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Fed diz que há razões para elevar taxa básica de juros

26/08/2016 18h19

Washington, 26 Ago 2016 (AFP) - As razões para que as taxas básicas de juros subam nos Estados Unidos aumentaram nos últimos meses - afirmou nesta sexta-feira (26) a presidente do Federal Reserve (Fed, o Banco Central americano), Janet Yellen.

Em discurso em uma reunião anual da entidade no Wyoming, Yellen falou de um forte crescimento do mercado atacadista e disse que é preciso esperar aumentos da taxa básica nos próximos anos.

"À luz do sólido e sustentável desempenho do mercado de trabalho, de nossas perspectivas de atividade econômica e da inflação, acho que o argumento para aumentar a taxa básica de juros se fortaleceu nos últimos meses", declarou, durante o simpósio anual que o Fed realiza em Jackson Hole, no Wyoming.

As palavras de Yellen, que influenciarão os mercados, deixaram claro as intenções das autoridades de política monetária americanas. Nos últimos meses, vem-se mencionando a necessidade de subir as taxas em curto prazo.

Ao longo do ano, analistas de mercado se queixaram dos pronunciamentos públicos do Fed, por considerá-los evasivos e até contraditórios, o que, segundo eles, gerava perplexidade nos investidores.

As afirmações de Yellen aumentam a probabilidade de que o Comitê de Política Monetária (FOMC, na sigla em inglês) eleve as taxas ainda no correr deste ano - inclusive já na reunião de setembro.

O Fed aumentou as taxas em dezembro de 2015 pela primeira vez em quase uma década e pareceu concluir, assim, suas políticas de apoio à economia para responder à grande recessão de 2008 e 2009.

As taxas ficaram entre 0,25% e 0,50%, e o Fed não deu sinais de sua intenção de voltar a aumentá-las.

A entidade visava ao crescimento dos Estados Unidos, temendo que acontecesse de forma lenta e, ao mesmo tempo, advertiu sobre as muitas incertezas no mundo - especialmente na China e na Europa.

Apesar de seu claro sinal de que o aumento dos juros agora é mais provável, Yellen advertiu que as decisões dependem de condições econômicas que podem sofrer muitas mudanças.

"Nossa capacidade para prever como evoluirá a taxa básica é muito limitada, porque a política monetária necessitará responder a qualquer problema problema que possa abalar a economia", explicou Yellen.

Ela acrescentou que algumas dessas condições se tornam visíveis apenas depois que acontecem.

"Por isso, a margem de resultados razoáveis é muito ampla para as taxas", destacou.

Yellen mencionou estudos, segundo os quais há 70% de possibilidades de que as taxas sejam entre 0% e 3,25% até o final de 2017. Essa margem se expandiria para ficar entre 0 e 4,5% no final de 2018.

"Quando ocorrem choques, e o panorama econômico muda, é preciso fazer ajustes", acrescentou Yellen.

A presidente do Fed destacou que a economia incorpora novos empregos em um ritmo mensal médio de 190.000, e o consumo continua em uma base sólida.

Os comentários de Yellen foram mais diretos e claros do que os pronunciamentos anteriores do Fed, que mostravam uma mistura de inflação relativamente baixa e uma produtividade fracas.

O discurso de Yellen coincidiu com uma revisão para baixa do já anêmico crescimento econômico americano no segundo trimestre. O Departamento do Comércio informou que, nesse período, a economia cresceu 1,1% - um décimo de ponto percentual a menos do que se previa.

Antes da abertura do simpósio de Jackson Hole, nesta sexta, membros do FOMC se reuniram com ativistas que acusam o Fed de ser liderado por pessoas brancas e endinheiradas provenientes do setor financeiro privado. Além disso, considera que o aumento das taxas prejudicará o trabalho e as minorias.

"Se decidirem que estamos agora com máximo emprego e, intencionalmente, desaceleram a economia, vão nos deixar para trás. Vão chutar a escada, depois que vocês já subiram", reclamou Rod Adams, de uma organização de Minnesota.

O presidente do Fed de São Francisco, John Williams, mostrou compreensão com as queixas, mas respondeu que, demorar a elevar as taxas pode provocar recessão em alguns anos.