a adesão do Reino Unido, muitos outros países (Alemanha, França, Itália, Espanha e Austrália) se somaram para influir nas negociações preparatórias. E tudo isso apesar de Washington, surpreso e impotente.

Ao fim do prazo de apresentação de candidaturas na terça-feira, 49 Estados, além de Taiwan, eram candidatos a membros fundadores da nova instituição, cujos estatutos estão para ser definidos. Entre eles, há 18 dos 34 Estados da OCDE.

Estados Unidos e Japão destacam-se pela ausência, depois de terem adiantado suas preocupações em relação ao modo como a nova instituição será governada.

Segundo Rajiv Biswas, economista do gabinete de análise IHS, os chineses "estarão contentes em aproveitar a experiência dos países desenvolvidos".

"Pequim quer de qualquer maneira ganhar credibilidade internacional e obter com o BAII resultados definitivos", acrescentou.

Para Biswas, a presença de países europeus "reduzirá o risco de opacidade" da instituição e o BAII poderá "contribuir para as boas práticas dos países desenvolvidos", defende Rajiv Biswas.



Ambições chinesas na região

O pano de fundo de fundo deste novo banco multilateral são as grandes necessidades de investimentos em infraestruturas na Ásia nos setores de transportes, energia e telecomunicações.

Segundo o BAD, entre 2010 e 2020 seria necessário investir um total de 8 trilhões de dólares.

O novo banco poderá contribuir para a redução do déficit de investimentos, mas também ajudará os interesses chineses.

A China já está ocupada na criação de um banco de desenvolvimento dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), e um fundo destinado a financiar projetos nas novas "rotas da seda", na Ásia central e no sul do continente.

Para os especialistas do banco australiano ANZ, o BAII apoiará as iniciativas a fim de garantir novos mercados aos grupos chineses, usando as reservas internacionais de Pequim, que são as maiores do mundo.

Mais direto, Damien Ma, pesquisador do Instituto Paulson de Washington, afirma que "essas novas entidades são instrumentos que apoiarão de uma forma ou de outra as ambições chinesas na região".



Um funcionamento sob vigilância

Quanto ao funcionamento, Pequim sabe que deverá estar à altura, sobretudo considerando que o balanço dos créditos chineses na África e na América Latina "é contrastado com projetos em falência ou com resultados modestos, sem contar com os dados ao meio ambiente", aponta Christopher Balding, professor na Universidade de Pequim.

Muitos europeus advertiram que estarão muito atentos às questões de transparência, eficiência e meio-ambiente no BAII. Nesse sentido, Paris e Berlim condicionaram sua participação a "uma boa governança".

Além disso, o fluxo de pretendentes pode complicar a tarefa da China, que deverá conciliar interesses variados.

"Quanto mais países tiver a bordo, mais difícil será de controlar, porque cada membro esperará ter sua voz ativa", afirma Balding.

Segundo a imprensa, a China teria abandonado seu direito de veto às decisões do banco, algo que Pequim negou ter ambicionado, para tranquilizar os ocidentais.