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Alta do PIB surpreende, mas cenário adverso adia promessa de retomada

30/08/2013 10h02

A alta do PIB de abril a junho, acima das expectativas do mercado, não será suficiente para concretizar a promessa de retomada da economia, inicialmente prevista pelo governo para acontecer ainda em 2013. A opinião é de economistas ouvidos pela BBC Brasil.

Eles avaliam que, embora a atividade econômica tenha voltado a acelerar no período, a melhora não se refletirá em um crescimento muito mais forte neste ano, semelhante ao verificado antes da crise.

Segundo os especialistas, em meio à desaceleração mundial e à diminuição da capacidade de manobra do governo para estimular a economia, a retomada só deverá ocorrer de forma mais expressiva em 2015.

Nesta sexta-feira, segundo o IBGE, o PIB (Produto Interno Bruto), a soma dos bens e serviços produzidos pelo país, encerrou o 2º trimestre deste ano com alta de 1,5% em relação aos três meses imediatamente anteriores.

Na comparação com o 2º trimestre de 2012, o aumento foi de 3,3%.

Sob a ótica da produção, contribuíram para a retomada da economia brasileira a indústria (+2,0%) e a agropecuária (+3,9%). Já os serviços registraram uma ligeira alta (+0,8%).

Já do ponto de vista da demanda, a formação bruta de capital fixo (investimentos) cresceu 3,6%. Mas o consumo das famílias voltou a decepcionar, subindo apenas 0,3%.

Cenário adverso

Segundo o último boletim Focus, uma espécie de termômetro da avaliação de cerca de 100 instituições financeiras sobre os rumos da economia, o PIB deverá crescer 2,2% neste ano.

Mais otimista, a previsão do governo é de 2,5%.

Mesmo assim, ganha cada vez mais força entre os economistas a aposta de que o PIB deve chegar ao final do ano a um patamar inferior a 2%.

A taxa contrasta consideravelmente com a estimativa inicialmente feita pelo governo no ano passado. A previsão que constava no orçamento de 2013 enviado ao Congresso apontava um crescimento de 4,5% para a economia neste ano.

Ao longo dos meses, entretanto, o índice foi gradativamente reduzido. De 4,5%, caiu para 3,5%, depois para 3%, até chegar aos atuais 2,5%.

Segundo o economista André Perfeito, da corretora Gradual Investimentos, para que o PIB subisse 4,5%, o crescimento por trimestre teria de girar em torno de 2,1%. Foi considerado para o cálculo, feito a pedido da BBC Brasil, apenas o resultado do 1º trimestre, de 0,6%.

"A previsão inicial nunca será concretizada. Só para se ter uma ideia, o crescimento médio trimestral entre 2004 e 2007, considerado um dos melhores períodos para a economia brasileira, foi de 1,3%", afirmou.

Encruzilhada econômica

Apesar da alta do PIB de abril a junho deste ano, economistas veem com pessimismo o desempenho da economia no segundo semestre, especialmente de julho a setembro.

Para eles, o período refletirá uma atividade econômica mais fraca, em parte devido aos efeitos negativos da alta do dólar, diante da perspectiva de que os Estados Unidos reduzam os estímulos à economia.

"O dólar mais alto gera maior pressão inflacionária, o que encarece os produtos importados. Isso afeta a nossa cadeia produtiva, pois não importamos tantos bens de consumo final. Como a inflação já está próxima ao limite da meta determinada pelo governo, o Banco Central terá de invariavelmente subir os juros, o que tem um efeito negativo sobre o crescimento", explica Evaldo Alves, professor de economia da FGV-SP.

Além disso, os economistas destacam que fatores internos também tendem a forçar um recuo do PIB.

"Por um lado, as famílias estão com um nível de endividamento alto. Mais de 40% da renda já está comprometida com o pagamento de dívidas, o que afeta o consumo, até então o motor da nossa economia", diz José Márcio Camargo, professor de economia da PUC-Rio e economista-chefe da corretora Opus Investimento.

"Por outro lado, a indústria está com nível de estoques extremamente alto, já que o impulso consumista está menor".

"Além disso, o desemprego vem crescendo desde o início do ano, com exceção de julho, quando cedeu um pouco, enquanto que o rendimento do trabalhador está caindo".

Os economistas destacam ainda que há um "clima de incertezas" dos investidores sobre o Brasil.

Para eles, o país vive atualmente uma "encruzilhada econômica", pois a capacidade de manobra do governo para voltar a estimular a economia diminuiu.

"O governo não fez a lição de casa e seu campo de atuação está reduzido. Sem alternativas e com a inflação em alta, ele terá de conter gastos, o que afeta negativamente o crescimento", diz Otto Nogami, professor de economia do Insper.

"Além disso, os sinais que o governo emite ao setor privado não são positivos, especialmente na forma de condução da política. Há uma maior tendência ao intervencionismo, o que afugenta investimentos", acrescenta.

Emergentes

Um relatório divulgado recentemente pela área de inteligência da revista britânica The Economist aponta que o mundo crescerá menos neste ano (+2%), no pior desempenho desde 2009, quando os efeitos da crise financeira ainda eram fortemente sentidos.

Para o Brasil, a estimativa para o crescimento da economia foi revisada para baixo. Segundo a Economist, o país crescerá apenas 2% em 2013, um dos piores desempenhos entre os emergentes.

Segundo um levantamento do banco espanhol BBVA, que prevê uma alta de 2,3% no PIB brasileiro, o Brasil vai crescer menos, inclusive, do que seus vizinhos da América do Sul, como Argentina (+3%), Chile (+4,2%) e Peru (5,8%).

"Em que pese a diferença da economia brasileira em relação a de outros emergentes, isso mostra que a crise não é a única culpada pelo nosso mau desempenho. Trata-se, sobretudo, de um indicativo de que estamos perdendo vigor frente a outros emergentes", diz Evaldo Alves, da FGV-SP.