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Desaceleração da China preocupa a África

28/08/2015 19h58

Joanesburgo, 28 Ago 2015 (AFP) - Em 2013, a companhia chinesa Shanghai Zendai comprou 1.600 hectares de terreno perto de Johannesburgo para construir a "Nova York africana", um projeto faraônico em risco no continente africano após a desaceleração da economia chinesa.

A cidade dormitório de Modderfontein, nos arredores de Johannesburgo, é um símbolo das ambições, às vezes grandiosas, da China na África.

Por 7,8 bilhões de dólares, os investidores prometeram transformar este lugarzinho anônimo nas redondezas de Johannesburgo em uma cidade com 35.000 moradias em arranha-céus, com um parque feito para rivalizar com o Central Park nova-iorquino.

Em 2009, a China se transformou no principal parceiro econômico do continente com a importação maciça de matérias-primas africanas.

O aumento dos preços permitiu à África subsaariana garantir um crescimento médio de 4% nos últimos 20 anos.

Rodovias, ferrovias, minas, energia. A África contou com os altíssimos investimentos de seu parceiro chinês em numerosos setores para garantir seu desenvolvimento.

O gigante asiático construiu centrais elétricas em Botsuana, participou em projetos de instalações hidrelétricas na Zâmbia, no Gabão e na República Democrática do Congo, e financiou a construção da sede da União Africana em Adis Abeba.

Maior importador de tabaco zimbabuense - por cerca de 176 milhões de dólares anuais -, a China está por trás da construção da rodovia que circunda Maputo e da reconstrução das linhas ferroviárias entre Lagos e Kano em Nigéria, por 2,5 bilhões de dólares.

Mas o freio da demanda chinesa e a esquizofrenia dos mercados financeiros gera dúvidas sobre a fortaleza do crescimento chinês e preocupa os países que dependem dela.

"É como se tivesse havido uma grande festa e a ressaca durasse mais tempo do que o previsto", analisa para a AFP Dennis Dykes, economista-chefe para Nedbank.

"Não era realista pensar que a China fosse continuar com o ritmo que tinha", completa.

"A maior repercussão foi no preço das matérias-primas, o que afeta diretamente a África. Também afeta os investimentos que sem dúvida vão desacelerar", diz Celeste Fauconnier, pesquisadora sobre a África para o Rand Merchant Bank. "Deveríamos nos preocupar", acrescenta.

"Dopados pelo crescimento chinês"Alguns países já foram afetados pela queda das matérias-primas.

Os funcionários nigerianos receberam seus salários com atraso depois que o preço do petróleo caiu abaixo dos 50 dólares o barril, esvaziando os cofres do maior produtor de petróleo do continente.

Na África do Sul, as exportações de ferro caíram 36,9% desde o passado ano e várias empresas mineiras anunciaram demissões em massa.

A Zâmbia também não escapou. O cobre representa 70% de suas exportações. Fresno Yamba, um funcionário do Tesouro zambiano disse estar "preocupado" já que a "China é um de seus principais compradores".

"As dificuldades recentes da economia chinesa têm consequências na nossa balança de pagamentos correntes e nossa balança comercial", assegura Hugo Pienaar, economista sul-africano na universidade de Stellenbosch.

Para lutar contra esses efeitos secundários da desaceleração chinesa e manter um ritmo de crescimento alto, os africanos têm que aprender a não depender excessivamente das matérias-primas.

"A maioria dos países da África subsaariana se doparam com o crescimento chinês. Há quinze anos deveriam ter diversificado suas economias e deixado de depender exclusivamente das matérias-primas. Nunca é tarde, mas a pressão agora é grande", avalia Martyn Davis, diretor da Frontier Advisory, uma empresa de assessoria para as economias emergentes.

Apesar dessa preocupação, os temores de que China deixe de ser um parceiro fundamental na África são um pouco alarmistas, segundo Ryan Wibberley, analista da Investec.

"A China se beneficiou de parcerias privilegiadas com muitos países africanos e pôde lançar grandes projetos de infraestrutura", estima. "Acho que o PIB chinês tem que ser muito mais afetado para que tudo isso seja questionável", conclui.

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