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Colunista vê 'guerra secreta' dos EUA contra Rússia em queda de preço do petróleo

17/10/2014 08h01

Até a metade de 2014, os países produtores de petróleo tinham bons motivos para se sentirem otimistas. Por quase quatro anos, o preço do produto se manteve estável, na casa dos US$ 110 por barril. Nos últimos meses, porém, o valor despencou e durante a semana parou na marca de US$ 81,40 --um valor 30% menor que em junho e o mais baixo desde 2010.

A queda no preço pode ser justificada pela desaceleração na demanda global por conta do esfriamento das economias europeias e da China, além do crescimento da produção nos Estados Unidos.

Mas há também o argumento de que se trata de uma queda de braço geopolítica: o jornalista Thomas L. Friedman, do "New York Times", alega que a queda nos preços interessa aos EUA e à Arábia Saudita por enfraquecer a Rússia e o Irã.

Os americanos divergem dos russos em várias frentes, em particular quanto às intervenções do regime de Vladimir Putin na Ucrânia. Já os sauditas veem o Irã como um rival regional, são países que concorrem em termos de influência política e religiosa numa região volátil como o Oriente Médio.

Os quatro países estão em blocos distintos também na questão da Síria - russos e iranianos se opõem a ações mais veementes contra o regime do presidente sírio, Bashar Assad.

Russos e iranianos têm o petróleo como um pilar de suas economias e a queda nos preços do barril cria forte pressões orçamentárias.

"Essa conjuntura faz com que a vida endureça para Rússia e Irã. Estamos falando de negócios, mas há também o sentimento de que estamos vendo uma guerra usando o petróleo", escreveu Friedman na terça-feira.

'Implosão' soviética

O jornalista lembra que a derrubada dos preços do petróleo foi identificada no passado como "arma secreta" que contribuiu para a fragmentação da União Soviética. Em 1985, uma decisão da Arábia Saudita, de aumentar dramaticamente sua produção de dois milhões para 10 bilhões de barris diários, derrubou o preço do barril de US$ 32 para US$ 10, levando junto a balança comercial soviética.

Há estimativas de que a flutuação tivesse custado aos cofres soviéticos o equivalente a US$ 20 bilhões anuais. Seis anos mais tarde, a união de 16 repúblicas "implodiu".

Friedman afirma que, desta vez, Moscou não vai à bancarrota. "Mas ninguém deve duvidar que a queda nos preços serve aos interesses de americanos e sauditas e atinge russos e iranianos".

Há, porém, quem não concorde com o argumento de "guerra secreta" de Friedman. Paul Richter, colunista do Los Angeles Times, não vê ações deliberadas por parte de Washington e Riad.

No entanto, Richter admite que a conjuntura econômica poderá ser determinante para obter concessões de russos e iranianos - estes poderiam se mostrar mais dispostos a superar o impasse nas negociações sobre seu programa nuclear.

No caso russo, ele vê tensões surgindo entre Putin e a elite russa.

"A pressão econômica não deverá fazer com que Putin altere seus esforço para manter forte influência sobre a Ucrânia, mas está criando problemas para o presidente em suas relações com a elite russa e a comunidade de negócios", escreve Richter.

Na Rússia, alguns setores da mídia também exploraram o cunho geopolítico da queda no preço do petróleo. Em editorial, o jornal Nezavisimaya Gazeta nesta semana criticou a dependência russa das receitas do petróleo e do gás natural, ao mesmo tempo em que vê uma operação deliberada de enfraquecimento.

"A Rússia é frequentemente comparada com um viciado em drogas por causa de sua dependência do petróleo. A queda nos preços tem o efeito de uma forte crise de abstinência. E tudo está sendo feito com o óbvio intuito de enfraquecer a economia russa e diminuir sua influência na arena global".