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UE não pagará em rublos por gás russo e se prepara para cortes de abastecimento

Praticamente 40% do gás liquefeito utilizado pela indústria europeia provêm da Rússia - Cristina Arias/Cover/Getty Images
Praticamente 40% do gás liquefeito utilizado pela indústria europeia provêm da Rússia Imagem: Cristina Arias/Cover/Getty Images

Em Bruxelas

03/05/2022 06h04

A UE (União Europeia) não pagará em rublos por suas compras de gás e se prepara para cortes de abastecimento, afirmou ontem uma fonte próxima à Comissão Europeia no final de uma reunião de ministros em Bruxelas.

A comissária europeia de Energia, Kadri Simson, disse que a exigência russa de receber pagamentos em rublos é uma "modificação unilateral e injustificada dos contratos, por isso, é legítimo recusá-la".

De acordo com Simson, aproximadamente 97% dos contratos assinados por empresas europeias para compra de gás russo especificam o euro e o dólar americano como moedas de pagamento.

Simson disse que os pagamentos que deveriam ser efetuados em meados de maio se realizarão "em consonância com os contratos".

"Devemos nos preparar para uma suspensão do abastecimento", disse Simson.

A reunião é a primeira do setor desde que Moscou cortou o abastecimento à Polônia e Bulgária que se negaram a pagar em rublos por suas importações de gás liquefeito.

No final do encontro, a Comissão Europeia comunicou aos países do bloco sua convicção de que pagar as compras de gás russo em rublos representa uma ruptura das sanções adotadas pela UE contra a Rússia.

No entanto, afirmou que, a pedido dos próprios ministros, a Comissão "fornecerá uma guia mais detalhado do que as empresas podem ou não podem fazer no âmbito das sanções".

A questão se tornou uma enorme dor de cabeça para a UE: praticamente 40% do gás liquefeito utilizado pela indústria europeia provêm da Rússia.

A possibilidade de que a Rússia corte o abastecimento de gás aos países que se neguem a pagar em rublos acende os sinais de alerta e para evitar este cenário é preciso esclarecer quais seriam as alternativas.

"Pedimos uma explicação clara sobre como proceder", disse ao fim da reunião o ministro da Indústria e Comércio da República Tcheca, Josef Síkela.

Processo "muito complexo"

Khashayar Farmanbar, ministro da Suécia, destacou que "os esclarecimentos estão caminhando, mas o processo é muito complexo".

"Pagar em uma moeda é uma coisa, mas se a operação envolve o banco central de outro país se torna um negócio diferente e será delicado administrar isso. Creio que a Comissão [Europeia] está empenhando seus melhores esforços para esclarecer a questão", afirmou.

Já a ministra polonesa de Ação Climática e Meio Ambiente, Anna Moskwa, afirmou que a Comissão Europeia "confirmou que pagar em rublos é inaceitável".

Os representantes dos países bálticos (Estônia, Lituânia e Letônia), Dinamarca, Holanda e Finlândia garantiram que não pagarão suas compras de gás russo em rublos.

Ao chegar à reunião, Moskwa lamentou a decisão russa de cortar o abastecimento de gás da Polônia e Bulgária.

"Pedimos um embargo imediato sobre o petróleo e gás russos. Chegou o momento do petróleo, logo será do gás", disse.

Devido às sanções adotadas pela UE, a empresa russa de hidrocarbonetos Gazprom passou a exigir que os pagamentos sejam em moeda russa, em um procedimento que envolve o banco central do país, contornando as sanções.

Os ministros também discutiram um encerramento gradual das compras de petróleo e derivados russos, mas nenhuma decisão foi adotada sobre o tema nesta reunião.

"Um novo pacote de sanções está em preparação", afirmou a ministra francesa de Transição Ecológica, Barbar Pompili.

E no Panamá, onde está em visita oficial, o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell advertiu que "mais bancos russos sairão do (sistema) Swift", uma plataforma crucial para as transações internacionais.

Várias fontes diplomáticas europeias indicaram durante o fim de semana que um dos bancos afetados será o Sberbank, que representa 37% do mercado russo.