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Com modelos de até R$ 70 mil, mercado das superbikes avança no Brasil

Ruth Costas

Da BBC Brasil, em São Paulo

08/01/2015 18h24Atualizada em 08/01/2015 19h46

A bicicleta costuma ser vista como um meio de transporte alternativo, mais barato que o carro. Mas parece ser cada vez maior o número de brasileiros dispostos a pagar caro pela sua 'magrela'.

Com modelos que custam de R$ 3.000 a até R$ 70 mil --o dobro de um carro popular--, o segmento de bicicletas "premium" está avançando rapidamente no Brasil, segundo fabricantes e associações do setor.

"Nos últimos cinco anos, as vendas de bikes de mais de R$ 3.000 aumentaram pelo menos 100%", diz Marcelo Maciel, Presidente da Aliança Bike, a Associação Brasileira do Setor de Bicicletas, para quem essa é uma das áreas mais promissoras do mercado de bicicletas.

Luis Felipe Praça, presidente da Trek no Brasil, tem uma estimativa semelhante. "Nossas vendas desse segmento premium devem ter crescido em média 20% ao ano nos últimos cinco anos."

A Trek opera no Brasil há cerca de um ano e é dela o modelo de R$ 70 mil, uma espécie de Ferrari das bikes.

Segundo a fabricante, o preço alto se justifica pela qualidade dos materiais - trata-se, segundo a Trek, de uma das bicicletas mais leves do mundo (4,6 kg) e de um modelo de altíssima performance.

"Também damos garantia ilimitada para nossos modelos. O que quer dizer que se, décadas depois de ter comprado a bicicleta, o cliente descobrir um problema de fábrica, fazemos a troca", diz Praça.

Para se ter uma base de comparação, os modelos mais simples de bicicleta podem custar de R$ 300 a R$ 600.

Praça admite que, em 2014, a estagnação econômica fez cair o número de unidades vendidas.

"Mas isso foi compensado pelo fato de o valor médio das bicicletas comercializadas ter crescido. Além disso, atribuímos tal queda a Copa e Eleições - em 2015 esperamos ter uma retomada das vendas em unidades."

Land Rover e BMW de olho nas bicicletas

Entre as marcas que fabricam bicicletas de luxo estão a Land Rover --que tem planos para trazer "em breve" para o Brasil alguns de seus modelos-- e a BMW, que hoje tem disponível para o mercado brasileiro três modelos, que vão de R$ 7.630 a R$ 18.850.

Segundo o diretor-executivo da Associação Brasileira dos Fabricantes de Bicicleta (Abraciclo), José Eduardo Gonçalves, o aumento do valor agregado das bicicletas é o que tem segurado o faturamento do setor como um todo.

Segundo a Abraciclo, nas últimas duas décadas, o número total de bicicletas vendidas no Brasil na realidade caiu 30%, enquanto o número de carros aumentou 157% e, o de motos, 1.400%.

De 1994 a 2013, as vendas de bicicleta passaram de 6 milhões de unidades para 4,3 milhões. E para 2014, embora os dados ainda não estejam fechados, a Abraciclo estima uma queda adicional de 10%.

"Ao longo dos anos as bicicletas perderam espaço para os carros e as motocicletas, mas por outro lado estamos vendendo bicicletas cada vez melhores, de maior valor agregado", diz Gonçalves.

Aumento na renda e novas tecnologias

Segundo as associações do setor, a expansão do segmento de bicicletas premium é impulsionada por vários fatores.

"Um dos principais deles talvez seja o aumento na renda dos brasileiros, que tem permitido que mais pessoas possam investir em uma bicicleta um pouco melhor", opina Gonçalves.

"Mesmo essas bicicletas mais caras são relativamente acessíveis se comparadas a um carro, por exemplo."

Outro fator importante seria o fato de a indústria ter incorporado novas tecnologias e avançado na provisão de produtos mais sofisticados e que atendem a demandas específicas.

Entre os modelos que se encaixam nesse segmento premium estão, por exemplo, as bicicletas elétricas e as dobráveis.

Também há os modelos levíssimos, feitos com materiais como titânio ou carbono, e aqueles que prometem aumentar a performance de quem participa de competições como esportista ou amador.

Para Maciel, da Aliança Bike, o vigor do mercado de superbikes também pode ser explicado pela expansão das ciclofaixas nas grandes cidades, o apelo do estilo de vida saudável e sustentável e o aumento da popularidade da bike como opção de esporte e lazer.

"As pessoas estão comprando bicicleta para usar, não para pendurar na garagem", diz Maciel.

"E tanto quem está começando a usar a bicicleta como meio de transporte quanto quem está adotando a bicicleta como opção de esporte e lazer está se dando conta de que vale a pena pagar mais para ter um produto de melhor qualidade e resistência."

Vale a pena comprar uma bike premium?

Para a cicloativista Renata Falzoni, porém, nem sempre vale a pena comprar uma bike premium.

"Quem pedala, quer pedalar coisa boa - e há muitos modelos que são caros porque têm muita tecnologia e oferecem conforto e performance. Mas também há bikes que custam muito por causa da marca, ou por terem um design estiloso", diz ela.

"Além disso, é preciso pensar no custo-benefício da compra. Você não precisa de uma bicicleta de altíssima performance se não for competir, por exemplo."

Para o fotógrafo Gabriel Cabral, o grande inconveniente de se comprar uma superbike é o risco de ela ser roubada.

"A questão é que se você compra uma bicicleta muito cara, não pode parar em qualquer lugar - tem uma preocupação a mais", opina.

Ciclista e apaixonado por bicicletas, Cabral foi roubado duas vezes e resolveu que vai investir o mínimo possível em sua bike.

"É claro que há uma diferença entre uma bicicleta de R$ 500 e uma de R$ 1.200", diz ele.

"A primeira pode ter peças importantes de plástico, pode ser que o pedal caia - enfim, é aquela bicicleta que as pessoas compram para usar pouco e que acaba enferrujando na garagem do prédio. Mas dá para ter uma ótima bike por menos de R$ 2 mil", opina.

Roubos impulsionam mercado de seguros

O medo de roubo tem impulsionado também um incipiente - mas promissor - mercado de seguros para o setor.

A Brasil Insurance, por exemplo, oferece seguros contra roubos de bicicletas desde 2008, mas foi nos últimos dois anos que a procura pelo produto explodiu.

Ana Badaró, diretora comercial da empresa, diz que o número de apólices cresceu de 300, em 2012, para 2.000, em 2014.

A empresa faz seguro de bicicletas que valem mais de R$ 3.000 e o valor médio das magrelas asseguradas seria de R$ 15 mil.

"Só do último ano para cá, o aumento no número de contratos foi de 50% e para o ano que vem esperamos uma alta de 30% a 40%", diz Badaró.

Leonardo Ferraz, da Neptunia Seguros, experimentou um crescimento semelhante da procura por seguros de bicicletas. "A alta foi da ordem de 50% nos últimos dois anos", diz.

Badaró conta que há até mesmo clientes que preferem segurar a bicicleta a segurar o carro.

"Em geral esses são parte do grupo de apaixonados por bikes, que têm carros que valem pouco ou que usam pouco", diz.