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FAO anuncia queda expressiva do número de pessoas que passam fome no mundo

27/05/2015 11h28

Paris, 27 Mai 2015 (AFP) - Um mundo sem fome é possível, segundo a FAO, que anunciou uma diminuição de 25% do número de pessoas que passam fome em 25 anos, a menos de 800 milhões pela primeira vez.

Em um relatório conjunto das agências especializadas sobre a insegurança alimentar no mundo (SOFI 2015), publicado nesta quarta-feira, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) estime que 795 milhões de pessoas continuam em situação de subalimentação, o que representa uma queda de 167 milhões na última década, com avanços importantes na Ásia (Azerbaijão, China, Tailândia, Mianmar, Vietnã) e na América Latina (Brasil, Chile, Venezuela e Bolívia à frente).

A África Subsaariana, no entanto, permanece em alerta vermelho com 23,2% de sua população em estado de subnutrição, especialmente na República Centro-Africana, Costa do Marfim, Libéria, Madagascar, Namíbia, Uganda, Tanzânia e Zâmbia, onde o progresso "é muito lento".

O relatório observa que mais da metade dos países em desenvolvimento (72 de 129) atingiram a Meta do Milênio, definida em 2000, em Nova York, para reduzir a fome pela metade em 15 anos.

"Alguns (9) não conseguiram por muito pouco", observou o diretor-geral da FAO, o brasileiro José Graziano da Silva, em coletiva de imprensa.

O número de pessoas que sofrem de fome passou de 23% em 1990 para pouco menos de 13% em 2015, "cerca de 216 milhões de pessoas a menos", apesar de um aumento contínuo da população, com 1,9 bilhão de humanos a mais desde 1990.

Mas para manter esses ganhos é preciso aumentar a capacidade dos agricultores para produzir mais e melhor, aumentando a sua produtividade e acesso a mercados.



Fome e crescimento, dois objetivos diferentes

"O crescimento econômico é importante, mas não suficiente, ele deve incluir todos", argumentou Stanlake Samkange, responsável pelo Programa Alimentar Mundial (PAM, co-autor do SOFI).

"Infelizmente o crescimento econômico não inclui a todos, especialmente as mulheres", acrescentou, ao destacar a falta de correlação entre a "redução da pobreza econômica e redução da fome."

"Devemos pôr em prática sistemas mais distributivos do crescimento", enfatizou José Graziano da Silva, defendendo a "expansão dos sistemas de proteção social, por exemplo", já em vigor em 130 países, e a integração das regiões rurais mais remotas, que são sempre as mais afetadas pela fome.

Ele lembrou que 80% dos alimentos consumidos nos países em desenvolvimento são produzidos por pequenos agricultores, que são os mais afetados pelas alterações climáticas.

"O verdadeiro progresso nas zonas rurais exigirá investimentos para gerar renda, emprego e, sobretudo, para o desenvolvimento de infraestruturas, educação, acesso à água", insiste Josefina Stubbs, vice-presidente do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA).

Será "essencial" que os Objetivos de Desenvolvimento (ODD) que serão adotados em setembro em Nova York "coloquem as populações rurais à frente" das ambições. Apenas erradicar a pobreza rural custaria "três bilhões de dólares", afirma Stubbs, citando estimativas.

Todos acreditam que o "objetivo Fome Zero é alcançável durante a nossa vida", mas a FAO e o PAM alertam contra a duração e a persistência de situações que dificultam a luta contra a fome: em 30 anos, as crises, anteriormente "catastróficas, breves, mas altamente visíveis, atualmente se estendem por muito tempo, em especial os desastres naturais e conflitos, as mudanças climáticas, crises financeiras ou crises sobre os preços que atuam como fatores agravantes. "

"A fome em países que vivem este tipo de situação é três vezes maior do que em outros lugares. Em 2012, cerca de 366 milhões de pessoas viviam neste tipo de contexto e destes 129 milhões, estavam subnutridos - 19% dos famintos" no planeta.

Mas o significado das crises, sua longevidade e crueldade, capturam uma parte cada vez maior da ajuda internacional fornecida pelos principais doadores: "A ajuda de emergência é vital, mas não podemos esquecer dos objetivos a longo prazo da ajuda ao desenvolvimento", insiste o diretor da FAO.