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Acidente pode obrigar Lufthansa a rever estratégia de baixo custo

Daniela Fernandes

De Paris para a BBC Brasil

25/03/2015 18h10

O acidente com o avião da Germanwings – que caiu nos Alpes franceses na terça-feira com 150 pessoas a bordo – poderá levar a Lufthansa, proprietária da linha aérea, a rever sua estratégia de negócios.

Há dois anos, a Lufthansa decidiu transferir a maioria de seus voos de curta e média distâncias para a sua subsidiária de baixo custo, a Germanwings - com exceção dos voos que chegam e partem do aeroporto de Frankfurt.

Com a expansão das atividades em voos de baixo custo, a Lufthansa reforçou sua competitividade num setor dominado pelas empresas Rayanair e EasyJet.

A Germanwings passou a realizar voos para 130 destinos na Alemanha e para a maioria dos países europeus.

Mas o passo mais ambicioso da Lufthansa no segmento de voos de baixo custo está previsto para outubro próximo, com o lançamento de voos de longa distância, operados por outra subsidiária, a Eurowings.

Será a primeira vez que uma companhia aérea tradicional europeia passará a atuar no segmento de voos intercontinentais de baixo custo.

No início deste mês, a Lufthansa havia detalhado o lançamento dos voos de longa distância da Eurowings para destinos como Tailândia, Emirados Árabes e Caribe. A empresa havia anunciado também que pretendia expandir as rotas internacionais de baixo custo.

Marca única

Segundo especialistas do setor, no futuro, a Lufthansa pretendia fundir a Germanwings e a Eurowings em uma única marca do grupo.

"O acidente do A320 da Germanwings poderá levar a Lufthansa a rever sua estratégia de desenvolvimento dos voos de baixo custo", escreveu o jornal Le Monde em artigo assinado por Guy Dutheil, jornalista especializado no setor aéreo.

"O acidente poderá interromper abruptamente as ambições do grupo Lufthansa para sua jovem companhia de baixo custo", disse o Le Figaro.

O futuro da empresa de baixo custo dependerá dos resultados das investigações sobre as causas do acidente ocorrido na França.

Se forem constatados problemas técnicos, falhas humanas ou algum tipo de negligência em relação à segurança, a empresa poderá ter sua imagem afetada, desestimulando-a a expandir as operações de baixo custo para incluir voos de longa distância.

Mas mesmo antes do acidente, a Lufthansa já vinha enfrentando problemas com sua imagem. No ano passado, pilotos da Germanwings e da Lufthansa realizaram várias greves, que provocaram milhares de cancelamentos de voos e causaram prejuízos de cerca 160 milhões de euros ao grupo alemão.

Greves na Lufthansa são um evento raro. Os pilotos protestaram contra mudanças no sistema de aposentadoria e também contra a transferência de parte do pessoal para a empresa de baixo custo.

Em fevereiro passado, houve nova paralisação de pilotos da Germanwings. Além da questão da aposentadoria, as reivindicações também incluíam aumentos salariais.

'Alta qualidade'

As operações de baixo custo em voos de longa distância têm sido adotadas por grandes empresas europeias. A British Airways em parceria com a espanhola Iberia criou a empresa Vueling, e o grupo Air France-KLM criou a Transavia para esse tipo de operação.

A Germanwings, no entanto, é a primeira companhia de baixo custo a sofrer um acidente na Europa.

Criada em 2002, ela possui uma frota de cerca de 70 aviões (Airbus, da família A320) e tem a reputação de ser segura, segundo sites especializados do setor, como o Airline Ratings (que lhe atribuiu a nota máxima) ou o Securvol.

O avião que caiu nos Alpes, um Airbus A320, tinha 24 anos, tempo de utilização bem superior ao da média da frota da Germanwings, que não chega a 14 anos.

A idade média da frota da Lufthansa, maior companhia da Europa em relação ao número de passageiros transportados, é de 11,5 anos, segundo a empresa.

Thomas Winkelmann, diretor da Germanwings, declarou que o avião havia sido inspecionado por técnicos da Lufthansa na segunda-feira em Dusseldorf.

A última grande revisão técnica da aeronave, conforme ao manual da Airbus, havia ocorrido em 2013, disse Winkelmann.

Para especialistas, a idade do avião não representa necessariamente um problema.

"Todas as peças do avião têm data limite de utilização e têm de ser trocadas mesmo se estiverem em bom estado", diz o ex-piloto Jean Serrat.

"O setor de manutenção da Lufthansa é de altíssima qualidade", afirma Serrat.

De acordo com o consultor de aviação Gérald Feldzer, a Germanwings, mesmo sendo uma companhia de baixo custo, tem os mesmos critérios de segurança da Lufthansa.

"São critérios europeus e a companhia não pode se permitir o menor erro ou economias na manutenção", afirma Feldzer.

Mas, em 2012, a Lufthansa admitiu que um dos aviões da Germanwings escapou por pouco de um acidente em 2010.

Vapores de combustível intoxicaram um dos pilotos, que quase desmaiou. O comandante, equipado com uma máscara de oxigênio, conseguiu aterrissar o avião no aeroporto de Colônia, segundo o Le Monde.