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Dubai cria salmões em pleno deserto

O salmão é um peixe anádromo, ou seja, nasce na água doce, migra para o mar durante a vida adulta e volta para a água doce para se reproduzir - Paul Nicklen/National Geographic Creative
O salmão é um peixe anádromo, ou seja, nasce na água doce, migra para o mar durante a vida adulta e volta para a água doce para se reproduzir Imagem: Paul Nicklen/National Geographic Creative

25/11/2019 15h17

Dubai, 25 Nov 2019 (AFP) — No centro de controle em pleno deserto de Dubai é possível recriar as condições climáticas da Noruega e as correntes frias do Atlântico para garantir a sobrevivência de uma indústria salmoneira incipiente, apesar do calor sufocante dominante.

Dubai tem familiaridade com projetos ambiciosos, como a construção de uma ilha em formato de palmeira em frente à costa ou pistas de esqui dentro de um shopping center.

Mas "ninguém teria imaginado" que fosse possível criar salmões no deserto, admite Bader bin Mubarak, diretor-executivo da fazenda de piscicultura. "É exatamente o que estamos fazendo em Dubai", garante.

Nas instalações, a água e a temperatura flutuam para criar as condições necessárias para os salmões crescerem em quatro tanques gigantescos em pleno deserto.

"Simulamos o nascer e o pôr-do-sol, as ondas, as correntes marinhas ou simplesmente a água doce dos rios e temos águas profundas e pouco profundas", explica Mubarak à AFP.

Mesmo para um país conhecido por seus empreendimentos extravagantes, construir uma fazenda de piscicultura na fronteira sul do Emirado foi um verdadeiro desafio.

O salmão vive normalmente nas águas frias de Islândia, Noruega, Escócia, Alasca ou Chile, razão pela qual criar salmão em um país onde as temperaturas alcançam os 45º é no mínimo arriscado.

"Criar o ambiente correto para o salmão foi o mais difícil", reconhece Mubarak.

"Mas tivemos a ideia de escurecer a água, que se parece com as águas profundas, uma forte corrente como o oceano com o mesmo nível de salinidade e a temperatura do Atlântico", acrescenta.

'Excelente produção'

A fazenda comprou 40.000 alevinos em um criadouro na Escócia e milhares de ovos na Islândia para cultivá-los em tanques abertos no distrito de Jebel Ali, no sul do país.

O salmão nasce na água doce, mas vive na água salgada a maior parte da vida, antes de retornar aos rios para desovar.

Em seu novo lar nos Emirados Árabes Unidos, os tanques são cheios com água do mar limpa e filtrada.

A fazenda produz entre 10.000 e 15.000 quilos de salmão mensalmente.

Foi construída em 2013 com o apoio do príncipe xeque Hamdan bin Mohammed bin Rashid Al-Maktoum, para criar salmão e outros peixes, como os da espécie 'Seriola quinqueradiata', usados no preparo do sushi.

Apesar do desafio tecnológico, a "maior produção" da fazenda é de salmão, vendido em Dubai e no restante dos Emirados Árabes Unidos, onde vivem milhões de expatriados.

"Os EAU importam cerca de 92% do peixe que consomem, e o objetivo é substituir estas importações por produção interna para ter segurança alimentar", explica Mubarak.

"Em caso de interrupção, ciclones ou inundações, os EAU poderão se abastecer sozinhos. Este é o principal objetivo", admite.

Prós e contras

Outro objetivo da fazenda é respeitar o meio ambiente. Em vista da enorme demanda energética, o empreendimento tem planos para se abastecer com energia solar.

Os prós e contras ecológicos da indústria pesqueira em terra, em comparação com a criação em rios e mares, gera um intenso debate acerca da alternativa de criar peixes na natureza.

"Existe a preocupação com o bem-estar dos peixes em tanques fechados, cujo comportamento natural é nadar livremente em mares e rios", diz Jessica Sinclair Taylor, do Feedback Global, grupo ambientalista sediado em Londres.

"Também preocupam as necessidades energéticas e, portanto, as emissões de carbono".

Mas ela também admite que a pesca em terra evita a contaminação de lagos e mares, onde costumam ficar instaladas as fazendas salmoneiras, e onde os rejeitos podem alterar os ecossistemas marinhos.

Segundo a Câmara de Indústria e Comércio de Dubai, os EAU importaram 2,3 bilhões de dirhams (630 milhões de dólares) de pescado, crustáceos e moluscos em 2017 e exportaram 280 milhões.

A única fazenda de piscicultura dos EAU espera produzir ao menos 50% das necessidades do país em dois anos, diz Mubarak.

Em abril, começou a vender seus produtos em supermercados. Apesar de suas origens, o salmão é rotulado como 100% orgânico pela alimentação dada ao peixe e a ausência de antibióticos.

"É mais caro, mas também penso na qualidade - provei diferentes tipos de salmão e este é menos gordo e minha família o prefere", diz Katja, uma alemã residente em Dubai.

Ela diz que os Emirados Árabes Unidos estão "realmente fazendo enormes esforços para produzir não apenas pescado, mas também verduras e outros tipos de alimentos localmente". "Acho que deveríamos apoiá-lo", afirma.