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Economia brasileira se afunda ainda mais na recessão

01/12/2015 18h41

Rio de Janeiro, 1 dez 2015 (AFP) - A economia brasileira, a sétima do mundo, sofreu uma contração de 1,7% no terceiro trimestre do ano em relação ao trimestre anterior, mais que o esperado pelo mercado e aprofundando a recessão iniciada este ano.

O Produto Interno Bruto (PIB) também se contraiu de julho a setembro, 4,5%, em relação ao terceiro trimestre de 2014, o maior retrocesso desde que começou a série histórica, em 1996, afirmou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Economistas consultados pelo jornal Valor esperavam uma queda de 1,3% no terceiro trimestre em relação ao segundo e de 4,2% em comparação ao mesmo período de 2014.

No primeiro e no segundo trimestre do ano, a economia brasileira teve uma contração de 0,8% e 2,1% respectivamente em relação ao trimestre anterior, segundo dados revisados e divulgados nesta terça-feira.

ObituárioEm recessão desde o segundo trimestre de 2015, a maior economia da América Latina vai de mal a pior: de janeiro a setembro, o PIB acumula uma queda de 3,2% em relação ao mesmo período do ano passado, também a maior queda acumulada desde o início da série em 1996.

No acumulado dos últimos quatro trimestres, a contração do PIB é de 2,5%.

"A primeira leitura dos dados do 3o. trimestre lembram um obituário", observou André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos em São Paulo, que estima que os números podem piorar "pelo menos até meados do ano que vem".

O mercado projeta um retrocesso do PIB de 3,19% este ano e de 2,04% em 2016. Se forem confirmados os dois anos consecutivos de recessão, será a primeira vez que isto ocorrerá em 85 anos, desde 1930-31.

A presidente Dilma Rousseff enfrenta um complexo cenário, que une contração da atividade econômica, da atividade, déficit fiscal, uma inflação de quase dois dígitos e um desemprego crescente. Sua popularidade está em apenas 10%, a oposição pede seu impeachment e o Congresso demora a aprovar o plano de austeridade proposto pelo governo.

O escândalo de corrupção na Petrobras, que abalou a economia e levou grandes empresários, banqueiros e figuras do Partido dos Trabalhadores (PT) à prisão, somou-se à decisão da agência Standard and Poor's de retirar o grau de investimento do país.

Outras duas grandes agências, a Moody's e a Fitch, rebaixaram a nota do Brasil ao último escalão, deixando o país na iminência de perder o certificado de bom pagador.

"A consecução do ajuste fiscal, com mitigação do risco de perda do grau de investimento e que logre recuperar a confiança dos agentes econômicos, é fator indispensável para a reversão do cenário menos favorável em que tem se movido a economia brasileira nos últimos trimestres, notadamente a queda do investimento total, que persiste desde 2013", afirmou o ministério de Fazenda em um comunicado.

Perfeito explicou que a economia do país está em processo de ajuste recessivo, composto por três aspectos: uma forte alta das taxas de juros (14,25% anual), um ajuste fiscal e um pessimismo gerado por uma crise política muito severa.

"O ajuste demorou muito tempo para se concretizar, e isso gerou uma situação de agonia prolongada. É um processo que deve ser rápido, mas está sendo muito difícil, devido à crise política e às manobras de obstrução ao corte de gasto pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, arquirrival de Dilma Rousseff", explicou Perfeito.

Como a GréciaO governo de Dilma precisa com urgência que o Congresso aprove a meta fiscal de 2015, várias vezes até transformar-se em déficit, pois caso o contrário estará violando a lei de responsabilidade fiscal.

Para 2016, espera melhorar as contas e poder gerar um superávit fiscal primário (sem considerar o pagamento dos juros da dívida) de 0,7%, meta que parece ambiciosa considerando-se os números atuais.

"Ter um superávit mínimo no ano que vem é essencial. Senão, a gente fica que nem a Grécia, um país com problemas estruturais e que não consegue poupar nada para pagar a dívida", advertiu o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, em entrevista ao jornal O Globo publicada na segunda-feira.

"Nesse cenário ninguém iria investir e o emprego despencaria", acrescentou. "É claro que o Brasil, com 200 milhões de habitantes, toda a riqueza, a indústria e a agricultura que tem, não é para ser a Grécia dos últimos anos. Portanto, a gente tem que se organizar, ter a disposição de tomar as medidas necessárias".

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