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Levy é confirmado para Fazenda, mas analistas questionam se terá autonomia

27/11/2014 15h43

Paula Adamo Idoeta e Luis Guilherme Barrucho

Da BBC Brasil, em Londres e São Paulo

Após semanas de expectativa, especulações e polêmicas, o governo confirmou nesta quinta-feira sua nova equipe econômica.

Joaquim Levy, ex-secretário do Tesouro Nacional, será o novo ministro da Fazenda no lugar de Guido Mantega no segundo mandato da presidente Dilma Rousseff.

Nelson Barbosa, que foi secretário-executivo da Fazenda, será o novo ministro do Planejamento. E o atual presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, deve permanecer no cargo.

Levy até agora administrava um dos braços do banco Bradesco, o Bradesco Asset Management, e teria sido escolhido depois de o presidente do mesmo banco, Luiz Carlos Trabuco, ter declinado o convite, segundo os jornais Folha de S. Paulo e Valor Econômico.

A escolha de seu nome provocou críticas nos setores do PT alinhados mais à esquerda.

Ex-aluno de Armínio Fraga - principal assessor econômico do PSDB durante a campanha presidencial - ele é visto como um adepto do liberalismo econômico, que prega uma menor intervenção do Estado na economia, linha criticada por Mantega.

Levy comandou o Tesouro na gestão do ex-ministro Antonio Palocci, durante o primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, quando o governo buscava conquistar a confiança dos mercados financeiros.

Engenheiro naval de formação, com mestrado e doutorado em economia pela Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, ele já deu aulas na FGV (Fundação Getúlio Vargas) e integrou os quadros do FMI (Fundo Monetário Internacional) e do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento).

Autonomia

Na avaliação de Felipe Salto, economista da Tendências Consultoria, a escolha de Levy é "um passo na direção certa", mas sua maior dificuldade será a "interlocução com a presidente".

"Levy conjuga a experiência no setor público à da iniciativa privada. É extremamente qualificado. Mas não é o salvador da pátria. Qual será o espaço político que ele terá para fazer as tão esperadas reformas? O governo estará disposto a lhe dar carta branca para tomar medidas duras mas necessárias para cobrir o rombo fiscal?", questiona.

Sergio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados, concorda.

"Levy é um economista excepcional. Mas há dúvidas sobre se terá autonomia em relação a presidente para fazer as reformas necessárias", afirma.

Já André Pereira Perfeito, economista-chefe do Gradual Investimentos, acredita que ainda é cedo para fazer essa avaliação.

"Devemos ter um novo secretário de Tesouro, ou de política econômica. O anúncio do ministro é a cereja do bolo, mas ainda não sabemos do bolo inteiro."

O novo ministro assumirá o cargo em meio a um cenário difícil: a inflação ronda o teto de 6,5% estabelecido pelo Banco Central, a economia está quase estagnada e o governo já admitiu que não deve atingir as metas fiscais deste ano.

Na tarde de sexta-feira, quando colunistas de sites e jornais já aventavam a possibilidade de Levy ser escolhido, o mercado reagiu positivamente: a bolsa fechou com forte alta, de 5,02%, e o dólar caiu 0,9% para R$ 2,52.

Para Perfeito, o motivo é que a escolha de um nome para a Fazenda reduz as incertezas do mercado quando à condução da economia.

"Com isso, o mercado para de especular e a volatilidade diminui", diz.

"Além disso, Levy parece ser capaz de traduzir programa de governo de Dilma para os agentes financeiros. Mas tem um desafio muito grande: cuidar da área fiscal sem deixar a economia retrair."

O anúncio oficial da equipe econômica era esperado para a última sexta-feira, mas foi adiado pelo Planalto.

Analistas acreditam que o governo queria primeiro aprovar o projeto de alteração da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) no Congresso.

A alteração é necessária pois, frente à queda da arrecadação e o aumento das despesas, o governo não conseguirá atingir a meta de superávit primário neste ano, a economia para pagar os juros da dívida.