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Debate sobre referendo grego agita a Espanha

03/07/2015 19h02

Madri, 3 Jul 2015 (AFP) - O referendo na Grécia gerou debate nesta sexta-feira na Espanha: os aliados do Syriza veem nele uma oportunidade "histórica" de mudar a Europa enquanto a direita no poder teme um contágio que prejudique a melhora econômica antes das legislativas.

A consulta grega ganha especial relevância em um país onde o governista Partido Popular (PP) teme ser expulso do poder nas eleições legislativas no final do ano por uma coalizão de esquerdas liderada pelo jovem partido antiliberal Podemos que, assim como seu aliado Syriza, denuncia as políticas de austeridade.

Os representantes de seis formações e plataformas de esquerda expressaram nesta sexta-feira em Madri seu apoio aos partidários do 'não', contra o que chamaram de "austericídio".

Votar 'não' às últimas condições apresentadas à Grécia pelos credores "significa recusar as políticas de austeridade e também a todos os governos que aplicam essas políticas nos demais países da Europa", declarou em coletiva de imprensa Rommy Arce, conselheira do Ahora Madrid, plataforma cidadã que governa a capital espanhola desde meados de junho.

"Somos solidários ao povo grego. Somos porque nós também sofremos com as políticas da troika" (FMI, Banco Mundial e Banco Central Europeu), declarou Juantxo López de Uralde, porta-voz do partido ecologista Equo e uma das figuras do movimento dos 'indignados', que acampou em Madri contra a austeridade e a corrupção em maio de 2011.

"O 'não' no referendo grego não é um 'não' à Europa, não é um 'não' ao euro, é um 'sim' à democracia", acrescentou.

"O dilema fundamental é entre democracia e austericídio", ressaltou Jaime Pastor, membro do Podemos, partido de esquerda que se transformou na terceira força política do país em um ano e meio de existência.

"Nosso futuro dependerá do que acontecer na Grécia", completou antes de considerar que se está diante de uma "oportunidade histórica de lutar por outra Europa" mais social.

O Podemos não pediu abertamente o voto contra os credores. mas um de seus representantes estará em Atenas no domingo, e o partido defendeu o direito dos gregos a decidir seu futuro.

A Espanha retomou seu crescimento em 2014 (+1,4%), mas sua taxa de desemprego permanece muito alta, 23,78%, logo atrás da Grécia, cuja desocupação ultrapassa 25% segundo os últimos dados disponíveis.

Por isso o medo de um cenário parecido caso o Podemos chegue ao poder impulsionado por uma população asfixiada por quatro anos de austeridade.

Na sexta-feira, o ministro da Economia, Luis de Guindos, não escondeu sua posição. "Se o 'sim' ganhar, será muito mais simples, muito mais fácil e muito mais viável", declarou, acrescentando que o anúncio do referendo - que julga "sem sentido" e "um erro"- foi "um balde de água fria" para os dirigentes europeus.

Na quinta-feira, o chefe de governo, Mariano Rajoy, também se pronunciou indiretamente a favor do 'sim', denunciando as "decisões unilaterais e políticas dos atos consumados por Atenas".

De olho nas próximas eleições legislativas, De Guindos reforçou que a economia espanhola é sólida, mas alertou os partidários do Podemos: "Não tenho a menor dúvida de que, se na Espanha as reformas forem revertidas (...) poderemos ter uma queda muito rápida do crescimento econômico".

O debate também chegou às ruas, com manifestações de apoio ao 'não' em Barcelona e Madri marcadas para esta sexta-feira, sábado e domingo. Na capital catalã, cerca de 150 pessoas se reuniram em frente ao escritório da União Europeia com gritos de "troika não, Grécia sim".

"Acho que o melhor para a Grécia é votar 'não', mas no fim o importante é que eles decidam e não a troika", disse Pablo Martínez, um manifestante de 36 anos.

Exemplo do interesse que o referendo suscita, a rádio privada "Cadena Ser" fará transmissões diretamente de Atenas no domingo à noite e na segunda-feira de manhã.