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Cidades brasileiras despencam em ranking de crescimento econômico

03/03/2015 06h21

Oito de 11 metrópoles brasileiras despencaram no ranking de crescimento econômico elaborado pelo centro de estudos Brookings Institution, dos Estados Unidos.

Este centro analisa anualmente o desempenho das 300 maiores economias metropolitanas do mundo com base na evolução do seu Produto Interno Bruto (PIB) per capita e da criação de empregos.

Salvador foi a cidade que mais perdeu posições, passando do 64º lugar em 2013 do estudo para 266º neste ano, com uma queda de 0,9% do PIB per capita e um aumento de 0,5% na taxa de emprego.

Porto Alegre foi a segunda cidade do país com a maior piora, ao passar do 158º para o 290º lugar. A capital gaúcha teve uma redução de 1,7% no PIB per capita e de 0,2% na taxa de emprego.

Além destas, São Paulo, Campinas, Brasília, Curitiba, Vitória e Fortaleza caíram no ranking. Já Rio de Janeiro, Recife, Belo Horizonte melhoraram de posição.

Mas, de forma geral, o desempenho das cidades do país presentes no estudo decepcionou no ano passado, mesmo os das três que galgaram posições.

A queda no PIB per capita foi quase uma constante entre as metrópoles brasileiras. Somente Recife, em 200º lugar, teve um ligeiro aumento, de 0,2%.

Reflexo

Segundo Jesus Trujillo, coautor do estudo, assim como as economias de maior crescimento obtiveram um bom resultado embaladas pelo bom desempenho da economia nacional, o resultado ruim das cidades do Brasil é um reflexo do mau momento pelo qual passa a economia do país.

"O ano de 2014 foi ruim para a economia brasileira. O menor crescimento chinês afetou o crescimento da América do Sul, especialmente o do Brasil. Além disso, a economia global vem numa trajetória de recuperação lenta desde a crise de 2008.

Por fim, a população cresceu mais do que o PIB, gerando um impacto negativo no PIB per capita", afirma o pesquisador.

"Ainda assim, sete das 11 cidades tiveram um crescimento maior do que o da economia nacional e continuarão a ter um papel importante para a performance da economia brasileira no futuro."

Para Antonio Carlos Porto Gonçalves, professor da Escola Brasileira de Economia e Finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o ano passado foi especialmente ruim para as economias metropolitanas por causa de sua dependência da produção industrial.

"No interior, o desempenho econômico foi melhor, porque as commodities estavam com um bom preço, mas vimos uma recessão de 4% na indústria brasileira, e também foi um ano ruim para exportação", afirma o economista.

"É um indicador de que a economia do Brasil não está bem."

O Rio de Janeiro obteve na melhor posição na lista entre as cidades do país, mas ainda assim ficou em apenas 162º lugar – 32 posições a mais do que no ano passado, quando estava em 194º. A cidade teve um aumento de 1,8% no emprego, mas sofreu uma redução de 0,2% no PIB per capita no último ano.

"O aumento da taxa de emprego foi a principal razão da melhora de posição do Rio no ranking, e isso ocorreu por causa dos setores de construção, serviço e turismo, com a Copa e as Olimpíadas, aumentando também o consumo", afirma Trujillo.

Mas Gonçalves, da FGV, acredita que a tendência é de piora na posição da capital fluminense no ranking.

"Houve muitas obras na cidade e isso emprega muita gente, mas é passageiro. Por isso, vai piorar no próximo ano, ainda mais com a crise em torno da Petrobras, que emprega muitas pessoas na cidade, e a suspensão de investimentos e a maior dificuldade da empresa em conseguir recursos", diz o economista.

Histórico

São Paulo e Campinas, dois dos mais importantes centros econômicos do país, ficaram nas últimas posições da lista.

Em 284º lugar, São Paulo não teve aumento nem redução do emprego entre 2013 e 2014. Entretanto, seu PIB per capita caiu 1,1%.

Campinas ficou em 291º lugar, a pior posição entre todas as metrópoles do Brasil. A cidade não teve variação na taxa de emprego, mas seu PIB per capita caiu 2,2% entre 2013 e 2014.

Trujillo, do Brookings Institution, acredita ser necessário analisar o histórico das cidades brasileiras no ranking para ter uma visão mais ampla de sua performance econômica.

No caso de São Paulo, por exemplo, a cidade teve o 95º melhor desempenho entre 2000 e 2014, com um aumento de 2,2% do emprego e de 1,9% no PIB per capita. Já entre 2009 e 2014, a capital paulista fica na 136ª posição.

"As cidades brasileiras passaram de forma geral por um crescimento impressionante desde o ano 2000, mas agora estão em um grupo de ritmo mais moderado, o que indica uma necessidade de buscar novas fontes de crescimento para a economia nacional, especialmente melhorando a produtividade", afirma Trujillo.

"Todos os indicadores indicam que a performance das cidades brasileiras em 2015 será bem similar ao deste ano, se não for pior."